NARRADO POR MURALHA
Cheguei na entrada do beco de trás do bar da Elza, com a moto ainda quente e o coração mais quente ainda.
Ali não tinha câmera, nem curioso. Só mato, esgoto aberto e silêncio de quem sabe que boca fechada vale mais que ouro.
Acendi um cigarro, encostei na parede descascada e esperei.
Dois minutos depois ele veio.
Fardado.
Fingindo que era só mais um.
Mas eu conheço o jeito de andar, o olhar, o veneno disfarçado. Aquilo ali era sangue meu.
Julião.
Meu primo.
Filho de ninguém, criado no meio do pó e da guerra.
— “Tá bonito, hein, desgraça?” — falei com deboche, soltando a fumaça. — “Farda passada, cara de anjo… quase enganei.”
Ele gargalhou, jogou a mochila no chão e puxou um cigarro do bolso.
— “Quase é o caralho. Eu engano mesmo. Tão achando que eu sou soldado modelo. Mas eu já sei quem manda, quem mama e quem tá vendendo arma da base por fora.”
— “E a Alana?”
Ele puxou forte o trago. Olhou pra mim por baixo do boné.
— “Tão cercando ela. Na moral. A coronel tem ódi