Narrado por Zaiden Marevick
Os dias seguintes àquela noite desfilaram diante de mim como espectros arrastando correntes. A cidade fervia com sua sujeira habitual — contratos sangrentos, sussurros de morte, acordos selados entre goles de vodca e olhares que jamais se sustentavam por tempo demais. Eu comandava. Matava. Controlava.
Mas não estava lá.
Meu corpo se movia como marionete, obedecendo uma lógica há muito mecanizada. Porém minha mente… minha mente ardia em um único nome que eu ainda não conhecia. Um rosto. Um enigma.
A mulher sobre o gelo.
Ela surgia nas bordas dos meus pensamentos como uma pintura esquecida em um sótão empoeirado, bela demais para o esquecimento, estranha demais para a paz. Havia algo de errado em tudo aquilo. Ninguém como ela deveria ter estado ali naquela noite. Sozinha. Tão serena. Tão… viva. Ela era uma visão de outro mundo — um mundo que eu não merecia, que não me pertencia, mas que ousou me tocar mesmo assim.
E isso me desgraçou.
Ela me salvou. Me deu a