Capítulo 35 — Santa Clara, Amanhecer
O porto de Santa Clara acordava devagar, como um animal imenso que se estica após o sono. A bruma do amanhecer ainda cobria parte das águas, deixando os mastros dos navios parecendo lanças que atravessavam o céu pálido. O ar estava carregado de sal, peixe fresco e ferrugem — uma mistura áspera, que não combinava com a elegância dos passos de Rafael, ajustando o casaco enquanto atravessava o calçamento irregular de pedra.
Ele se deteve diante de uma pilha de caixotes recém-descarregados. Fingiu fazer anotações em seu caderno, mas a verdade é que sua mente estava distante. O número 1190 queimava em seus pensamentos desde a noite anterior. Gravado em um papel envelhecido dentro da caixa, parecia mais do que uma pista: era um código, uma chave para algo que ainda não compreendia.
Por um instante, Rafael sentiu o peso do silêncio. Mesmo com o barulho das correntes, dos marinheiros gritando ordens, das rodas das carroças rangendo sob o peso das merc