Capítulo 3

Alita

Um ano antes...

As pessoas me olham como se eu fosse uma aberração enquanto ando pelo Hospital Wayne Memorial. São só os pacientes novos e pessoas que nunca estiveram aqui. Quem faz parte do quadro recorrente já está acostumado com minha bengala e meus olhos assustadores. Mas para os novos, uma médica cega é no mínimo um absurdo. Só que não sou cega, muito menos médica. Meu trabalho aqui é ouvir e acalmar familiares e pacientes agitados. Afinal, quem se atreve a ser agressivo com uma baixinha cega?

Quer saber como me tornei funcionária desse hospital com apenas dezoito anos e sem formação? Meu pai. A intenção dele é a imagem de filha obediente, sensível, prestativa... esse monte de bobagem que gosta de exibir para outras famílias. Foi a melhor coisa que fez por mim, pois foi aqui que Alva nasceu. A justiceira que faz por outras mulheres e crianças o que não pude fazer por mim.

— Bom dia, senhorita Salvatore! — um dos médicos se aproxima de mim sorrindo.

— Bom dia, Dr. Kaio! Como está?

— Cheio de trabalho, como sempre. Esperando uma certa italiana cheia de dinheiro casar comigo e me tirar dessa vida.

          Rio com sua cantada de sempre. Ele usa um tom de brincadeira, mas seus olhos não escondem que realmente quer isso.

          — Quem escolhe é meu pai. Precisa falar com ele.

          — Duvido que ele vai ser contra. Ninguém nega nada a uma princesa como você. E saiba que sou lindo, assim como a minha voz. Acredita em mim. Se apaixonaria por mim com certeza.

          É mentira. Ele é o tipo de gordo que não cuida da saúde e nem da aparência, diferente da maioria dos médicos aqui.

          — É possível, mas certamente meu pai te mataria depois de castrá-lo.

          — Ai, meu pobre brinquedo! — ele olha para a própria virilha. Evito seguir seu olhar. Afinal, uma cega não saberia o caminho de seus olhos.

          — Já está assediando minha futura noiva de novo, Kaio. Deixe a menina em paz. — Luke diz se aproximando e colocando a mão no ombro do colega.

          Esse é o exemplo de um dos médicos bonitos. É loiro, não muito alto, mas tem olhos azuis intensos e um corpo de quem sabe o que é saúde.

          — Vamos, Alita. Te levo até sua sala. Uma paciente quer falar com alguém. Isso está uma loucura hoje.

— Por falar em loucura, uma criança se perdeu pelo hospital. Justo a filha de um Wayne. Não quero nem imaginar o caos se essa criaturinha se machucar. Enfim, me deixe correr que tenho um paciente esperando na cirurgia para começarmos.

Ele fala e se vai.

— É justamente a mãe dela na sua sala te esperando. Está apavorada e ninguém acha a menina.

Luke me guia até a sala. Me deixa na porta.

Quando entro a primeira coisa que noto é o choro baixo.

— Senhora Wayne? — chamo seguindo até a minha mesa com o auxilio da bengala.

— Estou aqui. A senhora é...

— Cega? Sim. Isso é um problema?

— Na verdade, isso é um erro. Eu nem queria estar aqui. Falei com aquela médica que cai, mas ela insistiu em me mandar para você. É algum tipo de terapeuta?

— Pode se dizer que sim. Mas sou um tipo diferente. Pode-se dizer que só tenho ouvidos. Minha boca pode ser considerada tão inútil quanto meus olhos.

 — O que quer dizer com isso?

— Que se quiser desabafar sobre sua queda, esse é o momento.

— Só quero que achem minha filha. Essas pessoas incompetentes não conseguem manter uma criança enquanto atende. Se soubesse teria cuidado dela eu mesma. Meu marido vai ficar puto quando souber. Eu é que... — ela para de falar, assustada. Já conheci muitas mulheres como ela aqui. Mulheres que “caem” demais. Mais do que gostaria de conhecer.

Faz se um momento de silêncio, quebrado em seguida por uma batida na porta.

— Entre. — Permito.

A porta é aberta e uma menina morena linda passa correndo por ela e pula nos braços da mulher. Encontraram a pequena perdida.

— Ela estava brincando com algumas crianças. — Luke avisa. Olhando para a mulher, que está mais preocupada em abraçar e beijar a filha.

— Estou indo, Alita.

— Bom trabalho! — me despeço.

Ele sai.

— Já posso sair também ou preciso passar por um interrogatório?

— Isso não é uma delegacia. Só quero deixar claro que está segura entre essas paredes. Pode perguntar a qualquer um fora dessas portas, daqui só sai o que as pacientes desejam que saia.

Percebo que ela quer dizer algo, mas dessa vez a porta se abre sem que alguém bata. É quando o vejo e tudo em mim vira gelo. Cameron Wayne, o monstro no meu armário. Então esse é o marido.

Fica claro o que essa mulher está passando.

Ele vai até ela e abraça, mostrando preocupação por saber do sumiço da filha. Ela é alta, quase da mesma altura que ele, que deve ter pouco menos que 1,80. Magro, olhos azuis que transmite uma grande frieza. Cabelo castanho escuro, curto. O olhar de um predador covarde, que escolhe as vítimas mais fracas.

— Soube que aconteceu algo com nossa filha. Ela se perdeu.

— Está tudo bem. Ela só estava brincando com algumas crianças. Não se perdeu. Quem te falou isso estava exagerando.

— Isso é ótimo. Podemos ir? — ele me olha de relance. Não finge muito bem, talvez por estar entre suas vítimas. Dá um sorrisinho de deboche. Maldito.

— Sim. Já cuidaram do ferimento da minha queda.

Eles se despedem brevemente e saem com ele dizendo:

— Querida, você tem que ser mais cuidadosa. Poderia ter se machucado mais.

Assim que a porta se fecha atrás deles, solto a respiração, que nem lembro o momento em que prendi. Não estou com medo, nada disso. É só a emoção de sentir que esse é um sinal de que está liberado para matá-lo sem parecer pessoal. Pois se fosse uma vingança pessoal deveria começar pelo homem que chamei de pai por anos, e ele ainda não pode morrer, pelo bem de Celeste.

Cameron Wayne em breve vai conhecer seu lugar reservado no inferno. Foi nesse dia que decidi matar o irmão do meu futuro marido.

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