O frio já estava impregnado no ar, misturado ao cheiro da lenha queimando e ao aroma familiar de peru assado. Desde criança, sempre senti que o Natal tinha um cheiro próprio—uma mistura de especiarias, doces de baunilha e gengibre sobre a mesa, e o calor das luzes piscando na árvore.
Eu já havia escolhido minha roupa, arrumado o cabelo e separado a maquiagem que tentaria passar para parecer mais "feminina", como minha avó adorava sugerir. Mas, naquele momento, minha atenção estava na árvore de Natal, ajustando os enfeites quando vi minha mãe andar de um lado para o outro, agitada como um peru prestes a ir para o forno.
— Mãe, está procurando alguma coisa? — perguntei, observando-a com curiosidade.
— Meu casaco azul-escuro. Pode pegar para mim? Está no closet. Preciso sair para a cidade.
Assenti, sem pensar muito, e segui para o quarto dela. Eu já sabia onde estava—pendurado no cabide mais alto, à esquerda. O tecido pesado e elegante sempre foi a escolha dela quando queria parecer mais