As manhãs em Barcelona tinham um gosto diferente. Era como se o tempo passasse mais devagar ali — ou talvez fosse apenas o modo como Sophia aprendia a viver quando estava ao lado de Luna. O sol atravessava os vitrais coloridos da sacada e desenhava mosaicos no chão da sala. Era ali, entre almofadas espalhadas, livros abertos e o farfalhar dos dias simples, que elas aprenderam o que era paz.
Houve dias difíceis no início. Ajustes de rotina, saudades do Brasil, barreiras com o idioma. Mas também houve dias sublimes. O primeiro dia em que Luna levou Sophia à praia de Barceloneta com os cabelos ainda molhados do banho e os dois pés descalços na areia quente. O dia em que Sophia acordou com a cama vazia, apenas para encontrar Luna na cozinha, de moletom e uma colher na mão, sorrindo com a panela de brigadeiro.
E claro, houve o dia do cachorro.
Ele surgiu como um acaso — ou uma armadilha do destino. Luna viu o bichinho encolhido embaixo de um banco na Praça de Sant Felip Neri, tremendo,