Capítulo 4 – Três predadores e uma presa
O homem que entrou fechou a porta atrás de si, abafando o som da rua. Alto, imponente, ombros largos sob um sobretudo preto, ele não parecia apressado. Cada passo ecoava como se marcasse o ritmo da respiração de Valentina. Os olhos dele, frios e avaliadores, pousaram primeiro em Dominic. — Sempre arruma um jeito de estar no centro do caos, não é, Ferraz? Dominic sorriu como se estivesse reencontrando um velho parceiro de crime. — E você sempre chega quando o jogo está prestes a ficar interessante, Rafael. Valentina prendeu o ar. O nome não lhe dizia nada, mas a forma como Dominic o pronunciou deixava claro que não era um simples conhecido. Rafael desviou o olhar para ela, estudando-a com calma, como quem avalia uma peça rara antes de decidir seu valor. Não havia pressa, nem hostilidade aberta — apenas uma curiosidade perigosa. — Então… é ela? — perguntou, sem tirar os olhos de Valentina. — É ela — confirmou Dominic, o tom carregado de algo que soava quase como satisfação. — A mulher que me sequestrou… e não faz ideia do que colocou nas mãos. Rafael deu um meio sorriso, mas não era de humor. — E o que vai fazer com ela? Dominic não respondeu de imediato. Apenas manteve o olhar preso nela, como se quisesse que sentisse cada segundo de espera. — Acho que vou deixar que se comprometa sozinha. — Ele se inclinou para frente. — Então, princesa… vai contar para mim e para os meus amigos quem era o seu verdadeiro alvo? A garganta de Valentina secou. Três homens, três predadores, e ela no meio sem uma rota de fuga clara. E, pela primeira vez, começou a se perguntar se ainda queria que o seu alvo original fosse encontrado… ou se Dominic Ferraz já era um problema muito maior do que qualquer plano de vingança. Dominic recostou-se na cadeira como se tivesse todo o tempo do mundo, mas havia algo no olhar dele que denunciava: ele já sabia mais do que estava dizendo. — Sabe o que é curioso, princesa? — começou, cruzando os braços. — Você é cuidadosa. Planeja. Espera o momento certo para agir… mas ainda assim tropeçou bem na minha frente. Valentina manteve o silêncio, embora sentisse o sangue pulsar nos ouvidos. — Não foi um alvo aleatório. — Dominic falava como se estivesse revelando um truque simples. — Você tinha um nome, um rosto… e um motivo. Rafael, ainda encostado na porta, a observava com atenção. Victor, ao lado, parecia pronto para se mover a qualquer comando. — Se fosse dinheiro, você teria ido embora quando percebeu que pegou o homem errado — continuou Dominic. — Então não é sobre isso. É pessoal. Muito pessoal. Ele inclinou-se para frente, o tom mais baixo e afiado. — Me diz, Valentina… quem te fez querer sequestrar alguém tão desesperadamente… que acabou com o azar de cruzar o meu caminho? Ela respirou fundo, tentando manter a máscara. — Não é da sua conta. Dominic riu, mas não havia humor. — Engano número três da noite: tudo que me envolve… é da minha conta. Ele deixou um silêncio pesado se instalar antes de concluir: — E eu vou descobrir. Com ou sem a sua ajuda. O som do metal da chave inglesa girando nas mãos de Victor voltou a ecoar, e Rafael se afastou da porta, dando um passo na direção dela. Valentina percebeu que não importava o que dissesse — naquele momento, a balança já estava pendendo perigosamente para o lado deles. E Dominic… não parecia ter pressa de deixá-la escapar. Ele se inclinou na cadeira, apoiando os cotovelos nos joelhos, como se estivesse prestes a contar um segredo. O sorriso dele era calmo demais para não ser calculado. — Sabe, princesa… eu gosto de estar preparado. Mesmo quando a situação parece fora do meu controle. — Ele fez uma breve pausa, os olhos verdes fixos nos dela. — E acontece que… eu já sei quem você é. Valentina sentiu um arrepio gelado subir pela espinha. — Não sabe nada sobre mim. — Sei que seu nome é Valentina Costa. — A forma como ele pronunciou soou como uma sentença. — Sei onde você mora, e sei que seu pai perdeu tudo em um “negócio” que nunca foi exatamente limpo. O estômago dela afundou. — Ah, e tem mais. — Dominic recostou-se, cruzando as pernas como se a conversa fosse casual. — Sei exatamente quem você queria sequestrar… e por que. O silêncio que se seguiu parecia mais alto que qualquer grito. Victor