Narrado por Besa
A notícia chegou como faca sem aviso: não por telefone, não por mensagem, mas por um homem que apareceu na minha sala com as botas sujas e a cara de quem traz morte. Vi o suor no pescoço dele antes de ouvir as palavras. Senti o chão inclinar um pouco. O resto veio em câmera lenta — a frase massa, o silêncio dos criados lá fora, o chiado da chaleira que ninguém desligou.
— O Don… foi morto — ele disse, como se as palavras ainda pudessem ser arrumadas para caber na minha garganta.
Havia um segundo de espaço entre o mundo antigo e o que vinha depois. O copo que eu segurava escorregou e se espatifou no chão; os estilhaços fizeram um arco de prata. A xícara de café vazou como se alguém tivesse aberto a tampa de um lago. Eu senti um frio tão cortante que pensei, por um milésimo de segundo, que o coração também poderia rachar.
— Onde? — perguntei, controlada, a voz um fio.
— Armadilha. San Pietro. O homem caiu. Há provas, senhora.
As palavras se empilharam e eu não deixei qu