Mundo ficciónIniciar sesiónMalrik é um homem moldado para a violência. Seu dom é matar. No Hospital Wayne Memorial, ele e seus irmãos comandam vida e morte de pessoas comuns a mafiosos. Alita é uma mulher marcada pela violência. Cega e submissa ao pai, ela vive pelo momento em que poderá viver em paz com sua irmãzinha. Pode ter nascido no berço da máfia italiana, ela não pode escolher seu marido. Malrik Kaelen Wayne foi o escolhido por seu pai. Mas há um segredo entre eles que pode levar esse casamento a uma guerra. Venha acompanhar Malrik e Alita nesse conturbado e apaixonante casamento arranjado.
Leer másAlita
Maio de 2025
Estamos os três à mesa. A família feliz de comercial de margarina. A ilusão que muitos buscam, sem saber o que há por trás.
— Você vai se casar, Alita. — A voz do meu pai toma conta da sala, calma como sempre. O tipo de tom de quem é acostumado a ser obedecido.
O garfo treme em minha mão enquanto tento controlar o pavor e a esperança que essa frase trouxe.
— Jura, papai?! — Celeste, minha irmã, comemora empolgada. Para ela, que só tem dez anos, o casamento é um sonho. Ela ainda não descobriu os pesadelos que essa palavra traz a mulheres como nós. E se depender de mim, jamais saberá.
Engulo seco, e faço a única pergunta importante.
— Quando quiser, papai. A Celeste poderá seguir comigo, como combinado?
— Se continuar sendo boazinha, pode sim. Só continue sendo essa menina obediente, mesmo após casada. — Os pelos do meu corpo se arrepiam de puro nojo com o significado obscuro de cada palavra.
— Sim, senhor. — Não há outra resposta além dessa. Como haveria? É meu dever proteger minha irmãzinha, mesmo que isso signifique que estou fechando os olhos para os crimes hediondos desse homem.
Celeste tagarela sobre mudança, maridos e príncipes. Suas covinhas ficam tão charmosas quando se empolga. É uma menina linda que gosta de se vestir como princesa. Hoje seu traje é inspirado em Branca de Neve.
Disfarço um suspiro de desgosto por termos tido o azar de nascer nessa família.
Se ela soubesse que tudo que mais quero é a chance de tirá-la de perto desse desgraçado que chamamos de papai.
— Terminamos por aqui. — Ele deixa o garfo bater na mesa, em um claro aviso que ninguém mais come.
Minha irmã e eu levantamos em silêncio. Pego minha bengala e sinto o braço de Celeste me guiando para fora da sala de jantar.
— Eu queria sobremesa — ela resmunga baixinho.
Sorrio.
— Mais tarde Doroti dá o jeitinho de sempre — digo sendo guiada pela minha irmã.
Não, eu não sou cega. Quando era uma garotinha de oito anos fiquei cega depois que meus irmãos mais velhos jogaram produtos químicos que estavam misturando em meus olhos. No mesmo dia que bati a cabeça contra a parede em um acesso de fúria do nosso pai, quando nossa mãe morreu. Mas foi por pouco tempo que fiquei sem visão, eu...
— Cuidado com as escadas. — Celeste me tira dos pensamentos me alertando sobre os degraus que vejo nitidamente através dos meus olhos de cores mortas.
A sigo. Deixo os pensamentos de lado. Tenho muito tempo para pensar nos anos de terror que vivi desde a morte da minha mãe, e como piorou quando meu pai descobriu que não sou sua filha de verdade.
— Irmã? — Celeste chama a minha atenção.
— Diga.
— Posso confessar uma coisa?
— Sempre, querida. É para isso que serve as irmãs mais velhas.
— Tenho medo que o seu marido seja um homem ruim e feio. Eu ouvi as empregadas conversando sobre isso. Disseram que o homem que o papai recebeu como visita era um monstro. Eu estava empolgada no jantar, mas ai lembrei disso. — Seu tom é de verdadeira preocupação. Não gosto de ver seu rosto assim, gosto das covinhas do seu sorriso.
Dou uma risada discreta. Conheço monstros. Tenho uma lista deles, mas o nome Malrik Kaelen Wayne não está nela. E para o bem dele, é melhor que nunca esteja.
— Eu também ouvi a mesma coisa, Cel. Você pesquisou o nome? Pelo que ouvi, ele não tem nada de feio. Pelo contrário. Soube que ele é quase um sósia daquele ator americano quando mais jovem... Acho que se chama Sylvester Stallone.
— Jura? Eu vi um filme dele. — Ela olha para os lados e sussurra. — Papai não pode saber. Mostra a bunda dele no filme.
Tento não rir, mas é impossível.
— Juro que não contarei. Mas a senhorita não tem idade para ficar vendo bundas na TV.
— Foi só uma vez. E nem vi tudo, as empregadas me expulsaram quando perceberam minha presença. — Ela aperta meu braço. — O importante é que o achei diferente, principalmente o rosto, uma beleza como nunca vi.
— Pois é. Não devo me preocupar com isso. Pelo menos foi o que ouvi das empregadas. Muitas vezes surgiu a palavra inveja na conversa.
Lembro de quando ouvi essa conversa. Elas me viram e uma delas teve a ousadia de dizer: “Não liga, ela é cega”. Quase ri na cara dela. Onde já se viu, cegos escutam, e escutam muito bem. E no meu caso, vejo também.
— Nossa! Agora quero pesquisar mais. — Celeste começa a me guiar mais rápido, até chegarmos ao meu quarto. — Se acomoda ai, vou no meu quarto buscar o celular e já volto.
Sou deixada na porta.
Mesmo sabendo que estou sozinha, mantenho o personagem e ando até a cama devagar, usando a bengala.
Me sento. Como previ, Doroti, a empregada que está na família desde que me entendo por gente, aparece com a desejada sobremesa. Ela deixa sobre a mesa no quarto e sai.
Não demora muito para Celeste chegar. Se passa quase uma hora com ela tagarelando sobre o homem, me descrevendo tudo que vê e lê sobre ele nas matérias que encontra no celular. Ela até achou uma pequena entrevista dele e colocou para que eu ouvisse a voz do meu futuro marido.
“Meu irmão foi um exemplo para essa sociedade, um exemplo na nossa família. E não descansarei enquanto a sua assassina estiver livre. Quero que ela pague por ter tirado o pai, o irmão, o marido, o amigo. Justiceiras se acham um deus, mas não passam de demônios que não distinguem o bom do mau. Ela vai pagar. É uma promessa de Malrik Kaelen Wayne.”
Engulo seco. Vai ser mais difícil do que pensei. Posso sentir pelo tom o quando ele adora seu irmão morto. E agora vai se casar com a assassina dele.
Me encolho na cama assim que Celeste fecha a porta atrás de si, indo para o seu quarto dormir. Fecho os olhos com tanta força que sinto minha cabeça doer.
— Casamento? — murmuro. — Casamento com o irmão daquele maledetto.
Espero muito que eles não sejam parecidos. Ou Malrik Kaelen Wayne vai parar no mesmo buraco que o irmão.
— Seja um bom homem, sua vida depende disso — murmuro sozinha.
Adormeço sem perceber, enquanto penso nas minhas opções. Afinal, preciso fazer esse casamento dar certo, pela minha irmã, para que ela fique longe de tudo que passo nessa casa.
Sobreviverei. Por você, Celeste. E por todas as mulheres e crianças que o sangue em minhas mãos salvou.
Alita— Você está esplêndida! — Celeste me abraça com força.O grande dia chegou. Um mês passou como um sopro.— Obrigada! — respondo sem muito ânimo.— É hoje o dia! Meu Deus! Acho que estou mais ansiosa que você. — Ela continua. — Queria que pudesse ver o quanto está linda.— Confio na minha irmãzinha. Não acredito que vá me deixar sair baranga.Ela ri.— Jamais, sua boba.Às vezes me dói mentir para minha irmã. Ela me ama tanto. Gostaria de contar a verdade, dizer que sei como ela está linda com seu vestido cor de rosa e os cabelos cheios de cachos caindo pelas costas. Uma princesa.— Com licença, cunhada. Está na hora. — Uma voz masculina se faz ouvir, fazendo Celeste olhar para porta. — Meu nome é Lance. Sou o mais bonito da família.Olha só! É bonitinho o sorriso da minha irmã em direção ao homem. Acho que ela encontrou seu primeiro interesse de menina. Já tive esse tipo de paixonite por um segurança da família. Era só sorrisos quando o via, mas nunca falei nada. Acho que já sen
Malrik— Tenho certeza que não foi esse o desejo do nosso pai quando disse que queria todos nós casados e com filhos antes dos quarenta. — Lance comenta. Estamos todos reunidos na casa principal, esperando as senhoras de casa. Desde que nosso pai morreu, suas esposas decidiram morar juntas na casa principal, onde a mãe de Lance mora.— Papai era um romântico. Tinha seus defeitos, mas ninguém poderia dizer que não amava suas mulheres e suas famílias. — Dominic responde.Adivinha o assunto... Sim, eu e meu casamento arranjado.— Ele tinha muito amor para dar. Aquele safado. — Lance desdenha. — Acho que puxei isso dele. Só não me vejo amarrado com meus amores.— Verá quando encontrar a pessoa certa.Sorrio de canto. É a voz da mãe dele.Viramos na direção da voz e vimos as três vindo em seus vestidos elegantes.— Finalmente desceram. Estava morrendo de fome. — Lance resmunga. Nossa família é uma bagunça organizada, se é que isso existe. Independentemente de quem é a mãe, somos unidos e
AlitaMe preparo para ir até a igreja. Como faço duas vezes na semana desde que descobri sobre meu verdadeiro pai. Espero que meu futuro marido permita que eu continue meus rituais. Vai ser difícil Alva fazer o trabalho dela se ele não permitir.Enquanto o motorista dirige tranquilamente pelo trânsito, fecho os olhos e me lembro da primeira vez que o conheci. Meu verdadeiro pai. Eu tinha acabado de descobrir por acidente o local secreto da minha mãe. Foi poucas horas antes de perder a visão, então tive que esperar muito pelo primeiro encontro.Parada na porta da igreja onde pedi que os seguranças me deixasse. Fiquei nessa posição até alguém tocar meu braço. — Desculpe, criança. Venha, eu te ajudo a entrar.Não digo nada enquanto sou conduzida.— Quer sentar?— Por favor. — Ele me ajuda a sentar. E eu estendo o papel que já está suado em minha mão de tão forte que aperto. — O senhor é o Padre Giuliano? Ele pega o papel, fazendo um sentimento de vazio se apossar de mim por perder o ob
Malrik— E então? É amanhã o grande dia, certo? — Dominic coloca o copo vazio sobre a mesa. Esse está beirando o alcoolismo. Graças a vadia da sua ex que fez de tudo para engravidar na surdina e agora usa sua filhinha como moeda de troca para tudo, quase não deixa meu irmão ver a garotinha e sempre a envenena sobre o pai a ter abandonado. Ele está por um triz de arrancar a cabeça da vaca.— É. O velho preparou um almoço para me entregar a encomenda.— Credo! Não chame a moça de encomenda.— Mulheres como ela são moedas de troca. É o preço por se nascer na máfia italiana.— Só que você me disse que a dona da porra toda é ela, que ela só não sabe.Assinto e bebo meu café.É verdade. Quando o velho veio me propor, ele contou que o testamento da esposa estava claro que ele administraria o dinheiro sem grandes movimentações, até que a filha se casar por amor. Pois é, a mulher era tola. No final das contas, o pai comprou o advogado para que não contasse para garota cega e comprou o marido —
AlitaOito meses antes do casamento...Posso ouvir o som de risadas vindo do outro cômodo. Aproveite seus últimos momentos, maledetto. Espero que ria, que conte aos seus amigos as merdas que fez na sua vida escrota, se vanglorie. Falta pouco. Esta noite farei com que esqueça o que é sorrir.Hoje ele vai implorar pela vida e pela morte, como todos os outros antes dele.Planejei algo bem especial para esse alvo. Vamos ver se vai gostar.Fico olhando pela janela enquanto as cenas do quarto ao lado passam sem som na tela do celular do meu pai.Cinco homens estavam com ele. Aos poucos um a um foram embora. Bêbados. O outro está sóbrio, disse que é para ver os irmãos, que acham que o maledetto é um santo.Pacientemente espero o momento certo, que vem quando ele tira a roupa e entra no banheiro.Facilmente uso meus pequenos equipamentos e abro a porta.O cara facilita, está com a cara toda suja de espuma. Totalmente desprevenido. Aposto que jamais imaginou o que vai acontecer agora.— Oi! —
AlitaUm ano antes...As pessoas me olham como se eu fosse uma aberração enquanto ando pelo Hospital Wayne Memorial. São só os pacientes novos e pessoas que nunca estiveram aqui. Quem faz parte do quadro recorrente já está acostumado com minha bengala e meus olhos assustadores. Mas para os novos, uma médica cega é no mínimo um absurdo. Só que não sou cega, muito menos médica. Meu trabalho aqui é ouvir e acalmar familiares e pacientes agitados. Afinal, quem se atreve a ser agressivo com uma baixinha cega?Quer saber como me tornei funcionária desse hospital com apenas dezoito anos e sem formação? Meu pai. A intenção dele é a imagem de filha obediente, sensível, prestativa... esse monte de bobagem que gosta de exibir para outras famílias. Foi a melhor coisa que fez por mim, pois foi aqui que Alva nasceu. A justiceira que faz por outras mulheres e crianças o que não pude fazer por mim.— Bom dia, senhorita Salvatore! — um dos médicos se aproxima de mim sorrindo.— Bom dia, Dr. Kaio! Como
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