Estranhos

Saulo Prado

Angelina estava ali, sentada à minha frente, encolhida, olhando para as próprias mãos no colo. E mesmo assim... eu a queria, era insano, mas eu a queria.

- Não... - ela murmurou, quase para si mesma. - Mas também não quero que tudo que eu gosto... acabe.

Aquelas palavras me atingiram, por mais que houve indecisão, confusão. Não era só o tom, era o jeito como a voz dela vacilava, como se estivesse tentando segurar a própria alma com os dedos. Passei as mãos no rosto, tentando conter o turbilhão que se formava. Mas a tensão... meu corpo vibrava por ela, por causa dela.

Dava pra sentir o medo. A culpa. E isso me dilacerava.

- Eu não sou mais uma garotinha - ela continuou, e eu já sabia que vinha algo pesado. - Tenho filhos, contas, problemas. Tenho cicatrizes, Saulo. Me escondi por tanto que... agora, cada vez que tento dar um passo, eu travo. E não sabia como te contar, porque, no fundo, achei que você fosse embora. É um homem mais novo. Afinal, é mais fácil para o homem.

A
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