Capítulo 73

A manhã em Lisboa começou com uma luz limpa, dessas que fazem as fachadas das casas parecerem mais vivas. Helena acordou antes dos pais. Silenciosa, desceu as escadas e preparou o próprio café. O cheiro do pão aquecido na torradeira misturava-se ao das plantas do quintal recém-regadas.

Ela se sentia diferente.

Menos em ruínas.

Talvez ainda não inteira, mas finalmente com vontade de se reunir.

Sentou-se na varanda da frente com a caneca de café entre as mãos. O celular estava ali, ao lado, como um objeto esquecido. Quando a tela acendeu com uma notificação qualquer, ela o pegou — e, num impulso contido, abriu a conversa com Aline.

Digitou devagar:

“Tá tudo bem aí?”

A resposta veio minutos depois:

“Por aqui, tudo calmo. A empresa segue viva sem você, mas não com a mesma graça. Você tá bem?”

Helena sorriu com um misto de alívio e saudade. Digitou outra vez:

“Tô começando a respirar.”

“Quando quiser conversar, tô aqui. E se precisar que eu minta pra alguém, também.”

Helena riu, em silênci
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