O som do rabecão afastando-se na estrada de terra foi um alívio doente. Dante partira como chegara: uma tempestade de implicações. Na soleira da porta, após um adeus formal que escondia garras, ele lançara a última farpa:
“Até amanhã, Leo. Estarei ansioso para… acompanhar seu progresso.” O sorriso foi uma lâmina. “Não decepcione minha filha. Sabemos ambos o preço da decepção nesta família.”
A porta fechou-se, mas a ameaça permaneceu, pairando como a fumaça do jantar. Eu tremia ainda, o gosto ácido do vômito e do medo na boca, as imagens do cervo abatido e da carne rosada martelando meus pensamentos. Leo estava parado no centro da sala, sua silhueta tensa contra a penumbra. O peso do que acontecera, do que fora dito, do que estava por vir, era insuportável.
Voltamos à mesa desarrumada, aos pratos com restos da carnificina, ao ar empesteado de sangue e vinho. A sujeira me repugnava, mas a necessidade de falar era maior.
— Leo… — minha voz