Como uma mãe

Angelina da Costa

Eu me sentia cercada.

Saulo na cozinha, Raul Junior no quarto, Ana Júlia sentada no sofá, nos observando com olhos minuciosos.

Os sinais estavam todos ali, espalhados no ar, como o cheiro de motel que ainda pairava na minha pele.

O relógio já tinha passado de qualquer limite aceitável para um turno de trabalho.

Não era mais fácil fingir.

E eu não sabia como dizer que... eu e Saulo não éramos apenas chefe e subordinada. Ele tinha acabado de estar comigo, dentro de mim, tocado a minha alma de uma maneira que ninguém nunca tocou.

Ele tinha dito que me daria tempo. Espaço. Mas agora estava ali, dentro da minha casa, com o corpo ainda colado de tensão e o olhar queimando as minhas costas a cada movimento que eu fazia.

Sentia seu desejo em silêncio, como um toque sem mãos, mas que me arrepiava.

- Estamos? - ele perguntou, como se desafiasse o óbvio. Ana Júlia já estava desconfiada.

Só enchi o seu copo de suco. Ele aceitou sem desviar os olhos dos meus.

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