Título: Entre a Farda e o Fuzil Sinopse: No topo do morro, não tem lei. Tem nome. E o nome é Muralha. O Estado tentou derrubar. A mídia tentou apagar. Mas ele sobreviveu a tudo — tortura, traição, emboscada e bomba. Hoje, é lenda viva. É dono da boca, do morro, do medo. Onde ele pisa, o chão respeita. Onde ele fala, o silêncio obedece. Onde ele aponta, alguém morre. Não é só criminoso. É símbolo. É o trauma vestido de ouro. É a raiva armada até os dentes. E quem ousa subir seu território de farda engomada, precisa saber: Ali, não é justiça. É selva. Mas ela subiu. Sargento Alana. A menina que fugiu da favela jurando nunca voltar. Hoje, voltou com arma no coldre e veneno na alma. Porque o sistema apodreceu por dentro, e ela decidiu podar pela raiz. Só que Muralha… Muralha foi a raiz que ninguém cortou. Nem o tempo. Nem a bala. Nem o passado. Agora, eles tão frente a frente. Ela com a farda que pesa. Ele com o fuzil que governa. Duas potências que se conhecem demais pra errar. E se odeiam demais pra recuar. Entre eles, não tem paz. Tem morte anunciada. Entre a Farda e o Fuzil é guerra no osso, no olhar, na alma. É uma história onde ninguém é certo. Só mais armado. Mais frio. Mais preparado pra morrer — ou virar nome de esquina. Porque no fim das contas, essa história só tem duas saídas: Ou Alana mata o homem. Ou Muralha derruba o sistema. E quando um deles cair… O morro inteiro vai tremer.
Leer más[NARRADO POR ALANA] Respirei fundo. A testa ainda encostada na dele. O calor da mão dele na minha barriga era quase um feitiço, mas a realidade bateu de volta como tapa na cara. — “Vamos focar no agora.” — falei, firme. — “Tu ainda tem que descobrir quem é o X9. Senão essa falsa morte vai ter sido em vão.” Caio fechou o rosto na hora. A expressão mudou. O tesão virou estratégia. O corpo dele se retesou como quem engatilha. — “Tô ligado.” — ele respondeu, seco, já com os olhos mirando o nada, mas enxergando tudo. Se levantou comigo no colo e me colocou no chão com cuidado, como se fosse aço quente. Depois foi direto pro rádio que tava no canto da cozinha. Apertou o botão e falou baixo, mas com voz de comando que atravessa parede. — “Diguinho, me escuta.” Silêncio. Estática. Depois a voz do outro lado, abafada: — “Fala, Muralha.” atravessou o rádio com aquele respeito que não se ensina. Se conquista. Caio respirou fundo, olhos fixos em mim, mas mente longe — lá no campo minad
[NARRADO POR ALANA] A cozinha ainda tava com cheiro de café amargo e provocação no ar. Aziza tinha acabado de soltar aquela: — “Tá explicado por que ele se apaixonou.” E foi aí que a porta do quarto abriu. Caio apareceu. Descalço. Sem camisa. Só de bermuda preta baixa, o corpo ainda marcado das pancadas da noite anterior. Mas o olhar... o olhar era de bicho acordado errado. Sobrancelha arqueada, mandíbula travada. Ele parou na soleira, encarou a gente duas. — “Tô ouvindo errado ou tu tá dando em cima da minha mulher, Aziza?” Ela levantou da cadeira com calma. Postura de quem não tem medo. — “Relaxa, primo. Se eu gostasse da fruta, tu já tinha perdido ela.” O silêncio pesou. Mas não durou nem dois segundos. Caio deu dois passos pra frente, riu de canto, e sem tirar os olhos dela, puxou minha cintura com brutalidade boa. Me virou de frente pra ele e cravou a boca na minha. Um beijo daqueles. Pesado. Vulgar. De marcar território. A mão dele desceu pelas minhas costas até a
[NARRADO POR ALANA] O sol nem tinha se atrevido a subir direito, mas eu já tava de pé. A dor no corpo era um lembrete fresco da noite passada. Não só a porrada, não só o acidente, mas... ele. Caio. Muralha. Fúria e abrigo na mesma pele. Peguei a camisa dele do chão. Ainda tinha o cheiro dele — pólvora, suor e desejo. Vesti. Fui pra cozinha. A chaleira chiava no fogão, o café começando a subir. Eu gostava desse silêncio da manhã. Era raro. Como se o mundo ainda estivesse dormindo e eu pudesse respirar sem pedir licença. Foi aí que a campainha tocou. No susto, meu coração pulou. Instinto. Puxei a pistola de dentro do armário da pia. Andei devagar até a porta. Olhei pelo olho mágico. Aziza. Abri. — “Trouxe pão.” Ergui a sobrancelha. — “Sério?” — “Quer que eu diga que vim dar esporro ou fofocar?” Dei um meio sorriso. Deixei ela entrar. Aziza tinha aquela energia de quem não pedia licença pra existir. Era força em forma de mulher. E andava pela casa do Caio como se tivesse
[NARRADO POR ALANA] A casa tava muda. Mas o corpo dele… não. Sangrava em silêncio. Latejava. Como se cada cicatriz falasse alto demais. O Caio tava deitado no sofá, só de calça, peito marcado de roxo, corte aberto na costela, o ombro ralado e a testa com sangue seco. Eu ajoelhada no chão, com o kit de primeiros socorros no colo, tentando estancar mais do que ferida. — “Tu levou a pior,” — murmurei, limpando devagar o machucado perto da barriga. — “Devia tá no hospital.” — “Tô em casa. E tua mão é melhor que enfermeira.” — “Tu tá todo fodido, Caio.” — “E mesmo assim continuo gostoso.” — ele soltou, com aquele sorriso torto, de quem flerta até sangrando. Revirei os olhos. — “Tu quase morreu, idiota.” — “Quase não é morrer. E morrer não é opção.” — “Tu fala isso como se não tivesse se jogado no inferno rindo.” — “Eu ri mesmo. Sabe por quê?” — “Por quê?” — “Porque tava contigo no banco do lado.” Sacudi a cabeça, tentando esconder o sorriso que veio. Mas ele viu. Sempre
[NARRADO POR DANIELA VASCONCELLOS] O estalo da pasta sendo jogada na mesa ecoou no gabinete. — “Isso é piada, Vilela?!” Ele se encolheu, mas tentou manter a pose. O maldito sempre tenta. — “É o que os bombeiros e os policiais relataram. Carro em chamas, batida feia, dois corpos irreconhecíveis. Tudo indica que eram eles.” Eu caminhei até a janela. O céu de concreto da cidade refletia meu humor: cinza, carregado, pronto pra tempestade. — “Eles acham que eram eles.” — repeti, com sarcasmo no canto da boca. — “Mas tu me conhece. Eu não trabalho com ‘acham’. Eu trabalho com provas. Eu trabalho com certezas. E sabe o que isso aqui me cheira, Vilela?” Me virei de volta pra ele. Olho no olho. — “Encenação.” Ele tentou rebater: — “Mas teve perícia, teve—” — “E nenhuma identificação confirmada.” — interrompi, seca. — “Dois corpos carbonizados. Ninguém tem vídeo. Nenhuma porra de câmera pegou o momento da batida. Tu quer mesmo que eu engula isso?” Ele abaixou o olhar. — “A senhora
[NARRADO POR CAIO – O MURALHA] O portão do beco se abriu com o chiado velho de sempre. E quando bati o pé no chão da minha quebrada, deixei escapar, num sussurro: — “Enfim… em casa.” Alana parou do meu lado. Olhou pro alto do morro como quem encara um passado que não cabe mais na roupa. — “É estranho.” — “O quê?” — “Voltar pro morro… depois de ter saído daqui pra ser policial.” O silêncio engoliu o fim da frase dela. Mas eu sentia. Tava tudo ali na respiração dela — o peso, a dúvida, a culpa. E mesmo assim, ela veio. Comigo. Contra o mundo. Subimos o corredor apertado, o barulho dos cachorros latindo, grito de criança na laje, e o céu cinza virando teto de cimento. Abri a porta da minha casa. Não era mansão, nem castelo. Mas era meu trono. Nosso abrigo agora. Ela entrou devagar, passando a mão pela parede, como se sentisse o tempo acumulado ali. O cheiro do incenso velho, o sofá puído, o lençol jogado no canto. Tudo parado. Menos a gente. Ela sentou no sofá. Ficou cal
Último capítulo