Título: Entre a Farda e o Fuzil Sinopse: No topo do morro, não tem lei. Tem nome. E o nome é Muralha. O Estado tentou derrubar. A mídia tentou apagar. Mas ele sobreviveu a tudo — tortura, traição, emboscada e bomba. Hoje, é lenda viva. É dono da boca, do morro, do medo. Onde ele pisa, o chão respeita. Onde ele fala, o silêncio obedece. Onde ele aponta, alguém morre. Não é só criminoso. É símbolo. É o trauma vestido de ouro. É a raiva armada até os dentes. E quem ousa subir seu território de farda engomada, precisa saber: Ali, não é justiça. É selva. Mas ela subiu. Sargento Alana. A menina que fugiu da favela jurando nunca voltar. Hoje, voltou com arma no coldre e veneno na alma. Porque o sistema apodreceu por dentro, e ela decidiu podar pela raiz. Só que Muralha… Muralha foi a raiz que ninguém cortou. Nem o tempo. Nem a bala. Nem o passado. Agora, eles tão frente a frente. Ela com a farda que pesa. Ele com o fuzil que governa. Duas potências que se conhecem demais pra errar. E se odeiam demais pra recuar. Entre eles, não tem paz. Tem morte anunciada. Entre a Farda e o Fuzil é guerra no osso, no olhar, na alma. É uma história onde ninguém é certo. Só mais armado. Mais frio. Mais preparado pra morrer — ou virar nome de esquina. Porque no fim das contas, essa história só tem duas saídas: Ou Alana mata o homem. Ou Muralha derruba o sistema. E quando um deles cair… O morro inteiro vai tremer.
Ler maisCapítulo 6 — O recado veio antes da notícia [Narrado por Muralha] O dia amanheceu suado. E o céu não tava limpo como ontem. Tava pesado. Cinza de guerra. No morro da Conquista, isso é sinal. Sinal de que alguma coisa tá se mexendo onde não devia. Eu já tava de pé antes do despertador natural do morro cantar — os três tiros pro alto que o vapô dispara avisando troca de plantão. Nem precisei. Acordei com um zumbido estranho. Pressão baixa no ar. Silêncio demais nas vielas. Respeito ou medo? Tanto faz. Os dois avisam. — “Chefe,” — Diguinho apareceu na porta, camisa suada, cara fechada — “tem uma fita que cê precisa ver.” — “Fala.” — “Pegamos um rádio ligado na frequência da Rachadura. Tavam se comunicando com uma patrulha.” — “Polícia?” — “É. Mas escuta isso... não era da nossa área. A viatura entrou no beco da favela deles... e não era operação conjunta. Era uma só.” Eu parei. O coração bateu diferente. E o nome dela atravessou minha cab
Capítulo 5 — Traição veste farda também[Narrado por Alana]A missão era simples: ronda de rotina na Rua Alta.E simples demais, nesse lugar, já é sinal de armadilha.Cheguei cedo, viatura sozinha.Céu cinza, chão seco, favela ainda acordando.Desci com cautela, arma na mão, rádio no ombro.— “Base, aqui é Sargento Alana. Posição Rua Alta. Solicito retorno.”Nada.Silêncio.Tentei de novo.— “Base, copia?”Silêncio.De novo.De novo.Porra.Engatilhei.Fui andando devagar, bota arrastando poeira, o peito em alerta.Foi quando ouvi o ronco.Motos.Três.Não... quatro.Subindo o morro devagar, como quem sabe pra onde tá indo.Capacete fechado. Camisa preta. Olhos invisíveis.Mas intenção clara.Vieram pra me apagar.Rolei pro lado. Me escondi atrás da caixa d’água velha.Primeiro tiro passou raspando.Segundo, ricocheteou perto da minha perna.Respondi com dois disparos. Acertei o guidão de uma das motos.Capacete voou longe.Mas não foi suficiente.Um deles desceu.Alto. Forte.Arma em
Capítulo 4 — Aqui não tem espaço pra ego[Narrado por Alana]A viatura desceu em silêncio.O tipo de silêncio que grita mais do que sirene.Carvalho no banco de trás, quieto.Gomes mastigando a tensão no canto da boca.E Vilela… com o orgulho entalado na garganta, achando que vai sair por cima.Chegamos na base.Portão automático abriu com ranger metálico.Eu desci primeiro, postura firme, farda suada e alma carregada.Entrei no módulo, tirei o colete, joguei em cima da mesa e me virei pra ele.— “Vilela.Sala de relatório. Agora.”Ele hesitou, mas veio.Postura ainda querendo desafiar.Olho nos meus.Erro número dois.Fechei a porta.A sala ficou pequena demais pra tanta tensão.Ele cruzou os braços.— “Sargento, com todo respeito, acho que você exagerou na frente da equipe.”— “Exagero foi o que você fez com aquela porta.”— “Eu só entrei pra garantir a segurança da guarnição. Era uma situação suspeita.”— “Suspeita pra quem?Pra tua arrogância ou pro teu despreparo?”Ele deu um pas
Capítulo 3 — Entre a farda e a ferida[Narrado por Alana]Meu nome é Alana Duarte.Tenho 29 anos.Sargento da Força Tática.Número de registro: 398214-RJ.Patente conquistada com suor, silêncio e sangue alheio.Tenho 1,68 de altura, 58 quilos bem distribuídos entre o peso da disciplina e a cicatriz da infância.Cabelo castanho claro, liso, sempre preso em rabo de cavalo.Pele firme. Olhos escuros demais pra serem lidos.Farda camuflada, colete de guerra justo no peito.Na cintura, uma HK P30 carregada.No bolso, documentos frios.Na alma, veneno velho.Não sou simpática.Não sou dócil.Não sou o que esperam quando escutam "mulher na linha de frente".Eu sou a linha.Fui forjada no grito.Criada no morro que me expulsou.Moldada pelo abandono, pela fome e por uma revolta que até hoje me alimenta.Nasci no Morro da Conquista.Filha de mãe lavadeira e pai desaparecido.Meus brinquedos eram pedra e tampa de panela.Meu teto, eternamente ameaçado de desabar.Cresci com medo de polícia, fom
Capítulo 2 — Onde eu piso, o chão treme(Narrado por Muralha)O morro acorda quando eu respiro.E quando eu piso… o chão sente.Já eram quase sete da manhã. O sol começava a se infiltrar por entre os barracos, mas aqui em cima, a luz não manda em porra nenhuma.Quem manda sou eu.Desci pro quintal. A vista era absurda.Dava pra ver a cidade mentindo tranquilidade lá embaixo — carro passando, criança indo pra escola, gente correndo atrás de salário mínimo achando que é livre.Aqui em cima, a gente sabe o que é liberdade:mandar, sem ter que explicar.A moto já me esperava.Duas rodas com alma de tanque.Subi nela como quem sobe num trono — armado, pronto, invencível.— “Vamos?” — perguntou o piloto, o Foguete, um novato que ainda tremia na hora de me olhar no olho.— “Toca pra base.”Descemos. Devagar.Os vielões se abriram como se o morro se curvasse.A vizinhança fingia normalidade — a mulher estendendo lençol sujo, o menino brincando com pneu, o rádio no pagodinho antigo.Mas bastav
Capítulo 1 — Eu sou o que sobrou do inferno[Narrado por Muralha]Meu nome é Caio Fernando dos Santos.Mas ninguém me chama assim.Esse nome morreu quando eu virei o que sou.Hoje, me chamam de Muralha.Tenho 33 anos.1,89 de altura. 104 quilos de músculo, raiva e cicatriz.Braços tatuados com história que não cabe em livro.Olhar de quem já viu o fim — e voltou rindo.Falo pouco. Mato muito.Hoje eu ando de moto preta, sem placa, com motor que grita mais alto que sirene.Camisa colada no peitoral trincado, boné preto, óculos escuro mesmo de madrugada.Corrente grossa, pulseira de ouro no punho esquerdo — o da guerra.E no direito? No direito tá o peso do morro todo.Quem me vê de longe, desvia.Quem me conhece, abaixa o olhar.Quem ousa me desafiar…você já sabe onde termina.Mas nem sempre foi assimEu era só mais um nome riscado na certidão.Nascimento: 14 de julho de 1992.Pai: ausente.Mãe: presente demais nas esquinas.A pedra comeu o resto.Fui criado entre tapa, fome e silênci
Último capítulo