Entre a farda e o fuzil.

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Última atualização: 2025-05-26
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Título: Entre a Farda e o Fuzil Sinopse: No topo do morro, não tem lei. Tem nome. E o nome é Muralha. O Estado tentou derrubar. A mídia tentou apagar. Mas ele sobreviveu a tudo — tortura, traição, emboscada e bomba. Hoje, é lenda viva. É dono da boca, do morro, do medo. Onde ele pisa, o chão respeita. Onde ele fala, o silêncio obedece. Onde ele aponta, alguém morre. Não é só criminoso. É símbolo. É o trauma vestido de ouro. É a raiva armada até os dentes. E quem ousa subir seu território de farda engomada, precisa saber: Ali, não é justiça. É selva. Mas ela subiu. Sargento Alana. A menina que fugiu da favela jurando nunca voltar. Hoje, voltou com arma no coldre e veneno na alma. Porque o sistema apodreceu por dentro, e ela decidiu podar pela raiz. Só que Muralha… Muralha foi a raiz que ninguém cortou. Nem o tempo. Nem a bala. Nem o passado. Agora, eles tão frente a frente. Ela com a farda que pesa. Ele com o fuzil que governa. Duas potências que se conhecem demais pra errar. E se odeiam demais pra recuar. Entre eles, não tem paz. Tem morte anunciada. Entre a Farda e o Fuzil é guerra no osso, no olhar, na alma. É uma história onde ninguém é certo. Só mais armado. Mais frio. Mais preparado pra morrer — ou virar nome de esquina. Porque no fim das contas, essa história só tem duas saídas: Ou Alana mata o homem. Ou Muralha derruba o sistema. E quando um deles cair… O morro inteiro vai tremer.

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Capítulo 1

capítulo 1 Muralha apresentação

Capítulo 1 — Eu sou o que sobrou do inferno

[Narrado por Muralha]

Meu nome é Caio Fernando dos Santos.

Mas ninguém me chama assim.

Esse nome morreu quando eu virei o que sou.

Hoje, me chamam de Muralha.

Tenho 33 anos.

1,89 de altura. 104 quilos de músculo, raiva e cicatriz.

Braços tatuados com história que não cabe em livro.

Olhar de quem já viu o fim — e voltou rindo.

Falo pouco. Mato muito.

Hoje eu ando de moto preta, sem placa, com motor que grita mais alto que sirene.

Camisa colada no peitoral trincado, boné preto, óculos escuro mesmo de madrugada.

Corrente grossa, pulseira de ouro no punho esquerdo — o da guerra.

E no direito? No direito tá o peso do morro todo.

Quem me vê de longe, desvia.

Quem me conhece, abaixa o olhar.

Quem ousa me desafiar…

você já sabe onde termina.

Mas nem sempre foi assim

Eu era só mais um nome riscado na certidão.

Nascimento: 14 de julho de 1992.

Pai: ausente.

Mãe: presente demais nas esquinas.

A pedra comeu o resto.

Fui criado entre tapa, fome e silêncio.

Barraco pingando em cima da cama, barata desfilando no prato, vizinho morrendo todo fim de semana.

Minha infância foi um filme de terror sem final feliz.

Já fui moleque de chinelo furado. Já comi arroz com vento e dormi com medo da chuva carregar meu barraco. Vi minha mãe vendendo o corpo pra trocar por pedra. Vi meu melhor amigo morrer por segurar um radinho. Vi tudo de podre que esse mundo oferece — e engoli calado.

Até cuspir de volta.

Com 9, fiz meu primeiro corre. Com 12, passei droga pro mano da milícia. Com 14, tomei tapa na cara de polícia e prometi: "um dia eu que vou mandar nesse chão."

E cumpri.

Porque quando tu não tem nada a perder, tu vira veneno puro. E foi assim que eu cresci. Na bala. No peito. Na revolta.

Com 17, assaltei uma van armada. Com 18, fiz minha primeira execução. Com 19, entrei na guerra do morro. E com 21, matei o chefe da boca com um tiro no olho e outro no orgulho.

Ele riu quando eu disse que queria sentar no trono. Disse que eu era só mais um favelado com sede. Pois então eu dei sede pra ele… de sangue.

A cabeça dele rolou escada abaixo enquanto os outros assistiam. E eu, de pé no alto, declarei:

— A partir de hoje, essa porra é minha. Quem discordar, desce pro caixão.

Ninguém discordou.

Os que vacilaram depois, sumiram. Os que tentaram subir, tombaram. Os que quiseram derrubar, viraram exemplo.

Eu estruturei. Armei. Blindei.

Fiz aliança com PCC, negociei com milícia, comprei polícia. Quem não aceita dinheiro, aceita medo. E eu sei vender os dois.

Hoje eu comando a Zona Norte inteira de dentro do meu escritório. Vejo tudo. Sei tudo. Qual casa tem criança doente. Qual quebrada tá tentando abrir boca paralela. Qual vereador me deve favor.

Sou o dono da rua. Do morro. Do silêncio.

Aqui só se respira porque eu deixo.

Meu nome não tá em registro nenhum. Mas tá em mural, parede, oração e ameaça.

Porque Muralha não é só um apelido. É estrutura. É domínio. É maldição que não se quebra.

As mães choram por mim e os filhos sonham em ser eu. Eu sou o monstro que deu certo. O demônio que aprendeu a sorrir pra câmera e foder no escuro.

Eu sou o sistema paralelo. A justiça torta. A lei do sangue.

E quem ousa me enfrentar...

Bom, já tentou gente pior. E hoje tão todos no chão. Ou sob ele.

Minha primeira arma não veio embrulhada em pano.

Veio direto na mão.

Era uma .38 emprestada, velha, fria.

A mesma que usaram pra matar meu primo.

E que depois me passaram como se fosse herança.

Lembro do peso.

Não era só ferro.

Era história.

Era destino.

Era sentença.

A primeira vez que apontei pra alguém, tremi.

Na segunda, já tava com o dedo firme.

Na terceira, eu sorri.

Porque ali eu entendi:

arma é a única boca que me escuta.

E quando ela fala, o mundo cala.

Com ela na mão, virei homem.

Na marra.

No sangue.

No silêncio.

Aos 20, eu já tinha mais inimigo do que vela em cemitério.

Mas nenhum deles teve peito de subir.

Porque aqui em cima, o ar é outro.

Mais pesado.

Mais frio.

Mais sujo de verdade.

Montei meu conselho.

Escolhi os meus.

Poucos. Fiéis. Prontos pra morrer.

Ou matar.

Fiz o morro render.

Transformei a boca num negócio de milhões.

Controlei entrada, saída, fluxo, plantão, ponto cego e rota de fuga.

Quem atrasa, paga.

Quem rouba, sangra.

Quem fala demais, desaparece.

E quem me serve… vive bem.

A favela me respeita.

Os meus me protegem.

As crianças me olham como herói — sem saber que herói mesmo… morreu antes de mim.

Minha casa não tem luxo.

Tem blindagem.

Tem cofre.

Tem silêncio.

Meus dias são vigiados por câmera e santo.

Tenho terço no pescoço e diabo no olhar.

E mesmo assim, não durmo.

Durmo com a arma do lado.

Durmo com o barulho da rua.

Durmo com o eco dos nomes que já mandei apagar.

Mas durmo com a consciência leve.

Porque aqui em cima, sou mais justo que juiz.

Mais rápido que a PM.

Mais real que qualquer promessa de político.

Faço mais pela quebrada que qualquer vereador de gravata.

Levo gás onde o Estado não leva.

Banco remédio que o SUS não entrega.

Dou caixão digno pra quem seria enterrado em saco preto.

Só que ninguém vê isso.

Só veem o que convém.

A arma.

A grana.

O medo.

E eu deixo ver.

Porque imagem também é arma.

E a minha é indestrutível.

Já tentaram me derrubar.

De dentro e de fora.

Mas pra me tirar daqui, tem que matar mais do que meu corpo.

Tem que apagar minha história.

Meus passos.

Minha marca nesse chão.

E isso… ninguém conseguiu.

Tentei sair uma vez.

Tentei largar.

Tentei sumir.

Fiquei uma semana longe.

Me escondi no litoral.

Sol, mulher, caipirinha e paz.

Mas a favela gritou meu nome.

Um aliado tombou.

Uma boca foi invadida.

Um menino de 11 anos levou tiro cruzado.

Voltei no terceiro dia.

Matei dois.

Reconquistei o morro em 40 minutos.

E prometi:

— Nunca mais vou deixar ninguém cuidar da minha guerra.

Desde então, eu sou a guerra.

Sou o início.

Sou o fim.

Sou o meio onde todo mundo se dobra.

Onde até Deus, se entrar sem aviso, vai ter que se identificar.

Eu não vim do nada.

Eu sou o nada.

O que restou do que sobrou.

O grito engasgado da favela.

A raiva que o sistema não matou.

O reflexo de tudo que o asfalto ignora.

E no final do dia, quando a cidade dorme fingindo paz,

sou eu quem vigia.

Sou eu quem segura o caos.

Sou Muralha.

E aqui, só passa quem eu deixar.

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