Capítulo 5 – A isca ou a arma
Dominic girou lentamente o pulso, como se estivesse afinando o tempo do próprio jogo. O olhar dele não vacilava, como se cada respiração de Valentina fosse parte de um interrogatório silencioso. — Sabe qual é a beleza disso tudo, princesa? — A voz dele era baixa, mas carregada de veneno doce. — Você entrou no meu mundo achando que estava no comando… e agora está sentada no meio de um tabuleiro que eu controlo desde o início. Ela fechou a mão em volta da faca, tentando segurar firme o pouco que restava da sua confiança. — Então fala de uma vez. O que acha que sabe? Dominic se inclinou para frente, as correntes de seus pulsos rangendo. — Sei que o homem que você queria… não é apenas o responsável pela falência do seu pai. Ele também é a razão pela qual sua mãe… nunca mais foi a mesma. O sangue sumiu do rosto de Valentina. — Cala a boca. — Acertei em cheio, não é? — Ele sorriu, satisfeito. — Eu faço a lição de casa, princesa. Sempre. Rafael deu um passo lento ao lado dela, como uma sombra que se aproximava para lembrá-la que não tinha saída. Victor girava a chave inglesa nas mãos, o som metálico marcando o tempo que Dominic parecia controlar. — Agora me diga… — Dominic apoiou o queixo nas mãos, quase casual. — Você está atrás dele para matá-lo… ou para algo muito pior? Valentina tentou manter o silêncio, mas o olhar dele a despia de qualquer defesa. — Posso facilitar para você — continuou ele, com um meio sorriso. — Me diga tudo o que sabe… e talvez eu até te ajude. Ela riu, seca. — Ajudar? Por quê? — Porque o homem que você quer… — Dominic inclinou-se ainda mais, os olhos queimando nos dela — …também está na minha lista. O coração de Valentina disparou. Não sabia se tinha acabado de encontrar um aliado improvável… ou o predador mais perigoso de todos. Valentina manteve o queixo erguido, mas por dentro as palavras dele ainda reverberavam como uma ameaça disfarçada de promessa. — Você está blefando. Dominic arqueou uma sobrancelha, quase divertido. — Princesa… eu não blefo. Ele fez um leve gesto com o queixo para Rafael, que caminhou até uma bolsa jogada num canto do galpão. De lá, tirou um envelope pardo e o colocou sobre as pernas de Dominic. Com as mãos ainda amarradas, Dominic usou apenas os dedos para puxar o conteúdo: três fotos, um recorte de jornal e uma folha impressa com números e datas. Ele deixou as imagens caírem sobre o chão, espalhando-as como cartas num jogo. Valentina sentiu o estômago virar. As fotos eram nítidas: seu alvo saindo de um restaurante de luxo com dois homens de terno, sorrindo para câmeras que não pareciam ser da imprensa. O recorte de jornal falava sobre “negócios milionários com licitações públicas” e “investigações engavetadas”. A folha impressa… trazia o nome do pai dela. — Reconhece? — perguntou Dominic, a voz baixa, quase um sussurro. — Eu sei que reconhece. Ela desviou o olhar, mas era tarde demais. Ele já tinha visto a reação. — Esse homem — Dominic continuou, arrastando as palavras — me deve algo muito maior do que dinheiro. E, ao que parece, também te deve… sangue. Victor se inclinou sobre a cadeira, apoiando-se nos joelhos. — Então, Ferraz… ela é útil ou é um problema? — Ainda não decidi — respondeu Dominic, sem tirar os olhos dela. — Mas sei que uma coisa é certa: agora que entrou nisso… vai sair comigo ou vai sair morta. Valentina sentiu a respiração prender. Pela primeira vez, não sabia se devia lutar contra Dominic… ou aceitar que a única chance de chegar ao seu alvo era se alinhar com ele. E Dominic… parecia estar apostando exatamente nisso.