A noite caiu sobre o hospital como um cobertor pesado e abafado. Lá dentro, as luzes frias continuavam acesas, indiferentes ao que o tempo lá fora insistia em esconder.
Rafael Moretti observava a cidade pela janela do oitavo andar. As ruas refletiam o brilho dos faróis como veias pulsando em meio à escuridão. Tinha encerrado a última cirurgia do dia sem uma palavra, e desde então, permanecia ali, imóvel, com o jaleco pendurado na cadeira e as mãos nos bolsos da calça.
Ele havia voltado a fechar o rosto.
— Achei que fosse ficar pra jantar com a equipe — disse Helena, surgindo à porta, com uma bandeja de comida embrulhada em isopor. — Até te trouxe isso. — Ela levantou o pacote. — Arroz, frango, saladinha que você provavelmente vai ignorar...
Ele não se moveu.
— Não estou com fome — respondeu, sem sequer olhar.
Ela pousou a bandeja sobre a mesa de centro e cruzou os braços.
— Você vai mesmo fingir que aquele momento de hoje cedo não aconteceu?
— A cirurgia foi bem-sucedid