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Capítulo 4 – Um Sussurro em Italiano

Narrado por Isabella

O quarto era bonito.

Amplo. Bem decorado. Lençóis brancos, cortinas de linho, um banheiro com mármore escuro.

Luxo. Conforto.

Tudo que qualquer mulher gostaria de ter.

Mas eu me sentia uma prisioneira.

Assim que a porta se fechou, desabei.

Me joguei na cama e chorei como uma criança perdida.

O travesseiro abafava meus soluços, mas nada podia conter a dor que queimava por dentro.

Meus dedos agarravam os lençóis com força.

A respiração falhava.

Minha garganta doía.

— Por quê...? — sussurrei. — Por que isso está acontecendo comigo...?

Olhei para o teto, buscando algo, qualquer coisa que me respondesse.

— O que eu fiz, Deus...?

— Eu amei... eu confiei... eu deixei tudo para viver um amor... e agora...

Agora eu sou tratada como um objeto.

Leiloada. Vendida.

Fui fiel. Fui dedicada. Fui esposa.

E mesmo assim... fui entregue como moeda de troca.

— Por quê...? — sussurrei novamente, já sem forças.

As lágrimas escorriam, silenciosas.

O travesseiro encharcado.

O peito, esmagado.

A alma... dilacerada.

Demorei a dormir.

Mas o corpo cansado cedeu.

E pela primeira vez em dias, dormi sem pesadelos.

Não porque estava em paz.

Mas porque o cansaço venceu até o medo.

---

A luz da manhã filtrava pelas cortinas quando alguém bateu na porta.

— Senhorita Isabella, a pequena Luna está acordada. O senhor Ares pediu que a senhora fosse ao quarto dela às sete em ponto.

Olhei para o relógio. Seis e cinquenta e três.

Engoli o nó na garganta, me levantei, lavei o rosto, prendi o cabelo.

Vesti um vestido leve que havia sido deixado sobre a poltrona — branco, simples, bonito.

Tentei respirar fundo.

“Você vai ser babá. Apenas isso”, repeti mentalmente.

Mas nem eu acreditava.

Fui guiada por uma mulher idosa, provavelmente a governanta.

Ela não disse muito, apenas caminhou em silêncio, os passos firmes sobre o assoalho escuro da mansão.

Parou diante de uma porta com detalhes dourados.

Abriu devagar.

— Está com ela. — disse, e saiu.

Entrei devagar. O quarto era encantador.

Papel de parede floral, brinquedos de pano, uma poltrona de amamentação.

E ali, no berço... ela.

Luna.

Me aproximei com cuidado.

Ela estava acordada, de olhinhos bem abertos, olhando para o teto.

Tinha bochechas redondas, a pele clara e os olhos... os olhos mais lindos que já vi.

Azuis como o céu de verão.

Ela me olhou.

Franziu a testa.

Fez um biquinho.

— Ei... calma... — sussurrei.

Estendi os braços, com o coração acelerado.

Ela me olhava, curiosa.

Nenhum choro.

Abaixei o tom de voz. Fui falando em italiano, sem nem perceber. Era instintivo.

— Piccola... sei così bella...

Ela esticou os bracinhos pra mim.

Me derreti inteira.

Peguei ela no colo e, para minha surpresa... ela não chorou.

Nada.

Nenhum som.

Só encostou o rostinho no meu ombro e ficou ali.

Quietinha.

Respirando devagar.

Me sentei na poltrona com ela no colo.

Afaguei seus cabelos finos, segurei sua mão pequena.

— Você sente falta da sua mãe, não é, Luna...? — murmurei.

Ela suspirou.

Quase como resposta.

— Eu também sinto falta de mim mesma.

Abracei ela com mais força.

E então, sem pensar, comecei a cantar.

Uma canção antiga.

Italiana.

Que minha mãe cantava pra mim.

Que eu cantava pra minha prima, Leandra, quando éramos pequenas.

“Ninna nanna, dormi piccina,

che la notte è già vicina...”

A voz saiu baixa.

Melódica.

Luna fechou os olhos.

Os cílios longos pousaram sobre a pele.

Ela relaxou nos meus braços.

Continuei cantando, balançando levemente.

“...tra le stelle, un sogno arriva,

e nel cuore si fa viva.”

Senti uma lágrima escorrer.

Dessa vez, de ternura.

De alguma paz silenciosa.

Talvez a primeira em muito tempo.

Continuei acariciando o cabelinho dela, enquanto ela dormia.

Não vi o tempo passar.

Só percebi que não estávamos sozinhas quando senti o peso de um olhar.

Levantei os olhos devagar.

Ares estava encostado na porta.

Imóvel.

O rosto sério.

Mas os olhos... os olhos estavam distantes.

Ele não dizia nada.

Só me observava.

Percebi que ele prestava atenção na música.

E foi ali que entendi.

Essa canção...

Essa maldita canção...

Ela conhecia a alma dele.

Continuei com a voz baixa.

Só mais um verso.

“Dormi, amore, non temere,

io sarò sempre il tuo volere...”

Então ele desviou o olhar.

Virou-se sem dizer uma palavra.

Saiu do quarto.

Fiquei em silêncio.

Luna ainda dormia nos meus braços.

Suspirei.

Ali, no meio do caos, da humilhação e da dor...

Eu tinha encontrado um pedaço de céu.

Mesmo que fosse emprestado.

Mesmo que estivesse prestes a se tornar um novo inferno.

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