32. O voluntário Paulo.
A noite caiu sobre o Rio com uma mistura de brisa salgada e promessas de chuva. No alto da Constellation Global, as luzes do prédio ainda cintilavam, mas o expediente havia terminado para a maioria dos funcionários. Isabela permanecia no vestiário feminino, sentada no banco estreito, as mãos entrelaçadas no colo. O dia fora mais silencioso, mas a tensão da véspera ainda reverberava em sua mente como um zumbido incômodo.
A discussão com Ana, as fofocas maldosas e a sensação de ser observada como intrusa no próprio local de trabalho pesavam sobre seus ombros. Ela tentava manter a cabeça erguida, mas por dentro havia rachaduras. Enquanto passava os dedos pelos cadarços dos tênis, sentiu uma presença parada na porta.
— Isa… posso? — Era Paulo, em sua voz sempre mansa.
Ela levantou o olhar e sorriu de leve.
— Claro, Paulo.
Ele entrou, respeitoso, com o boné na mão. Sentou-se no banco oposto, encostando as costas na parede.
— Vi que você demorou. Achei melhor passar aqui antes de ir.