O sábado amanheceu com um sol tímido, filtrado pelas nuvens que rondavam Lisboa como véus antigos. Helena acordou devagar, envolta em um tipo de calma que não sabia nomear. Não era exatamente leveza — era mais como um espaço recém-limpado dentro do peito. Um espaço ainda em branco, mas que deixava entrar ar.
Na cozinha, a mãe já preparava o café. O som da chaleira apitando misturava-se ao cheiro do pão fresco e ao ruído suave da colher girando dentro da caneca de leite.
— Dormiste bem? — perguntou, sem olhar.
— Dormi. Como há muito tempo não dormia.
— Isso é bom. O corpo agradece quando a alma deixa.
Helena sorriu, ainda abraçando a caneca quente entre as mãos. Era sábado, o quarto dia em Lisboa. O primeiro em que não acordava com o peso da dúvida no estômago.
Passou parte da manhã andando com o pai pela calçada que beirava o parque, apoiando o braço dele nos pequenos trechos de subida. Eduardo parecia mais estável. Falava com pausas, mas com mais clareza do que nos dias anteriores.
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