Criada como serva em um vilarejo comandado por famílias ricas e arrogantes, Lara sempre soube que não pertencia àquele lugar — não apenas pelos maus-tratos que sofria por sua beleza incomum, mas pelos sonhos estranhos e fragmentados de um passado que não consegue lembrar. Naquela vila escondida entre florestas densas, o medo e a convivência silenciosa com a temida matilha de lobisomens é a única regra que mantém a paz. Mas tudo muda na noite em que os olhos de Lara cruzam com os do alfa Jhon, o líder da alcateia. Um desejo feroz e inexplicável surge entre os dois, desafiando séculos de equilíbrio e despertando segredos que estavam adormecidos... até agora. Quando o passado oculto de Lara começa a emergir, ela perceberá que sua ligação com a matilha é muito mais profunda — e perigosa — do que imaginava.
Ler maisDamon A cena à minha frente parece irreal. Desde que retornamos, temos evitado o convívio, mantendo-nos na penumbra de nossos próprios fantasmas. Não estávamos prontos para socializar — e, sinceramente, sequer desejávamos isso. Mas hoje, Demétrio insistiu num banquete. Um capricho, talvez. Ou uma tentativa desesperada de afogar a dor que o dilacera desde a última névoa. Belas jovens nos cercavam, entregues em êxtase. O sangue fluía direto de seus pescoços, mornos e doces, mas sem graça. O sabor da dor não me embriagava mais. Nada me embriagava mais. Foi então que um dos soldados entrou — insolente, como sempre — e anunciou com falsa glória: — Achei uma nova filha da noite… e ela trouxe consigo uma humana… linda, meu rei. Revirei os olhos. Não estou pronto para mais uma dessas celebrações animalescas. Não quero carne nova, nem corpos trêmulos de desejo. Quero silêncio. Mas então… A porta se abriu. E ela entrou. A garota da gruta. Seu cheiro me atingiu como um tapa —
Mika Já faziam três dias. Três longos dias seguindo migalhas de cheiro, pistas deixadas ao acaso, pegadas tão tênues quanto a bruma que rondava a floresta. O rastro estava sumindo. E com ele, minha confiança. Senti meu peito apertar. Olhei para Lara. Ela caminhava firme, cabeça erguida, olhos atentos. Mas eu conseguia sentir — sob a máscara de determinação — o cansaço, a preocupação, o peso de tudo o que deixamos para trás. E então aconteceu. Foi como um tapa invisível. O cheiro me atingiu como um soco no estômago: denso, potente, selvagem. A energia no ar mudou. Eles estavam perto. Muito perto. Senti meus sentidos se acenderem como lâmpadas. Cada partícula do ar me entregava informações. Sete presenças. Três poderosas. Uma… insuportavelmente familiar. Mas junto à excitação… veio o medo. Não por mim. Mas por Lara. Ela ainda era humana. Frágil. Vulnerável. E aos olhos deles… talvez nada mais que um cálice pronto a ser esvaziado. Parei. — La
Jhon Ficamos acampados por quatro dias às margens do riacho. Quatro dias em silêncio, tentando encontrar em meio à mata o que sobrou de nós mesmos. A água era limpa. O ar, puro. Os pássaros cantavam como se o tempo não tivesse parado para nós. Não somos feitos de paz — não mais. Mas depois de 1.142 dias de guerra, fome e dor, era a primeira vez que conseguíamos respirar sem olhar por cima do ombro. Sentia a tensão ainda correr nas veias de meus homens, o instinto de matar adormecido sob a pele, à flor do toque. Mas havia uma serenidade temporária… frágil, porém presente. Hoje, durante a reunião com meu beta e meu irmão, tomamos uma decisão. — Está na hora de voltar. Voltar para o lar. Para nossas raízes. E, no fundo… eu queria procurar por ela. Não sabia seu nome. Não conhecia sua história. Mas os olhos dela… A imagem pairava na minha mente como tatuagem na alma. Seguimos viagem passando por vilarejos, um após o outro, sem parar em nenhum. Acalteiamos divididas, cada uma
Lara Seguimos para o quarto. O dia foi estranho — muita coisa havia mudado —, mas, por algumas horas, fomos apenas garotas. Rimos, conversamos, nos permitimos esquecer o caos por um instante. Agora estou aqui, deitada. O quarto é simples, mas aconchegante. As paredes de pedra fria ganham calor com os tecidos florais que cobrem a cama. Há um cheiro leve de madeira antiga misturado ao chá de ervas que a estalajadeira deixou sobre a mesinha. Tudo está silencioso, exceto pelo som suave do vento batendo na janela e a respiração tranquila de Mika na cama ao lado. Fecho os olhos, mas minha mente não me permite descansar. Penso em Bri... em como ela está sendo enganada por Lucas. A dor de sua traição ainda queima em meu peito. Me reviro na cama, tentando afastar a imagem dele — aquele verme com suas garras cravadas em minha amiga. Respiro fundo, buscando outro pensamento. E então, como se meu inconsciente quisesse me distrair, ele surge em minha mente. Aquele homem da floresta. O
Lara O cheiro foi a primeira coisa que me alcançou. Mesmo antes da consciência plena, antes de abrir os olhos, ele veio como uma brisa morna — café fresco, pão amanteigado, talvez geleia de frutas vermelhas. Era um aroma acolhedor, familiar… reconfortante. Por um breve segundo, pensei que ainda estivesse em casa. Mas então veio a voz. — Não precisa abrir as janelas, senhora… nós mesmas damos conta da limpeza. Reconheci imediatamente o tom contido de Mika. Baixo. Tenso. Meus olhos ainda estavam fechados, mas a neblina do sono começava a se dissipar. Cada palavra me puxava de volta à realidade. O colchão sob meu corpo, o lençol áspero da estalagem, o zumbido suave de uma mosca próxima à parede… tudo me alcançava em pedaços, como se minha mente juntasse as peças lentamente. — Oh, não seja tola, querida. — respondeu uma voz feminina, gentil e melodiosa. — Só vou deixar o sol entrar. Faz bem pra alma. O sol. Me sentei de repente, como se um balde de água fria tivesse sido
Lara A floresta parecia maior à noite. Mais viva. Mais perigosa. A cada passo, meus pés afundavam nas folhas úmidas, e galhos secos estalavam sob meus calçados. Mas Mika andava como se flutuasse — leve, precisa, silenciosa. — Você está ouvindo isso? — ela sussurrou. — O quê? — Tem uma coruja a 300 metros, na direção sudeste. Três ratos, provavelmente na moita ao nosso lado… E alguém chorando... muito longe. Ela parou e franziu o cenho. — Ou... talvez lembranças. Senti um arrepio na espinha. Desde que despertou, Mika não era mais a mesma. Havia algo afiado nela. Como se tudo nela — voz, olhar, respiração — estivesse mais nítido, mais selvagem. Ainda era Mika. Mas não totalmente. — Está tudo bem? — perguntei. Ela assentiu, depois olhou para mim, os olhos um pouco mais escuros que o normal. — Estou com sede. A frase me fez estremecer. — Não se preocupe. Eu consigo controlar. — ela disse, como se pudesse ouvir meus pensamentos. — Ainda estou aprendendo a entender isso. Ma
Último capítulo