Mundo ficciónIniciar sesiónCap 2- Forja dos sobreviventes- Parte 3
Da sombra da entrada, o homem de tapa-olho, Gust, observava com um sorriso enigmático, como se soubesse um segredo que mais ninguém ali partilhava. As portas do salão abriram, e uma falange de guerreiros entrou. As armaduras, marcadas pelos quatro sigilos Água, Terra, Vento e Fogo cintilavam à luz das tochas. Cada passo tinha como um veredito . À frente, vinha Luciel. Capa escura, peitoral branco refletindo o símbolo do trovão, cabelos loiros presos em coque, espada às costas . Seus olhos castanhos cortaram o salão com uma intensidade que até o vento parecia temer. Ele avançou até o centro. Não ergueu a voz, mas todos ouviram: — Crianças de Nerevia… devo pedir desculpas diretamente. Um silêncio pesado tomou o espaço. — Fui um dos responsáveis pela queda do seu reino. Como chefe do Exército dos Quatro Reinos e um dos Dez Grão-Mestres, tive que tomar decisões que pesaram mais que qualquer outra coisa. Havia sinais... indícios de que algo em Nerevia poderia desequilibrar o mundo. Algumas crianças se encolheram. Darius travou o maxilar com tanta força que os dentes doeram. Um calor subiu por seu peito, e ele fechou as mãos em punhos até as unhas cravarem na pele, mas permaneceu em silêncio. — Mentira! — explodiu um garoto. — Talvez queira acreditar nisso — respondeu Luciel, com calma absoluta. — Mas o mundo está em desequilíbrio. O que se quebrou não se recompõe sozinho. Antes que Luciel pudesse continuar, uma figura se destacou na delegação de soldados. O homem era alto, imponente, e sua armadura escura era adornada com uma capa marrom que exibia os quatro sigílos. No peitoral, um símbolo que fez o sangue de Darius gelar: uma rosa azul com espinhos . Os sussurros encheram o salão. Era o Rei Rhanzur de Stoneval Ele avançou, não para o centro, mas parou ao lado de Luciel. Então, para o choque dos soldados de Vórtex, Rhanzur "o líder do maior território" O herói que diziam ter "sangue de pedra" inclinou a cabeça levemente para as crianças . Não foi uma reverência completa, mas um sinal de submissão e respeito . — Os outros monarcas não puderam vir — disse Rhanzur, a voz grave e fria como a neve . — Mas eu me desloquei mais de 400 quilômetros porque precisava que ouvissem um Rei. Ele fez um gesto na direção de Luciel. — Juntamente com o líder do exército, Luciel , eu devo pedir desculpas em nome dos Três Reinos . A destruição de seu lar foi uma tragédia que não queríamos . Ele olhou para Darius, e seus olhos azuis e frios pareceram penetrá-lo. — Um rei não é um rei porque nasce rei. Ele se torna rei quando obtém o reconhecimento de seu povo . E com muito custo, eu obtive o meu. E o meu dever é proteger o Equilíbrio . Rhanzur respirou fundo, suas palavras caindo como martelos: — Por isso, Nerevia permanecerá um reino caído e inabitável. Durante esse tempo, vocês serão treinados e se tornarão soldados para os três reinos. Se quiserem se vingar, lutem. Se quiserem viver, lutem. Se quiserem provar que estávamos errados, lutem . Porque neste mundo cruel e real, os fracos não têm escolha. Apenas os fortes podem mudar o destino. Ele se virou para Luciel e assentiu, devolvendo-lhe o comando da sala. Luciel retomou a fala, sua voz cortando o silêncio tenso : — Alguns de vocês podem despertar um segundo elemento. Pouquíssimos o fazem. Mas há um poder acima de todos . O peitoral de Luciel relampejou quando ele moveu o ombro. O Relâmpago. A colisão perfeita de Yin e Yang . Uma faísca branca saltou da ponta da espada, estalando no ar antes de desaparecer. O eco ficou preso nas paredes, lembrando a força diante deles . — Esse é o poder que realmente muda o mundo — disse Luciel, controlando uma bola de energia na mão direita. — Amanhã, ao amanhecer, o treino começa. O futuro, se existir, dependerá de vocês — Zambo acrescentou, sério. — Até hoje, apenas dez pessoas no mundo despertaram este elemento especial. Eu sou um deles, assim como Mestre Zambo e o irmão da rainha de Vórtex. — Luciel completou. Darius permaneceu de cabeça baixa, absorvendo cada palavra. Raiva, dor, perda e solidão misturavam-se a uma centelha de esperança. Sabia que precisava ser forte; só o domínio do próprio Oryn e da mente permitiria vingança e mudança do mundo. Lentamente, Luciel se retirou. O cortejo de guerreiros abriu caminho, as armaduras reluzindo os símbolos dos quatro reinos. A noite chegou, e muitos permaneciam inquietos sobre o futuro. Darius estava encostado numa parede, observando as crianças menores. A maresia soprava forte, fazendo jus ao nome “País do Vento”, onde o Yang nunca parava de ressoar. Passos leves aproximaram-se, mas ele não levantou a cabeça. Alguém se sentou ao seu lado, em silêncio. Por um longo minuto, nenhum dos dois falou. — Minha casa ficava perto do cais. Dava para sentir o cheiro do mar da minha janela. Darius permaneceu em silêncio. Apenas pensou que menino intrometido queria ficar sozinho. — E você? — perguntou Lior, gentilmente, tentando puxar assunto já que ele não respondeu — Onde era a sua casa? Perto do castelo? O coração de Darius tropeçou. A mentira que César o obrigara a memorizar subiu-lhe à garganta, amarga como cinzas. — Eu… eu morava… perto, perto — murmurou, a voz baixa. — Meu irmão mais velho trabalhava na cozinha do castelo. Eu ficava por lá… ajudava. Lior assentiu, com um olhar cheio de empatia que fez Darius sentir-se ainda pior pela mentira. — Entendo. Então você viu tudo de perto — suspirou Lior. — Não importa. Castelo ou cozinha, a destruição levou tudo da mesma forma. Somos poucos dos que restaram para lembrar. Talvez porque sejamos do mesmo reino… mas acho que seremos grandes amigos. Ele estendeu a Darius um pequeno pedaço de pão seco. — Coma. Precisamos ficar fortes. Por todos eles. Eu pela minha vingança… e você vai encontrar algum motivo, eu sei. Darius hesitou, mas pegou o pão. Ele tinha objetivos “Vingança e reestruturação”, Mas guardaria só para si. A sua primeira ligação naquele novo mundo, a primeira amizade… começou com uma mentira, ao lado de alguém que o odiaria se soubesse quem ele realmente era. Engoliu o pão, que pareceu tão pesado quanto a coroa que jamais voltaria a usar.






