Narrado por Zalea Baranov
Hoje, o dia havia acordado cinzento. Estava pálido, sem cor, como se o céu tivesse se despido em luto só para me receber. Havia algo de ancestral naquele ar — uma melancolia que se infiltrava pelas costuras da pele e se assentava nos ossos como poeira de tempos passados.
Desde que voltei para casa, não tive coragem de sair. Era como se o mundo lá fora exigisse uma força que eu ainda não conseguia reunir. Mas agora, com a minha barriga começando a apontar, com a vida crescendo silenciosamente dentro de mim, senti uma necessidade cruel: a de me desconectar — ou talvez me conectar. Depende do ponto de vista.
Falei sobre isso com Leonid algumas vezes. Ele sempre ouvia em silêncio, com aquele olhar que compreendia sem invadir. Mas eu nunca havia tido coragem de ir. Até hoje.
A estrada até o velho cemitério era estreita e coberta por um véu de folhas secas. O carro parou rente ao portão enferrujado. Leonid ficou ali, sentado ao volante, observando-me de longe com