capítulo 10

NARRADO POR MURALHA

Cheguei na entrada do beco de trás do bar da Elza, com a moto ainda quente e o coração mais quente ainda.

Ali não tinha câmera, nem curioso. Só mato, esgoto aberto e silêncio de quem sabe que boca fechada vale mais que ouro.

Acendi um cigarro, encostei na parede descascada e esperei.

Dois minutos depois ele veio.

Fardado.

Fingindo que era só mais um.

Mas eu conheço o jeito de andar, o olhar, o veneno disfarçado. Aquilo ali era sangue meu.

Julião.

Meu primo.

Filho de ninguém, criado no meio do pó e da guerra.

— “Tá bonito, hein, desgraça?” — falei com deboche, soltando a fumaça. — “Farda passada, cara de anjo… quase enganei.”

Ele gargalhou, jogou a mochila no chão e puxou um cigarro do bolso.

— “Quase é o caralho. Eu engano mesmo. Tão achando que eu sou soldado modelo. Mas eu já sei quem manda, quem mama e quem tá vendendo arma da base por fora.”

— “E a Alana?”

Ele puxou forte o trago. Olhou pra mim por baixo do boné.

— “Tão cercando ela. Na moral. A coronel tem ódi
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