Narrado por Zalea Baranov
O salão estava abafado por sorrisos falsos e taças tilintando, mas meus olhos permaneciam fixos em Zaiden, como se meu corpo soubesse que o verdadeiro perigo não vinha dos brindes ou da música, mas do silêncio contido atrás daquele copo de uísque.
Ele não se movera. Não fisicamente. Mas algo dentro dele, algo sombrio e prestes a se romper, parecia se contorcer. A mão dele apertava o cristal com tanta força que temi que o vidro estalasse. Seus olhos estavam cravados em mim. Não em mim, Zalea. Mas na posse que ele julgava perdida, roubada, profanada.
E então, ele se ergueu.
Como a sombra que se descola da parede ao entardecer, Zaiden cruzou o salão. Cada passo era um rasgo na paz forjada por Leonid. Um vento cortante que anunciava tempestade.
Leonid falava com Boris, alheio ao movimento silencioso que se aproximava. Mas eu sentia. Sentia como se meu corpo fosse um campo de guerra antecipando a explosão.
Zaiden parou diante de nós. Os olhos dele não me deixavam.