O sol entrou pelas frestas da janela com uma delicadeza que Helena não via há dias. Talvez semanas. Talvez meses. A luz suave se infiltrava entre as cortinas floridas do quarto, tocando os móveis antigos com uma ternura que lembrava o tempo. Ela demorou a abrir os olhos, mas quando abriu, não sentiu pressa.
Ainda estava ali. No quarto onde cresceu. O mesmo abajur de cúpula torta, o pôster antigo de uma peça de teatro que nunca estreou, a estante de livros com lombadas desgastadas. Não havia luxo. Só memória boa.
Levantou-se com preguiça boa, como quem voltava a ocupar um corpo depois de uma longa ausência. Foi até a janela e olhou a rua silenciosa. A padaria ainda não abrira, e a praça da esquina estava vazia. Sentiu um impulso de caminhar até lá, mas resolveu adiar. Queria aproveitar o silêncio dentro da casa, como se fosse uma primeira conversa.
No corredor, encontrou a mãe na escada, já vestida e de cabelo preso num coque apressado.
— Dormiste bem? — perguntou, segurando uma cesta