Narrado por Leonid Raskolnikov
A casa repousava sob um silêncio inquietante, como se cada parede, cada sombra soubesse o que carregávamos. Assim que cruzamos a soleira, não trocamos uma só palavra. Cada um se recolheu à sua solidão como feras feridas, buscando abrigo em quartos que mais pareciam jaulas. Eu deveria dormir. Meu corpo implorava por isso, mas havia algo em mim que não silenciava. Uma inquietação surda, latejante, como uma lâmina cega roçando contra os ossos.
Eram três da madrugada quando me levantei. O chão sob meus pés estava frio como uma advertência. Caminhei pela casa como um fantasma errante, em busca de um copo d’água ou talvez de paz — mas encontrei outra coisa.
Um sussurro.
Vinha do quarto dela.
Meus passos estancaram diante da porta entreaberta, onde a escuridão se estendia como um véu sobre a dor. Um murmúrio rompeu o silêncio novamente, tênue, como o choro de uma alma partida. Abri a porta devagar, com o cuidado de quem teme despertar um abismo.
Ela jazia sobre