Duas mulheres vivem realidades paralelas, conectadas apenas por uma tela: Luna, uma jovem solitária que sobrevive ao bullying escolar publicando lives sensuais, e Sophia, uma poderosa vice‑presidente de empresa em busca de inovação. Quando Sophia descobre a misteriosa performer, nasce uma obsessão recíproca. Seus mundos colidem na Faculdade de Tecnologia, onde Luna é contratada para liderar um ambicioso programa de inovação. Entre desejos ocultos e máscaras de poder, elas terão de enfrentar suas próprias emoções — e a possibilidade de um encontro que pode explodir tudo. ( ATENÇÃO: O ESTILO DO TEXTO É CORRIDO. )
Ler mais“O mundo era como uma bomba-relógio, prestes a explodir.”
Luna Ferreira : Luna caminhava descalça pelas ruas da cidade, os pés desprotegidos tocando o asfalto frio, sentindo cada pedrinha como um lembrete de sua própria vulnerabilidade. O céu estava encoberto, carregado, como se refletisse seu estado de espírito. Sentia-se esmagada por uma solidão que não pedia licença, uma presença constante que a seguia por onde quer que fosse. O peso do desespero se agarrava a seus ombros, tornando cada passo uma luta silenciosa. O bullying na escola havia se tornado uma rotina cruel, um ciclo sem fim. Risadinhas abafadas nos corredores, mensagens maldosas deixadas em sua mesa, empurrões discretos que os professores fingiam não ver. A indiferença dos adultos era o que mais a fería. Não era apenas o desprezo dos colegas — era o silêncio cúmplice daqueles que deveriam protegê-la. Era como gritar em um quarto vazio, esperando que alguém ouvisse. Chegar em casa não trazia alívio. O apartamento pequeno e silencioso era mais um reflexo do abandono que sentia. Seus pais estavam ausentes há mais de duas semanas, envolvidos em trabalhos distantes e telefonemas cada vez mais curtos. A geladeira quase vazia lembrava-lhe que o tempo estava passando, e ela precisava agir. Tentou, sem sucesso, arrumar empregos de meio período. Sempre que ia a uma entrevista, voltava com um olhar ainda mais desiludido. As portas se fechavam com sorrisos ensaiados e desculpas repetidas: “Você ainda é muito jovem”, “Falta experiência”, “Estamos com a equipe completa no momento”. Cada recusa era mais um tijolo no muro que a separava do resto do mundo. Naquela noite, cansada da mesma rolagem infinita no celular, um post inesperado surgiu em seu feed: um usuário comentava sobre um aplicativo onde pessoas ganhavam dinheiro postando vídeos. A curiosidade despertou algo nela — um lampejo de esperança misturado com desconfiança. Pesquisou por horas, investigando a plataforma, e descobriu que se tratava de conteúdo adulto. Não era o que esperava… mas, ao mesmo tempo, não era totalmente descartável. Hesitante, foi até o guarda-roupa e tirou uma fantasia que guardava há tempos — uma peça que usara uma única vez em uma festa à fantasia, muito antes de tudo ruir. Colocou a roupa lentamente, os dedos tremendo. O espelho refletia uma imagem que ela mal reconhecia: curvas marcadas, quadris generosos, busto de tamanho moderado — natural, sem silicone, como sempre preferiu. Era bonita, mesmo que raramente se sentisse assim. Com a câmera posicionada de forma a esconder seu rosto, tirou uma foto. Algo sensual, sugestivo, mas ainda envolto em mistério. Publicou. Dois dias haviam se passado desde seu aniversário de dezoito anos. A maioridade, para ela, não representava liberdade — representava a obrigação de sobreviver por conta própria. Era seu último ano na escola e, sem perspectivas de faculdade, decidiu que ia ganhar a vida do seu jeito. Se isso significava mostrar mais pele do que gostaria, que fosse. Afinal, ninguém mais parecia disposto a ajudá-la. Sophia Montenegro Sophia chegou cedo à sede de sua empresa, como de costume. Seus saltos ecoavam pelos corredores ainda vazios, o som ritmado soando como um lembrete de sua presença firme. O blazer alinhado, os cabelos longos perfeitamente penteados, o rosto sereno — tudo nela exalava autoridade e domínio. Era admirada, temida e, acima de tudo, respeitada. Mas o que a fazia crescer naquele ambiente corporativo implacável era a sua capacidade de manter tudo sob controle. Ou quase tudo. Naquela manhã, a notícia veio como uma punhalada pelas costas. Informações confidenciais sobre o novo produto haviam sido vazadas. O lançamento — meticulosamente preparado há meses — agora corria o risco de ser antecipado pelos concorrentes. Um abalo que, para qualquer outro CEO, significaria desastre. Para Sophia, era guerra. — Quero que vocês descubram quem fez isso e o demitam imediatamente. — Sua voz cortou o ar da sala como uma lâmina afiada. Olhos se arregalaram, dedos correram pelos teclados. A equipe de investigação foi mobilizada e o ritmo no prédio acelerou, como se o próprio edifício sentisse a tensão. Enquanto os investigadores se debruçavam sobre registros, rastros digitais e suspeitas internas, Sophia se trancou em sua sala. Ela precisava agir. Não havia tempo para hesitações. Rejeitou layout após layout, exigente, meticulosa. Até que, finalmente, escolheu aquele que traduzia com mais fidelidade a identidade do produto. Lançou-o antes do meio-dia, atravessando a equipe de marketing como um furacão. No início da tarde, estava em uma reunião com investidores. No fim do dia, revisava relatórios com a mesma precisão de um cirurgião. Cada número, cada estatística era uma peça em seu tabuleiro, e ela se recusava a perder. Quando a noite finalmente caiu sobre a cidade, a escuridão trouxe consigo o cansaço acumulado. Em sua sala, sob a luz fria do monitor e com uma xícara de café entre as mãos, Sophia deixava, pouco a pouco, que a tensão abandonasse seu corpo. A porta se abriu. Jacqueline entrou com um sorriso discreto. A secretária — e melhor amiga — era uma das poucas pessoas que conseguiam ultrapassar as defesas de Sophia. — Senhora, o lançamento foi um sucesso. O público respondeu bem, o layout teve ótima aceitação. — A voz de Jacqueline era uma brisa após o furacão. Sophia fechou os olhos por um breve momento. Soltou um suspiro lento. Havia vencido mais uma batalha. Já passava das dez da noite quando deixou a empresa. A cidade, agora silenciosa e vazia, parecia finalmente ter lhe dado uma trégua. Dirigia pelas avenidas iluminadas, buscando distração. Pegou o celular durante um sinal vermelho e abriu o aplicativo de streaming que baixara recentemente, mais por curiosidade do que por interesse genuíno. Foi então que a viu. A nova streamer tinha um perfil discreto, quase amador. As fotos — sensuais, ousadas, mas sem mostrar o rosto — eram diferentes das que via todos os dias naquele aplicativo saturado. Havia algo nela… uma mistura de inocência e ousadia. As fantasias que usava sugeriam uma personagem, uma narrativa escondida em cada clique. Havia corpo, sim — curvas desenhadas com precisão quase cinematográfica — mas também havia mistério. Um charme que hipnotizava. Sophia curtiu todas as fotos. Não era algo que costumava fazer, mas não hesitou. Seu interesse crescia como fogo em palha seca. Quem era essa mulher que se escondia por trás de poses provocantes e de uma câmera estratégica? Com os dedos ainda tocando a tela, Sophia desviou o caminho. Em vez de ir para casa, dirigiu até o clube onde costumava ir para relaxar depois de semanas intensas. Hoje, no entanto, o desejo era outro. Queria comemorar o sucesso do dia. Queria esquecer o vazamento, a pressão, a fachada. E, no fundo, queria alimentar aquela curiosidade pulsante que se instalara em seu peito.Anos depois, uma nova manhã despertava a casa. Havia brinquedos no tapete, espalhados como se tivessem sido abandonados em uma explosão de alegria. Roupas pequeninas penduradas no varal da varanda, secando ao sol, com um leve cheiro de sabão em pó. Uma mochila da escola caída perto da porta, com um chaveirinho de dinossauro balançando ao vento, como se estivesse vivo. E no centro de tudo — como o sol entre constelações — havia uma criança. Ela se chamava Clara. Tinha os olhos curiosos e os gestos decididos, como quem sabia que era amada antes mesmo de entender o que isso significava. Tinha sido adotada com quatro anos, depois de muitas visitas, testes, conversas, esperas. Mas o instante em que correu para os braços de Sophia e Luna pela primeira vez foi o mesmo instante em que a palavra "família" ganhou uma nova definição no dicionário do mundo. Naquela manhã, Clara pintava. Sentada no chão, concentrada, rabiscava o que dizia ser "nossa casa voando". Sophia, do sofá, observava com u
As manhãs em Barcelona tinham um gosto diferente. Era como se o tempo passasse mais devagar ali — ou talvez fosse apenas o modo como Sophia aprendia a viver quando estava ao lado de Luna. O sol atravessava os vitrais coloridos da sacada e desenhava mosaicos no chão da sala. Era ali, entre almofadas espalhadas, livros abertos e o farfalhar dos dias simples, que elas aprenderam o que era paz. Houve dias difíceis no início. Ajustes de rotina, saudades do Brasil, barreiras com o idioma. Mas também houve dias sublimes. O primeiro dia em que Luna levou Sophia à praia de Barceloneta com os cabelos ainda molhados do banho e os dois pés descalços na areia quente. O dia em que Sophia acordou com a cama vazia, apenas para encontrar Luna na cozinha, de moletom e uma colher na mão, sorrindo com a panela de brigadeiro. E claro, houve o dia do cachorro. Ele surgiu como um acaso — ou uma armadilha do destino. Luna viu o bichinho encolhido embaixo de um banco na Praça de Sant Felip Neri, tremendo,
A luz de Barcelona tinha um jeito curioso de tocar as coisas. Suave, quase tímida, como se respeitasse os cantos do novo lar de Luna e Sophia. No apartamento em que viviam, havia agora vestígios de algo ainda mais raro que a paz: planejamento para um futuro conjunto. Vestígios de casamento. ** A decisão de se casarem fora recebida com entusiasmo pelos poucos amigos próximos que sabiam da relação. Bruno e Letícia, por vídeo, brindaram com café mesmo sendo manhã no Brasil. O sorriso deles era genuíno — e Luna sentiu que, apesar de todas as pontes quebradas, ainda havia laços que resistiam ao tempo e às distâncias. — O que você quer do nosso casamento? — Sophia perguntou certa noite, com a cabeça no colo de Luna enquanto assistiam à chuva cair na varanda. — Quero que tenha verdade — respondeu ela. — Que tudo o que a gente colocar ali seja nosso. Nem pompa, nem clichê. Só a gente. Sophia sorriu, brincando com o anel no dedo da noiva. — Então a gente faz do nosso jeito. ** Os dias
Barcelona era viva, pulsante, feita de curvas orgânicas e ruas que sussurravam histórias em cada esquina. Para Luna, a cidade parecia feita sob medida para um recomeço — ou talvez para um começo verdadeiro, livre de medos e disfarces. Elas haviam se mudado há pouco mais de um mês. O apartamento novo ficava num prédio antigo, com varandas cheias de hera e janelas altas que deixavam a luz entrar como um abraço. Sophia tinha conseguido transferir parte de suas responsabilidades para a filial europeia da Stuart & Co., e Luna havia sido convidada a integrar um projeto de inovação e saúde mental com startups locais. Mas não era só a paisagem que havia mudado. Desde a ruptura definitiva com os pais, Luna parecia mais centrada. Mais em paz. Ainda havia dias nublados por dentro, memórias que vinham de mansinho — mas agora ela as recebia com a mão de Sophia entrelaçada à sua. ** Era fim de tarde quando Sophia sugeriu o passeio. Não explicou muito — só pediu que Luna vestisse algo confortáv
A notícia chegou de forma quase banal: um e-mail formal, assinado com sobrenomes familiares, pedindo uma reunião. Luna encarou a tela do notebook com o estômago encolhido. O assunto era frio: “Reunião familiar - interesse em reconciliação e investimentos futuros”. Mas ela soube no mesmo instante — eram seus pais. Dois anos sem contato. Três anos e meio desde que a abandonaram. O que antes parecia um capítulo fechado agora voltava como uma sombra que se estendia pelos cômodos da nova vida que ela construíra com tanto esforço. Sophia apareceu na sala pouco depois, carregando duas canecas de café. Parou ao vê-la estática diante do notebook. — Luna? — perguntou com cuidado. — O que houve? Luna virou a tela sem dizer nada. Sophia leu o e-mail em silêncio, seu rosto ficando cada vez mais sério. — Eles têm coragem… — murmurou. — Depois de tudo? Luna assentiu, o maxilar tenso. — Querem marcar um jantar. Disseram que “estão de volta ao Brasil por um período indeterminado” e que
A primeira caixa foi a mais difícil de fechar. Luna passou a mão pelos objetos como quem acaricia fragmentos de si mesma: cadernos da faculdade, protótipos antigos do aplicativo, a caneca azul-clara que Sophia dera logo após a primeira apresentação, uma echarpe esquecida no fundo da gaveta que ainda cheirava a perfume barato e noites mal dormidas. — A gente tá mesmo fazendo isso, né? — murmurou, sentada entre caixas e sacolas, com o sol da tarde entrando pelas janelas. — Estamos. E não tem mais volta — respondeu Sophia, que se ajoelhou ao lado dela e beijou seu ombro de leve. Barcelona. O nome já havia se infiltrado nos detalhes do dia: contratos de transferência, passagens, aluguel temporário, apostilamento de diplomas. Sophia fora nomeada diretora da filial europeia da Stuart & Co., e Luna poderia finalmente se dedicar à gestão remota do app, com liberdade para estudar, crescer — e recomeçar, ao lado da mulher que mudara tudo. Elas tinham três meses até o embarque. Mas o tempo
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