Damon
A cena à minha frente parece irreal. Desde que retornamos, temos evitado o convívio, mantendo-nos na penumbra de nossos próprios fantasmas. Não estávamos prontos para socializar — e, sinceramente, sequer desejávamos isso. Mas hoje, Demétrio insistiu num banquete. Um capricho, talvez. Ou uma tentativa desesperada de afogar a dor que o dilacera desde a última névoa.
Belas jovens nos cercavam, entregues em êxtase. O sangue fluía direto de seus pescoços, mornos e doces, mas sem graça. O sabor da dor não me embriagava mais. Nada me embriagava mais.
Foi então que um dos soldados entrou — insolente, como sempre — e anunciou com falsa glória:
— Achei uma nova filha da noite… e ela trouxe consigo uma humana… linda, meu rei.
Revirei os olhos. Não estou pronto para mais uma dessas celebrações animalescas. Não quero carne nova, nem corpos trêmulos de desejo. Quero silêncio.
Mas então…
A porta se abriu.
E ela entrou.
A garota da gruta.
Seu cheiro me atingiu como um tapa —