Nas vastas paisagens de Jackson, Wyoming, o passado sussurra entre os vales e montanhas, carregando promessas que nunca foram esquecidas. Quando Ellie Carter e James Callahan se encontram, seus caminhos parecem se cruzar por acaso, mas há histórias mais antigas que cercam suas famílias-segredos enterrados no solo árido do Oeste. Entre laços que os puxam para perto e forças que insistem em separá-los, Ellie e James descobrem que o destino pode ser tão selvagem quanto a terra que pisam. E às vezes, os ecos do passado ressoam mais alto do que imaginamos.
Leer másO tempo foi passando lentamente, como se o relógio tivesse decidido tirar férias. A conversa se arrastou, as horas se esticaram e, enquanto o dia desbotava para o fim, o ambiente dentro da cabana ia ficando mais denso.A janela estava embaçada, e a tempestade lá fora só aumentava, o que fazia a sensação de estar isolado ainda mais forte.Já estava escuro quando eu decidi que, se fôssemos passar a noite ali, era melhor providenciar um colchão. O lugar não era exatamente confortável, e passar a noite sentado na cadeira não parecia uma opção viável. Então, levantei-me e fui até o quarto. Aquele colchão não estava muito bom. Úmido, com o cheiro de madeira ainda impregnado, e mais desconfortável do que qualquer outra coisa. Mas era o que tínhamos.Tirei-o da cama e levei até a sala, onde a lareira ainda estava acesa, mas o fogo já começava a perder força. Quando entrei de volta na sala, encontrei Ellie ainda perto da mesa, mexendo nas suas coisas. Ela não parecia nem um pouco incomodada co
JamesEu estava perto da varanda, verificando uma das vacas que andava mancando há alguns dias, quando ouvi a conversa de Ellie e do pai dela lá dentro. Não dei muita atenção no começo, mas quando a vi saindo sozinha para a cabana, algo me incomodou.O vento estava mudando, e o cheiro no ar indicava neve.Murmurei um palavrão baixo e larguei o que estava fazendo. Não precisava de um mapa para saber que aquilo era perigoso. Se a tempestade pegasse Ellie desprevenida enquanto ela estivesse longe da casa, poderia ser complicado voltar.Sem pensar muito, montei no meu próprio cavalo e segui o mesmo caminho que ela havia tomado.O tempo mudou rápido demais. O vento ficou mais forte, cortando como lâminas contra minha pele, e os primeiros flocos de neve começaram a cair pesados. Não demoraria muito para tudo ficar branco e indistinguível.Pressionei os calcanhares no cavalo, acelerando o passo. Ellie podia ser teimosa, mas eu não ia deixá-la presa lá fora sozinha.O vento já estava forte o
O frio já estava impregnado no ar, misturado ao cheiro da lenha queimando e ao aroma familiar de peru assado. Desde criança, sempre senti que o Natal tinha um cheiro próprio—uma mistura de especiarias, doces de baunilha e gengibre sobre a mesa, e o calor das luzes piscando na árvore.Eu já havia escolhido minha roupa, arrumado o cabelo e separado a maquiagem que tentaria passar para parecer mais "feminina", como minha avó adorava sugerir. Mas, naquele momento, minha atenção estava na árvore de Natal, ajustando os enfeites quando vi minha mãe andar de um lado para o outro, agitada como um peru prestes a ir para o forno.— Mãe, está procurando alguma coisa? — perguntei, observando-a com curiosidade.— Meu casaco azul-escuro. Pode pegar para mim? Está no closet. Preciso sair para a cidade.Assenti, sem pensar muito, e segui para o quarto dela. Eu já sabia onde estava—pendurado no cabide mais alto, à esquerda. O tecido pesado e elegante sempre foi a escolha dela quando queria parecer mais
Eu me afasto dele, o coração batendo descontrolado e a mente um turbilhão. Ele me beijou. James, o idiota, me beijou, e agora eu não sei o que fazer com isso. Sinto um calor nas bochechas e uma pontada de frustração. O que ele estava pensando? O que eu estava pensando?— Você... — A voz sai fraca, como se eu estivesse tentando encontrar palavras, mas nada parece fazer sentido. Eu dou um passo para trás, ainda tentando afastar o calor do meu corpo. — Como você pôde fazer isso?James não se move, apenas me observa com aquele olhar impassível. Eu não consigo entender o que ele quer de mim, o que ele espera que eu faça agora.— Ellie, eu... — Ele começa, mas a sua voz seca me irrita ainda mais.— Eu avisei, James... — Falo baixinho, sem coragem para gritar, mas as palavras saem duras, com um peso que eu não esperava. — Eu achei que tivesse deixado bem claro! Que não queria que você fizesse isso. Não sei o que você estava esperando, mas não sou uma dessas meninas com quem você pode brincar
JamesEu definitivamente consegui deixar Dorothy com muita raiva. A vi ficar tão vermelha que parecia que ia explodir, e eu apenas sorria por dentro, sem precisar dizer uma palavra. Ellie me olhou contente, e eu só segui o roteiro.Como uma mulher que não vê a neta há dez anos acha que tem direito de opinar em algo? Na verdade, como ela sobreviveu em uma fazenda sem andar de cavalo e tomar uísque?A observo, e a mãe de Ellie, Camila, simplesmente se mantém calada, e Jimmy também não se dignou a defendê-la nem por um segundo.Porcos.Meu telefone vibrou no bolso, e, ao pegá-lo, me lembrei: eu havia esquecido completamente! Hoje vou competir em uma cidade vizinha, uma prova de laço em dupla. Droga, nem me lembrei disso!— James? — Uma voz feminina veio do outro lado da linha. — Estamos te procurando.Coloquei a mão na testa, lembrando-me rapidamente.— Já estou quase chegando — murmuro, tentando passar confiança.Desligo o telefone e volto para dentro da casa. Ellie agora está na sala d
Volto para dentro de casa e encontro minha mãe observando seu celular com uma expressão de leve apreensão. Suas mãos tremem ligeiramente, algo quase imperceptível, e eu a observo de longe. Ela se assusta e rapidamente coloca o celular no bolso. — Está tudo bem? — Pergunto, me aproximando. Ela sorri sem graça, pega um pano de prato e começa a secar os copos. — Sabe que pode me contar qualquer coisa, mãe. Ela assente com a cabeça, se encostando na bancada da pia e apoiando as duas mãos atrás de si. — Já é quase Natal — ela suspira, como se um peso a estivesse incomodando —. Isso significa que meus pais vão vir. Dez anos sem me ver, e agora decidem que vão vir até aqui. Assenti com a cabeça. — Por quê? — Pergunto, como se a resposta fosse óbvia. — Não sei — ela responde com um sorriso amargo —. Acho que querem controlar sua vida, assim como fizeram com a minha. Tome cuidado com eles. — Ela me observa com seriedade. — Ellie, o único bem importante que eu tenho é você, e eu não vou
Abri os olhos pela manhã, não consegui dormir muito bem, foi uma péssima noite, e agora estou estressada.Da minha cama, consigo ver James dormindo. Hoje é seu dia de folga, então acordei antes. Um feixe de luz ilumina seus cabelos castanhos. Ele dorme de bruços, da mesma forma que uma criança. Observo os músculos de suas costas marcarem enquanto ele dorme calmamente. Decido levantar e trocar de roupa, mas, ao pegar minha calça, o canivete se desprende do meu cinto e acerta o chão, fazendo um som estridente no piso de madeira velha.Ele acorda assustado, e eu dou um sorriso amarelo, com vergonha por tê-lo acordado. Seus fios estão bagunçados, e ele abre um leve sorriso, com um olhar sonolento.— Tá fugindo de alguma coisa? — ele murmura, a voz rouca de sono.Meu rosto esquenta.— Só estava... acordando. Diferente de você, que parece não ter pressa nenhuma.Ele suspira e vira o rosto contra o travesseiro.— Tá cedo.Reviro os olhos.— O café já tá pronto.Ele não responde, apenas resmu
— O que era aquilo? — meu pai pergunta assim que nos vê se aproximando da casa.— Lobos, mas já foram embora — James explica. — Acho melhor deixar os cavalos no celeiro durante a noite. Não quero encontrar nenhum animal com mordidas pela manhã.Meu pai assente com a cabeça e volta a conversar com os homens. Estão todos reunidos na varanda, bebendo uísque e assando bifes bem grossos.— James, seu pai é o dono do Rancho Callahan? — o Sr. Whitaker pergunta, levando o copo de uísque aos lábios.— É, sim. O senhor o conheceu? — James pergunta com um semblante sério, quase como se estivesse com medo de escutar algo que não quer ouvir.— Conheci, era bem amigo dos seus avós. Eles eram chatos demais — ele diz em um tom irônico, sorrindo. — Vi seu pai crescer por aqui. Ele é um bom homem.James assente com a cabeça.— Ele conheceu minha mãe muito cedo, depois se mudou antes mesmo dos vinte anos — murmura, passando os dedos pela borda do copo.Observo todos os detalhes de seu rosto. Seus olhos,
— Onde estão o papai e o James? — pergunto enquanto experimento um pouco da sopa.— Foram buscar os cavalos no celeiro. Você não vai na cavalgada de hoje? — minha mãe pergunta, e eu, boquiaberta, respondo:— Eu não sabia que teria uma. — Reviro os olhos, e ela sorri. — E o cavalo que encontrei durante a noite? Está tudo bem com ele?Ela assente com a cabeça.— Está sim. Seu pai e James saíram para procurar o dono, mas ninguém conhece o cavalo. Por enquanto, vamos ficar esperando. Se ninguém aparecer, parece um bom cavalo para nós. — Ela murmura, e eu sorrio, contente. — Vá se aprontar para a cavalgada, logo sairemos.Assinto com a cabeça e subo novamente para o quarto. Tomo um banho quente e rápido, depois coloco roupas adequadas para o frio e minha bota de couro, que sobe até a metade das panturrilhas.Assim que desço e vou até a varanda, vejo James ajeitando as selas e os estribos, enquanto meu pai observa tudo atentamente, com a postura rígida de sempre.— Achei que iriam sem mim —