Filho do temido Don Antony, Vinícius Strondda herdou o sangue frio do pai, só que nunca aprendeu a lidar com algo que não pudesse controlar. E Lucia Bianchi era exatamente isso: indomável, corajosa, e capaz de despertá-lo como nenhuma outra mulher. Ela não tem medo do seu olhar. Não se cala diante das suas ordens, mas carrega cicatrizes que gritam segredos, e que podem destruir ambos se forem revelados. Ele jurou que ninguém a teria. Ela jurou que jamais seria de um homem como ele. Entre amor e ódio, nasce um vínculo tão perigoso quanto proibido. "Você é a minha maior fraqueza, Lucia… e eu não sei se vou te salvar ou te destruir.”
Ler maisCapítulo 1
Vinícius Strondda A notificação vibrou no celular em cima da mesa de vidro. Peguei o aparelho sem pressa, com a taça de vinho na outra mão, os olhos ainda voltados para o jardim do palazzo. Abri o vídeo. Demorei alguns segundos para entender. Minha noiva — a mesma que o conselho tinha me prometido desde moleque — estava deitada na cama, gemendo. Mas não era meu nome que ela chamava. Era o de um maledetto capo. Trinquei o maxilar. O cristal da taça quase estourou nos meus dedos. O vídeo acabou, mas a imagem dela continuava queimando dentro da minha cabeça. Essa puttana jurava que seria a esposa perfeita para o herdeiro Strondda, enquanto se abria para qualquer um que tivesse coragem de desafiar meu sobrenome. No mesmo instante, a porta do reduto abriu sem ninguém bater. Maicon, meu tio e consigliere do meu pai, entrou como se a sala fosse dele. — O conselho decidiu que chegou a hora, Vinícius. — Falou direto, cruzando os braços. — Assim que seu pai voltar da viagem, quer a resposta: você vai assumir o posto de Don ou vai continuar agindo como se não fosse o herdeiro da família Strondda? Soltei um riso curto, sem humor. — “Assumir” não é o problema, tio. O problema é a condição ridícula que eles colocaram pra isso. — Casamento? — Ele assentiu, como quem repete uma sentença. — A tradição é clara. Precisa estar casado antes de ser nomeado Don, oficialmente. Mostrei a tela do celular para ele. O vídeo ainda estava parado na imagem mais nojenta possível. A feição dele mudou imediatamente. — Essa é a tradição que querem pra mim? Eu nunca vou casar com essa vadia. Meu pai derrubou um aliado por tentar mandar nele, e agora querem me forçar a usar uma aliança de uma puttana? — Não estamos falando de qualquer casamento. — Maicon se aproximou, apoiando as mãos na mesa. — É estratégico, algo político. Eu me casei por uma ordem do seu pai. Olha só pra mim hoje... Estou ótimo assim. Olhei para ele e bebi mais um gole. — Estratégico pra eles, bom pra você, talvez. Pra mim, é só uma armadilha. Maicon desviou o olhar, engolindo seco. — Ela está no jardim, esperando para colocar a aliança oficial no dedo porque sabe que seu pai está pra chegar. Deixei a taça sobre a mesa e fechei o casaco preto. — Então vamos acabar logo com isso. --- O sol da manhã iluminava as rosas vermelhas alinhadas quando atravessei o corredor e cheguei ao jardim. Uma mesa comprida, meia dúzia de homens de terno, e— minha “noiva” — levantou-se com o sorriso ensaiado e o brilho de quem achava que me enganava. Um dos acionistas mais velhos e tio da maledetta, se ergueu antes mesmo que eu chegasse. — Finalmente, o princeso herdeiro resolveu aparecer. Achei que fosse deixar os negócios da famiglia para homens de verdade. O jardim inteiro pareceu prender a respiração. Parei a menos de um metro dele. — O que você disse? — Disse que, se não tem coragem de seguir as regras, não merece a cadeira que seu pai vai deixar. Fica enrolando pra casar. Imagino o resto. Sorri de canto. A mão já estava na 357. Meu disparo ecoou seco. O corpo dele tombou para trás, derrubando a cadeira. Ninguém gritou. Todos sabiam: aqui era território do Don. Se meu pai não estava, eu mandava. Guardei a pistola, limpei a mão na lapela do terno. — Que sirva de exemplo pra qualquer maledetto. Principalmente os traidores. Não é, figlia de puttana? Passei por cima do cadáver e caminhei até minha noiva. — Pensou que eu nunca descobriria? Ela ainda sorria nervosa, tentando disfarçar o pânico. — Vinícius… eu posso explicar… Encostei a arma no peito dela e curvei o rosto bem perto, o suficiente para que apenas os mais próximos ouvissem. — Explicar o quê? Como o perfume do capo rival ficou grudado na sua pele? Ou como você gemeu o nome dele enquanto deveria guardar o meu? O sorriso dela morreu na hora, a cor esvaiu do rosto. Os acionistas se entreolharam em silêncio, entendendo o que eu já sabia. — Não… não é o que você pensa… — gaguejou, os olhos marejados. — Eu posso explicar?! — Pode, no inferno. De preferência para o diavolo. Atirei. O vestido branco ficou manchado de vermelho. O corpo caiu sobre as rosas. O silêncio foi total. Até o vento parou. É claro que eu não deixaria pra depois. Aprendi desde criança... Lugar de traidor é queimando no inferno com o diavolo. --- Foi então que percebi o movimento no canto do jardim. Uma mulher corria pelo gramado lateral, contornando a fonte. Calça justa preta, blusa simples, coque bagunçado com mechas escuras e bem vermelhas escapando. Não era do conselho. Não era convidada. — Quem é aquela? — perguntei baixo a Maicon, sem tirar os olhos dela. — Não faço ideia. Com tanto monitoramento, já deveria estar morta. Ele puxou a arma, mas segurei seu braço. — Não. Ainda — ele ficou me olhando. A intrusa parou um instante para respirar, apoiando as mãos nos joelhos, sem perceber que era observada. — Tragam ela pra mim. — Ordenei. VDois soldados se afastaram da mesa e cruzaram o gramado. A mulher percebeu tarde demais e tentou fugir, mas foi agarrada pelo braço. Se debateu, chutou, xingou, mas foi arrastada até mim. — ME SOLTEM! EU NÃO FIZ NADA! — gritou. Quando parou diante de mim, seus olhos verdes me acertaram em cheio. Estava com raiva, não medo. — Soltem. — Falei baixo, tirando a 357 do bolso e lustrando no tecido da roupa. — O que acha que está fazendo? — ela cuspiu as palavras, ofegante. Dei um passo à frente, estudando o rosto delicado. — Garantindo que ninguém entra no meu território e sai vivo. — Ela olhou para todos os lados. — Eu só estava correndo. — A voz dela tremia de fúria, não de pavor. Inclinei a cabeça, meio sorriso surgindo. — Odeio mentirosos. — Empurrei-a contra uma árvore, prendendo seu braço. — Tem um minuto pra me convencer a te deixar viver. — Está louco? Eu só fugi de um cara! — Perdeu alguns segundos. Seja mais eficiente. Ela respirou fundo, os olhos faiscando. — Pulei seu muro porque é o mais alto. Achei que ninguém notaria. Só isso. É só fingir que não viu e me deixar ir embora. Passei a mão pelo corpo dela, firme, verificando se não carregava arma. — Que ragazza... — sussurrei. Alisei desde os braços até a bunda, cintura, bunda, coxas. Mamamia. Uma mulher dessas não passa despercebida em lugar nenhum. — Me solta! Me solta! — ela gritava, mas nem ouvi o que dizia. Eu só estava verificando se estava armada, mas essa puttana me deixou excitado. — Mamamia. Ela tinha a bunda farta, cheguei até as coxas grossas. — Qual seu nome? Idade? Estado civil? — disparei as perguntas. — É... Eu... — VAMOS PORRA! DIGA! — Lucia Bianchi. Vinte e quatro. Italiana. — É solteira? — ela pareceu pensar. — Sim. Sorri de canto. — Agora não é mais. Arrastei-a pelo braço e a entreguei para meu tio. — Prendam ela. Se querem casamento, vai ser assim. A noiva vai ficar presa. E eu escolho as regras. Ela começou a espernear. — Não! Eu não posso! Não vou casar! Virei as costas sem olhar. O conselho estava em choque, o jardim coberto de sangue, e eu já tinha decidido. Meu tio se aproximou e perguntou: — Não perguntou se é virgem? — Não. Tanto faz. Não sei se vou esperar até a cerimônia. — Merda! Seu pai vai nos matar. — Foda-se. Se o preço para ser Don era uma esposa, que fosse a intrusa de olhos verdes que teve a ousadia de invadir meu território. Um Strondda não pede permissão. Ele toma. — Me dêem licença... Vou verificar minha noiva de perto...Capítulo 7 Vinícius Strondda Saí do quarto e fechei a porta devagar, sem estrondo. Diferente de todas as outras vezes em que saía de algum lugar com raiva, agora eu estava… confuso? Pela primeira vez. Eu sempre soube o que fazer, sempre segui à risca os conselhos do Don, meu pai. Sempre mantive as rédeas da minha vida, dos meus homens, dos meus negócios. Mas aquela ragazza… Dio santo… ela não cabia em nenhuma das minhas regras. Lucia me irritava, me desafiava, me afrontava sem medo das consequências. Mas ao mesmo tempo… o choro dela ainda ecoava nos meus ouvidos, como se tivesse cavado espaço dentro do meu peito. Raiva e compaixão misturadas. E, acima de tudo, um desejo insano que me consumia toda vez que eu a encarava. Atravessei o corredor até o escritório de meu pai, abri a porta e deixei que a escuridão me engolisse. Acendi apenas o abajur da mesa. O silêncio da sala era pesado, mas familiar. Peguei uma garrafa de vinho e servi a taça quase até a borda, tentando afast
Capítulo 6 Vinícius Strondda Lucia caminhou até o banheiro em silêncio. O corpo ainda trêmulo, os pés descalços contra o mármore. Eu não disse nada, apenas encostei na parede do quarto, tirando devagar os sapatos. Puxei o cobre-leito da cama com um gesto impaciente, jogando-o de lado. A raiva ainda latejava nas têmporas, mas também havia um prazer doente em saber que ela não tinha saída. Abri um pouco a porta do banheiro para conferir. O som da água ecoava. O vapor subia pelo ar. Ela estava lá dentro, mas… estranhamente quieta. — Lucia… — chamei, com a voz baixa, carregada de autoridade. — Não me faça esperar. Seja rápida. Silêncio. Entrei de uma vez, os passos firmes no chão. Foi quando percebi: a janela lateral estava entreaberta, cortina balançando com o vento da noite. A banheira ainda cheia. Mas Lucia não estava lá. O sangue subiu como fogo. — Maledetta ragazza… — rosnei, correndo até a janela. E lá estava ela. Tentava descer pelo beiral, enrolada apenas
Capítulo 5 Vinícius Strondda Eu estava parado, esperando. O silêncio dela me devorava mais que qualquer resposta. O corpo nu diante de mim era uma afronta, um espetáculo de guerra e cicatrizes. E, quando ela apenas balançou a cabeça negando, fiquei louco de raiva. — VOCÊ OUSA MENTIR PRA MIM, MALEDETTA? VOCÊ OUSA? — explodi, a voz explodindo pelas paredes como um trovão. Avancei de uma vez, segurei os braços dela e a chacoalhei com força, sentindo os ossos delicados baterem contra minhas mãos. Os olhos dela queimavam contra os meus, e não havia medo. Só fúria. — Eu não menti. Você é um idiota que matou alguém que não devia. — Cazzo... A respiração me queimou o peito. O sangue latejava nas têmporas. Inclinei o rosto até o dela, quase encostando minha testa ali. — Você é insolente demais. As vezes canso disso! — meus dedos apertavam com mais força, a pele dela ficaria marcada. — Eu já marquei a porra da data do casamento para o fim de semana e você não consegue ser o
Capítulo 4 Vinícius Strondda Estacionei o carro de qualquer jeito e saí primeiro. Abri a porta do lado dela e a puxei pelo braço sem paciência. A garota não falava nada, mas o silêncio era mais irritante do que se tivesse gritado. Entrei com ela em casa, levei-a direto para o mesmo cômodo onde estava. Fechei a porta com força e encostei-a contra a parede. — Agora tá resolvido, porra! — gritei, batendo a palma da mão ao lado da cabeça dela. — Eu dei o que você queria. O cara morto, o problema apagado, e você não teve coragem de abrir a boca. Por quê? Tá mentindo pra mim? Como alguém ainda ousa tentar mentir e enganar um Strondda? Ela respirava rápido, olhos brilhando de fúria. De repente, me empurrou com força, encostando a arma que eu ainda segurava contra o próprio peito. — Quer me matar? Então mata! — a voz dela saiu trêmula, mas cortante. — Vocês homens são todos iguais! Eu fugi de um monstro pra encontrar outro pior? Prefiro morrer! A garota avançou até mim e agarr
Capítulo 3 Vinícius Strondda Saí do quarto e fechei a porta com força. Aquele olhar dela ainda queimava no fundo da minha cabeça, mas não deixei que transparecesse nada. Irei atrás do maledetto figlio de puttana que ousou machucar a Lucia daquele jeito. Não a conheço, não sinto nada por ela, mas não aceito esse tipo de coisa e nem quero ninguém incomodando no meu casamento. Quando passei pelo jardim, esbarrei numa rosa vermelha. Estava bonita demais, intocada demais. Estiquei a mão, arranquei-a e esmaguei as pétalas entre os dedos. Sorri de canto. Aquilo era o retrato da minha vontade: destruir o que os outros tentavam manter perfeito. Abri o portão e encontrei meus homens perfilados como cães à espera de comando. Eu já tinha avisado pelo rádio, era o mínimo que poderiam fazer. — Escutem bem. Quero um tal de Dinamite. Ainda hoje. Vivo, mas de joelhos. Alguém sabe quem é? Carlo ergueu o queixo, com aquele jeito insolente que só ele tinha coragem de ter comigo.
Capítulo 2 Isabella Romano / Lucia Bianchi Fugir é o que eu faço de melhor. Sempre foi.Principalmente agora, depois de um mês correndo de cidade em cidade, dormindo em lugares que nem dava pra chamar de cama, só para ficar longe dele. Do homem que um dia chamaram de meu marido. Porque eu... Ah! Nunca chamei. Fui obrigada a casar com ele quando tinha 19 anos. Com os Moretti não tem conversa. Mesmo ele sendo bem mais velho… e mesmo escondendo um segredo que transformava a vida de quem estivesse ao lado dele em um inferno. Ele não tinha o que um homem tem. Não tinha pênis. E não era apenas a frustração que o consumia — era a raiva, o ódio por não poder ser como os outros. Descontava isso em mim, todos os dias, de todas as formas possíveis. Principalmente com palavras e humilhações que não deixavam marcas visíveis, mas me corroíam por dentro. A ausência dele como homem não o tornava menos cruel. Pelo contrário. Ele parecia sentir prazer em lembrar que, no papel, e
Último capítulo