Capítulo 34 — Interlúdio: O Jardim Silencioso
Na lembrança, a chuva acabara de passar. O ar estava pesado de terra úmida, e o quintal antigo, atrás do casarão, devolvia cores que a casa já não tinha. As paredes internas descascavam, as cornijas guardavam poeira de décadas, mas ali — no jardim — a beleza insistia. As rosas, de um vermelho quase insolente, abriam-se como se a umidade fosse uma ordem; os jasmins, discretos, soltavam um perfume fino, desses que não pedem licença. Helena caminhava devagar, os dedos tocando as pétalas com respeito que não se aprende em livro.
A avó a esperava junto à mesa de pedra — a mesma que, com o tempo, ganhara musgo nas bordas. Era uma mulher de postura ereta, elegância sem esforços e olhos que pareciam medir não pessoas, mas rumos. Sobre a mesa, repousavam três coisas: um pequeno frasco de vidro transparente envolto num tecido bordado, uma caixinha preta forrada de veludo e um broche antigo de metal escurecido, com uma pedra rubra, mínima, incrustada