Júlia não lembrava quando exatamente tinha adormecido. Apenas fechou os olhos, e o mundo foi sendo apagado aos poucos, como uma fotografia antiga perdendo cor.
Mas quando abriu novamente… não estava mais no quarto.
Estava do lado de fora.
O ar tinha outro cheiro. A luz era diferente.
O tempo era outro.
A brisa fresca da serra soprava, carregando o aroma das padarias que abriam cedo, misturado ao cheiro do asfalto ainda úmido da madrugada. O barulho da rodoviária ao fundo — buzinas, motores, risadas apressadas — parecia tão familiar e tão distante ao mesmo tempo.
Ela conhecia aquele lugar.
E conhecia aquele dia.
14 de julho de 2005.
Seu coração reconheceu antes que sua mente entendesse.
Ela estava ali. Com dezessete anos. Mochila nas costas. Cabelos mais compridos. O olhar um pouco tímido, mas cheio de mundo.
E então…
Ele apareceu.
Guilherme.
Jovem demais. Riso fácil. A camiseta preta com o símbolo de uma banda que ela não lembrava mais qual era. O cabelo bagunçado pelo vento. Os olhos