A manhã em Lisboa começou com uma luz limpa, dessas que fazem as fachadas das casas parecerem mais vivas. Helena acordou antes dos pais. Silenciosa, desceu as escadas e preparou o próprio café. O cheiro do pão aquecido na torradeira misturava-se ao das plantas do quintal recém-regadas.
Ela se sentia diferente.
Menos em ruínas.
Talvez ainda não inteira, mas finalmente com vontade de se reunir.
Sentou-se na varanda da frente com a caneca de café entre as mãos. O celular estava ali, ao lado, como um objeto esquecido. Quando a tela acendeu com uma notificação qualquer, ela o pegou — e, num impulso contido, abriu a conversa com Aline.
Digitou devagar:
“Tá tudo bem aí?”
A resposta veio minutos depois:
“Por aqui, tudo calmo. A empresa segue viva sem você, mas não com a mesma graça. Você tá bem?”
Helena sorriu com um misto de alívio e saudade. Digitou outra vez:
“Tô começando a respirar.”
“Quando quiser conversar, tô aqui. E se precisar que eu minta pra alguém, também.”
Helena riu, em silênci