O céu amanheceu encoberto, um cinza espesso que deixava tudo mais lento. Júlia estava cansada. Não fisicamente — aquilo era outro tipo de cansaço. Um que começava no peito, onde o coração guarda o que não pode falar.
Havia três dias desde o jantar com Guilherme.
Três dias desde que ela o viu sentado diante dela novamente.
Três dias desde que ele disse, olhando diretamente nos olhos dela, com a voz baixa demais para escapar:
“Ainda é você.”
Três dias, e ela ainda não conseguia respirar direito quando lembrava.
Mas ela estava tentando seguir.
Era o que ela sempre soube fazer.
Entrou no prédio do jornal NP com o café ainda quente nas mãos. A redação tinha aquele movimento familiar: telefones tocando, passos apressados, vozes abafadas, cheiro de papel e café velho. Era um espaço que ela dominava. Ali ela era segura. Ali ela tinha o controle.
Ou achava que tinha.
Até abrir a porta da sua sala.
O impacto foi silencioso — mas devastador.
Um buquê a aguardava sobre a mesa.
Rosas