Narrado por Zalea Baranov
Sete meses.
O tempo se arrastava dentro de mim com o peso de um segredo maldito. O bebê crescia, esticava minha pele, pressionava minhas costelas, e às vezes, em silêncio, parecia me punir pelas memórias que ainda carregava. Já fazia dias que eu sentia uma dor surda na base do ventre. Uma pressão que vinha e ia como um sussurro de algo errado. Mas calei. Calei como calei por anos diante de tudo o que me dilacerava. Calei por medo de ser vista frágil, por não querer sobrecarregar Leonid, por ainda não entender se aquela dor era física ou se era só mais um eco da minha mente.
As cartas anônimas chegaram como punhais embrulhados em papel barato.
“Ela respira.”
“A morte dela foi forjada.”
“Sua mãe ainda vive.”
A primeira vez que li, fiquei parada por minutos, encarando a letra trêmula como se ela pudesse me responder. As outras vieram em silêncio, deixadas sob travesseiros, entre livros, presas por fitas negras. Eu rasgava, queimava, mas o estrago era invisível —