Capítulo 2 — Onde eu piso, o chão treme(Narrado por Muralha)O morro acorda quando eu respiro.E quando eu piso… o chão sente.Já eram quase sete da manhã. O sol começava a se infiltrar por entre os barracos, mas aqui em cima, a luz não manda em porra nenhuma.Quem manda sou eu.Desci pro quintal. A vista era absurda.Dava pra ver a cidade mentindo tranquilidade lá embaixo — carro passando, criança indo pra escola, gente correndo atrás de salário mínimo achando que é livre.Aqui em cima, a gente sabe o que é liberdade:mandar, sem ter que explicar.A moto já me esperava.Duas rodas com alma de tanque.Subi nela como quem sobe num trono — armado, pronto, invencível.— “Vamos?” — perguntou o piloto, o Foguete, um novato que ainda tremia na hora de me olhar no olho.— “Toca pra base.”Descemos. Devagar.Os vielões se abriram como se o morro se curvasse.A vizinhança fingia normalidade — a mulher estendendo lençol sujo, o menino brincando com pneu, o rádio no pagodinho antigo.Mas bastav
Ler mais