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Capítulo 3 – Regras do Jogo

Narrado por Ares Marino

Ela entrou no meu escritório devagar, com os olhos vermelhos e o queixo erguido, como se quisesse fingir que não estava destruída por dentro. Aquele vestido vermelho grudado no corpo parecia mais um símbolo do que ela tinha acabado de viver: humilhação, medo, vergonha.

Mas o que ela ainda não sabia... era que tinha acabado de entrar num jogo muito maior. Um jogo onde ou você aprende a sobreviver, ou é engolido vivo.

Cruzei as pernas na poltrona de couro, encostei o cotovelo no braço da cadeira e a observei por longos segundos antes de falar. Ela não desviou os olhos. Tinha coragem. Uma coragem desesperada, talvez. Mas ainda assim, coragem.

— Você sabe quem eu sou? — perguntei, direto.

Ela hesitou por um momento. Mas depois assentiu com a cabeça, firme.

— Sei sim. Você é Ares Marino. Um dos três irmãos do inferno. O Dom da máfia italiana.

Sorri de lado. Pelo menos eu não teria que explicar nada.

— Ótimo. Isso me poupa tempo. Então também deve saber que eu não brinco. Tudo que eu faço tem um propósito. Inclusive te trazer pra cá.

Ela não respondeu. Só apertou os lábios com força. O orgulho dela ainda resistia. E isso era quase... bonito de ver.

— Tenho uma filha — continuei. — Sete meses. O nome dela é Luna.

Vi os olhos dela piscarem uma vez, surpresos. Não esperava isso. Mas não interrompi.

— A mãe dela morreu. E minha filha precisa de uma babá. É um trabalho. Pago bem. Vai ter um quarto só seu, comida, roupas novas, tudo que quiser.

Ela arqueou as sobrancelhas, desconfiada.

— Foi por isso que você me comprou? Pra cuidar da sua filha?

Dei uma risada baixa. Cínica.

— Não.

Levantei da poltrona e fui até a mesa de uísque. Enchi meu copo. Virei de uma vez.

Então me virei e encarei ela de novo.

— Eu te comprei porque senti desejo. Puro e simples. Desejo.

Ela é igual à minha esposa morta. Meu corpo reagiu antes da minha mente entender. E agora que entendi... eu simplesmente não me importo.

— E o que isso significa exatamente? — ela perguntou, a voz embargada.

Dei dois passos à frente.

— Significa que você vai cuidar da minha filha.

E vai se deitar comigo.

A expressão dela mudou. Os olhos se arregalaram. O queixo caiu. Ela recuou um passo, em choque.

— Eu não vou fazer isso.

Falei como se fosse óbvio:

— Tudo bem. Você tem duas opções. Pode se recusar. E eu te devolvo para o leilão.

A próxima venda pode ser para um velho decrépito. Um porco rico que vai te manter trancada num porão, te usando como brinquedo.

Ou...

Dei de ombros.

— Pode ficar aqui. Com proteção. Com dignidade. Com tudo que você precisar.

Mas, claro, seguindo as minhas regras.

Ela ficou muda por longos segundos. A respiração tremia. E, mesmo sem dizer uma palavra, os olhos dela estavam implorando para não ser devolvida. Vi o desespero. Vi o orgulho cedendo.

Então me aproximei devagar. Passei por ela. Abri a porta do escritório e disse apenas:

— Vamos.

Ela não se mexeu.

Fiquei em silêncio.

Esperei.

E então, escutei. Um sussurro. Quase inaudível:

— Não.

Eu vou ficar.

Fechei a porta. Virei devagar.

Ela continuava de costas pra mim, as lágrimas escorrendo, mas a cabeça erguida.

Me aproximei. Devagar.

Encostei minha mão no ombro dela e empurrei seu cabelo para o lado, expondo a pele do pescoço. E ali estava.

Um sinal.

Aquele maldito sinal de nascença. Pequeno. Oval. Do mesmo lado que Leandra tinha.

Minha respiração travou.

Meu coração deu um pulo no peito.

Fiquei imóvel por segundos. O tempo parecia ter parado.

Então murmurei, baixo:

— Fala mais sobre sua família.

Ela virou o rosto devagar, sem entender.

— Minha... família?

Assenti.

— Seus pais. De onde você vem?

— Meus pais morreram num acidente. Fui criada pela tia. Sou filha única.

— Qual seu sobrenome completo?

Ela hesitou. E então disse:

— Isabella Bianchi.

Travei.

Bianchi.

Leandra... Leandra também era Bianchi.

— Você conhecia alguma Leandra Bianchi? — perguntei, controlando a voz.

Ela assentiu de leve.

— Sim. Leandra era minha prima. Crescemos juntas na infância, mas depois nos afastamos. Ela se mudou, casou... minha tia sempre dizia que ela tinha ido viver com um homem perigoso. Eu nunca mais tive notícias.

Afastei-me um passo.

Olhei para o chão.

Era verdade.

A vida tinha me colocado diante da prima de Leandra.

A mulher que parecia uma cópia perfeita da minha esposa morta... era da mesma família.

Coincidência? Loucura?

Não sei.

Mas não vou ignorar.

Voltei a encará-la.

— Você vai ter proteção aqui.

Vai ter tudo do bom e do melhor.

Mas você vai seguir minhas regras.

Você será minha. Da forma que eu quiser.

E eu vou te proteger como protegiria qualquer coisa que fosse minha.

Ela me olhou, ainda desconfiada. Mas dessa vez, mais rendida.

— Eu vou providenciar um divórcio formal entre você e aquele desgraçado.

Não quero que ele apareça aqui tentando te reivindicar.

Ela soltou uma risada amarga.

— Você acha que meu marido vai vir atrás de mim? Depois de me vender como se eu fosse um objeto?

Até parece.

Aquele desgraçado nunca se importou comigo.

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

Ela completou:

— Sem contar que você...

Você é Ares Marino.

Ninguém ousaria te desafiar.

Vocês e seus irmãos dominam Nova York.

Assenti. Mas permaneci sério.

— Mesmo assim, prefiro prevenir.

Traidores sempre acham que têm direito de voltar.

E eu gosto de deixar as regras claras.

Fui até a janela. Cruzei os braços. A voz saiu baixa:

— Amanhã você começa a cuidar da minha filha.

Luna acorda às seis. Você vai ser apresentada a ela às sete.

— E quanto ao resto? — ela perguntou. A voz fraca, como se odiasse fazer aquela pergunta.

Me virei. A encarei nos olhos.

— Os afazeres na minha cama também começam amanhã.

Se prepare.

Ela engoliu seco. Não respondeu.

Apenas assentiu.

Me aproximei mais uma vez, olhei fundo nos olhos dela e disse:

— Agora pode ir para o seu quarto. Descanse.

Ela virou de costas e foi.

Passos lentos. Silenciosos.

Quando a porta se fechou, me sentei de novo na poltrona.

A mão no queixo. A mente rodando.

Isabella Bianchi.

Prima de Leandra.

Idêntica.

Coincidência?

Ou loucura?

Talvez... as duas coisas.

Ou talvez o destino.

Um aviso do inferno... ou um presente envenenado do próprio diabo.

Mas uma coisa era certa:

Agora ela era minha.

E ninguém ia tirá-la de mim.

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