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Capítulo 5 – O Som da Maldade do Destino

Narrado por Ares Marino

Ela cantava.

E o mundo parou.

Eu estava parado na porta do quarto, observando, sem ser notado, com os punhos fechados e o coração numa corda bamba entre o passado e o presente.

Isabella.

A mulher que eu comprei.

A mulher que parecia ter saído das cinzas da minha esposa morta.

Ela segurava minha filha nos braços... e cantava a mesma canção que Leandra cantava para Luna dormir.

As mesmas palavras.

A mesma melodia em italiano.

A mesma doçura na voz.

Meus pés congelaram no chão.

Minha respiração ficou presa na garganta.

“Ninna nanna, dormi piccina...”

Cada sílaba da música era como uma faca.

Cortava devagar.

Abria feridas que eu tinha enterrado sob toneladas de frieza e silêncio.

Leandra.

A minha Leandra.

Ela cantava essa canção toda noite pra Luna.

Mesmo grávida, mesmo cansada... ela sentava naquela mesma poltrona, com a mão na barriga, e cantava baixinho.

Dizia que queria que nossa filha soubesse que o mundo podia ser cruel, mas que no colo dela sempre haveria abrigo.

Agora, essa mulher...

Essa mulher com os mesmos traços.

Com a mesma voz.

Com o mesmo sangue...

Ela estava ali, embalando Luna como se fosse dela.

E minha filha...

Minha filha estava calma.

Dormia como não dormia há semanas.

Desde que Leandra morreu, Luna chorava o tempo todo.

Não comia direito.

Acordava no meio da noite.

Nem mesmo as babás mais experientes conseguiam acalmá-la.

Mas Isabella...

Ela chegou e bastou um toque.

Um colo.

Uma canção.

E minha filha... se entregou à paz.

Fui eu quem saiu do quarto.

Não por fraqueza.

Mas porque... eu ia perder o controle.

---

Entrei no escritório e fechei a porta com força.

Joguei o copo de uísque na parede.

Os estilhaços se espalharam pelo chão como se estivessem me refletindo em pedaços.

— Que merda é essa...? — sussurrei.

Andei de um lado pro outro, com as mãos nos cabelos, o peito arfando.

Eu não era fraco.

Não podia ser.

Mas ela... Isabella...

Ela estava mexendo com tudo que eu enterrei.

Fui até a gaveta. Peguei a foto.

Leandra, sorrindo, segurando Luna recém-nascida.

O sorriso mais bonito que eu já vi.

O olhar que me acalmava quando o mundo inteiro queria me destruir.

Isabella tinha o mesmo olhar.

A mesma doçura.

A mesma força escondida atrás da fragilidade.

Mas ela não era Leandra.

Ela era uma mulher vendida.

Um pedaço do passado que o destino jogou na minha frente, talvez como punição...

Ou como armadilha.

E o pior?

Eu desejei ela.

Não foi só compaixão.

Não foi só semelhança.

Foi físico.

Cru.

Primitivo.

Naquele leilão, quando ela apareceu com aquele vestido vermelho... meu corpo reagiu.

Minha mente congelou.

Mas o meu sangue... ferveu.

E agora, aqui estou.

Preso.

Envolvido.

E à beira de cruzar linhas que jurei nunca mais atravessar.

---

Alguém bateu na porta. Era Domenico, meu braço direito.

— Está tudo bem? — ele perguntou ao ver os cacos no chão.

— Está. Saia.

Ele hesitou, mas saiu.

Todos sabem: quando eu me fecho, ninguém insiste.

Ninguém quer ver o que vem depois.

---

Parei diante da lareira.

Aquela mansão era fria, mesmo com o fogo aceso.

Leandra dava calor a esse lugar.

Agora, Isabella estava acendendo outras chamas.

E eu não sabia se queria apagá-las... ou deixá-las me queimar por completo.

Fechei os olhos.

Lembrei do som da voz dela cantando.

Do jeito como ela segurou Luna.

Da lágrima que caiu do seu rosto enquanto sorria olhando pra minha filha.

Ela tem um bom coração.

Dá pra ver.

Mesmo depois de tudo que passou, mesmo depois de ter sido vendida, traída, humilhada...

Ela ainda conseguiu sorrir.

Conseguiu abraçar uma criança que não era dela.

E cantar.

Como se ainda houvesse alguma bondade no mundo.

Leandra também era assim.

Ela acreditava nas pessoas.

Acreditava em mim.

Mesmo quando eu mesmo não acreditava.

Isabella...

Ela me assusta.

Porque ela é viva demais.

Real demais.

E eu não posso me permitir sentir de novo.

Sentir é fraqueza.

E fraqueza custa vidas.

---

Peguei o celular e liguei para o advogado.

— Quero o divórcio da Isabella com o marido registrado oficialmente.

— Vai ser difícil. A assinatura dele precisa...

— Falsifique.

— Ares...

— Eu disse falsifique. Eu assumo a responsabilidade.

Desliguei antes que ele respondesse.

Não ia deixar aquele desgraçado sequer pensar em aparecer.

Isabella é minha.

E isso é definitivo.

---

Horas depois, fui até o quarto de Luna.

Isabella ainda estava lá.

A bebê dormia em seus braços, enquanto ela cantarolava baixinho.

Os olhos dela estavam inchados, mas havia paz no rosto.

Ela olhou pra mim, assustada.

— Eu... eu ia colocá-la no berço agora... ela dormiu no meu colo...

Fiz que sim com a cabeça.

— Pode continuar. Ela precisa disso.

Fiquei ali.

Parado.

Sem dizer mais nada.

E então, quando Isabella voltou a cantar...

Fechei os olhos.

A dor voltou.

Mas, dessa vez...

Veio com uma estranha sensação de vida.

E isso, talvez, fosse o mais perigoso de tudo.

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