Ecos do Prazer

Luna permaneceu imóvel por longos segundos depois que a live foi encerrada. A respiração ofegante ainda martelava contra o silêncio do quarto. As mãos, agora paradas sobre os próprios joelhos, tremiam levemente — não de medo, mas de uma excitação nova, diferente de tudo o que já sentira. Um tipo de poder pulsando sob a pele. Ela nunca imaginara que o toque sobre si mesma, transmitido por uma câmera barata e embalado por uma fantasia de coelha, pudesse provocar tamanha reação — não só em quem a assistia, mas nela própria.

O corpo ainda vibrava com os ecos do prazer, mas era a mente que parecia em combustão.

Ela se levantou devagar, tirando a meia arrastão como quem desfaz um feitiço. A roupa colava à pele úmida, e quando passou o tecido frio de um lenço umedecido entre as pernas, estremeceu de novo, lembrando-se do momento exato em que percebeu… havia alguém do outro lado que realmente a via.

A notificação tinha surgido entre centenas. Um valor alto, acompanhado de uma frase simples, mas cortante:

“Quem é você?”

Foi essa pergunta que a fez tremer de verdade. Não o dinheiro. Não a provocação. Mas o peso de alguém querer saber mais. De alguém desejar vê-la além da carne.

Luna mordeu o lábio, agora sentada na cama, olhando para a tela do celular. O nome de quem havia feito a doação estava oculto por um pseudônimo comum. Sem foto. Sem pistas.

Ela respondeu com um gesto. Um olhar. Um sorriso enviesado. Uma provocação muda.

Mas agora, sozinha no escuro, questionava-se se não tinha ido longe demais.

Ou se, finalmente, estava indo na direção certa.

A água do chuveiro caiu sobre ela como uma bênção fria. Queria dormir, mas o corpo ainda fervia. E mais do que o desejo, era o sentimento de ter sido vista, notada, desejada — como mulher, não como fardo — que a mantinha desperta.

Do outro lado da cidade, Sophia não conseguiu dormir.

A taça de vinho permanecia pela metade. Os olhos, vidrados no teto do quarto, insistiam em reproduzir a imagem daquela mulher. Os movimentos. A boca. O silêncio. A provocação. E, principalmente, o não saber.

“Quem é você?” — a pergunta ecoava em sua cabeça como um sussurro lascivo.

Ela já havia visto centenas de mulheres naquele aplicativo. Algumas com corpos impecáveis, outras com técnicas dignas de filmes adultos. Mas nenhuma delas ficara em sua mente como aquela garota escondida por uma fantasia de coelha e sombras projetadas com sensualidade quase amadora.

Foi justamente esse detalhe que acendeu o alarme no fundo do seu instinto: a autenticidade.

Não era performance ensaiada. Era necessidade. Desejo cru. Algo selvagem que escapava do controle, mesmo quando ela tentava manter a pose.

Sophia se tocara assistindo àquela live, sim. E gozara sozinha no sofá como uma mulher que há tempos não sentia nada que não fosse poder ou raiva. Mas o que mais a incomodava agora era o depois. A ausência de resposta. O mistério.

Sentada à beira da cama, com o robe entreaberto, acendeu um cigarro — hábito que prometera largar há anos, mas que reaparecia sempre que algo a tirava do eixo. O gosto da fumaça, quente e amargo, era quase reconfortante. Mais reconfortante, certamente, do que a ideia de estar obcecada por uma desconhecida com orelhas de coelha.

O celular vibrava com mensagens do trabalho, mas ela as ignorava.

Queria saber quem era aquela mulher.

Na manhã seguinte, Sophia fez o que fazia de melhor: investigou.

Chamou discretamente o programador-chefe do aplicativo, sob o pretexto de testar a segurança da plataforma para uso corporativo. Queria saber se havia como identificar o IP, rastrear usuários, qualquer coisa que pudesse lhe dar uma pista. O homem respondeu que sim, mas que isso violaria regras internas de privacidade. Ela acenou, compreensiva, e soltou um sorriso frio.

Ela sempre encontrava um jeito.

No entanto, decidiu ir com calma. Tentar puxar o fio sem rasgar o véu. A primeira ação foi seguir o perfil da streamer. Aguardaria a próxima live. Talvez, com sorte, ela falasse mais, deixasse escapar algo, uma dica, uma palavra. Sophia não tinha pressa. Ela sabia esperar.

Luna, por outro lado, sentia o corpo cansado, mas o coração estranhamente leve. Passou o dia seguinte com os olhos semicerrados, imaginando se deveria ou não voltar a fazer outra live. Mas quando viu a quantidade de curtidas, mensagens e, principalmente, a doação generosa… o medo deu lugar à adrenalina.

Ela tinha algo. Talvez não fosse inteligência reconhecida. Nem beleza de comercial. Mas ela tinha o poder de fazer alguém tremer do outro lado da tela.

Ela sempre sonhara em ser vista. E agora, alguém a procurava.

À noite, colocou o celular sobre o colchão e olhou para a tela. Havia uma nova notificação: seguida por “LadyInSilk”. Nome elegante. Frio. Misterioso.

Era ela. Luna sabia.

O jogo começava a mudar.

Enquanto isso, Sophia examinava o perfil da streamer. Reviu as fotos antigas. Os vídeos curtos. Tentava identificar algum padrão. Um detalhe no fundo do quarto. Uma textura na parede. Um livro na prateleira. Queria desvendar o enigma sem que a jovem percebesse.

Mas quanto mais olhava, mais se perdia. A fantasia de coelha, que em qualquer outro contexto pareceria cafona, ganhava nela uma aura de mistério perverso. Um convite.

Sophia fechou o notebook e foi até o quarto.

Tocou-se novamente naquela noite.

Mas dessa vez, disse o nome em voz baixa:

— Quem é você…?

Como se a pergunta pudesse atravessar o vidro da tela e alcançar a pele da garota.

Como se o desejo, tão reprimido em sua vida controlada, estivesse prestes a explodir como a bomba-relógio que ela própria ignorara.

E no fundo, Sophia sabia: ela não estava mais no controle.

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