O eco das palavras “Eu te amo”, disparadas por lábios que não conheciam seu dono, ainda reverberava no ar. Leo me segurava com força possessiva e desesperada, seus olhos vermelhos queimando um buraco na minha alma. Era um amor fabricado das histórias que eu lera durante seu coma, mas a intensidade era real. E assustadora.
Antes que eu pudesse reagir, ele se moveu. Virou, carregando-me com facilidade perturbadora como se eu fosse um volume frágil. Seus passos ecoaram no assoalho antigo enquanto atravessava o corredor principal, flanqueado por paredes infinitas de livros. A luz fraca projetava sombras dançantes. Ele não me levou para os quartos. Dirigiu-se à sala de estar, dominada por uma enorme lareira de pedra fria. Com um cuidado que contrastava com o fogo nos seus olhos, ajoelhou-se e me depositou suavemente no tapete espesso diante da lareira vazia. A lã áspera tocou minha pele. Eu ainda tremia, o choque minando qualquer resistência. Fiquei sentada, apoiada nas mãos, olhando para ele. Ele se ajoelhou na minha frente, tão perto que seu calor era uma presença física. Seus olhos percorreram meu corpo com fome avassaladora. — Elysa… — O nome saiu como um suspiro rouco. Sua mão pousou com peso possessivo na minha coxa, acima do joelho. A palma quente atravessou o tecido. — Quero… fazer aquilo de novo. — Inclinou-se, fôlego quente atingindo meu pescoço. — Como antes. Sob as estrelas pintadas… no tapete… Deus. Ele se referia à cena íntima que eu lera do livro, adotada como realidade. O constrangimento deu lugar ao pânico. — Leo, não! — Recuei. — Você acabou de acordar! Está fraco, confuso… Precisa descansar. Se alimentar. Isso… não é real. É a confusão… Ele ignorou. A rejeição acendeu uma faísca mais profunda. Um rosnado escapou-lhe. A mão na minha coxa apertou com possessividade. Seu rosto desceu, enterrando-se na curva entre minha coxa e quadril, respiração úmida atingindo minha pele através do tecido. Eu congelei. Seus lábios encontraram a parte interna da coxa – um beijo lento, experimental, cheio de intenção. A barba por fazer arranhou. — Leo… para… — Sussurrei, voz trêmula. Ele não parou. Seus beijos subiram. Lentamente. Deliberadamente. Cada toque na pele macia da coxa interna era um passo mais perigoso. A outra mão deslizou por minha lateral, contornou minha cintura, puxando-me para mais perto, negando fuga. Seus olhos fecharam-se, concentrados na exploração guiada pelo fantasma de uma intimidade inexistente. O ar escapou dos meus pulmões num gemido sufocado – medo, choque, excitação involuntária que me encheu de vergonha. A imagem do meu pai, da arma, piscou, ofuscada pelo perigo imediato. Ele estava chegando lá. O calor do seu hálito, o peso da mão na minha cintura… Era demais. O instinto de sobrevivência explodiu. Empurrei seus ombros com força. — PARA! — Gritei, pânico genuíno ecoando nas estantes. Leo ergueu o rosto, surpreso. Olhos vermelhos vítreos, ofuscados por desejo e confusão. Ofegava, lábios úmidos. — Por quê? — Rosnou ferido. — Você é minha… Eu te amo… Quero você… agora. A afirmação possessiva deu-me calafrios. Ele realmente acreditava na fantasia. E essa crença era o maior perigo. Respirei fundo, controlando o tremor. Precisava de tempo. Precisava acalmá-lo. — Eu sei, Leo… — Mentira descarada, em voz suave. — Eu… também quero. Mas… — Olhei para seu rosto tenso. — Olha pra você. Mal consegue ficar de pé. Está pálido. Tremendo. — Era verdade; suor escorria por sua têmpora. — Você precisa se recuperar. Fortalecer. — Coloquei uma mão trêmula no seu rosto. Ele estremeceu, mas não recuou. Olhos perscrutando os meus. — Se a gente fizer… aquilo… agora, com você tão fraco… — Fiz careta de preocupação. — Pode ser perigoso. Pra você. Não quero que se machuque. Ele hesitou. Fúria deu lugar à dúvida. A lógica tosca, apoiada na fraqueza, penetrou. — Perigoso? — repetiu, voz mais fraca. — Muito — insisti, acariciando levemente sua face. — Precisamos esperar. Só um pouco. Até você estar mais forte. — Inspirei. — Que tal… um banho? Quente, para relaxar. Depois… jantamos. Algo reforçado. — A ideia da comida distraiu-o. — E depois… a gente vê. Com calma. Com… força. Ficou imóvel por segundos, olhos vasculhando os meus. Tensão palpável, desejo ainda esticado. Mas a fraqueza era inegável, e a promessa vaga pesou. Lentamente, a pressão na minha cintura diminuiu. Não soltou, mas afrouxou. Recuou alguns centímetros. A fera contida. Por enquanto. — Banho… — murmurou. — Jantar… — Olhos ardiam, mas com centelha de aceitação temporária. — Sim — confirmei, aliviada. — Vou te mostrar. — Tentei levantar, pernas moles. Ele reagiu imediatamente. Mãos fortes me levantaram, segurando firme pelos braços, corpo uma coluna quente ao meu lado. Olhos fixos nos meus. — Depois… — disse, palavra como promessa carregada, ameaça adiada. — Você prometeu. Frio percorreu minha espinha. Eu prometera. E Leo parecia o tipo de homem que cobraria a dívida. Com juros. — Depois — repeti, sussurro seco. Preço da trégua. Guiando-o pelas estantes – ele agarrado ao meu braço – em direção ao banheiro, senti o peso do seu olhar e o eco da demanda. O banho era um interlúdio. O jantar, um adiamento.