Casamento por Vingança, Amor por Acidente
Casamento por Vingança, Amor por Acidente
Por: Eva Belmont
O Fim Antes do Começo

O buquê ainda estava em suas mãos quando o mundo desabou.

Isabela encarava o reflexo no espelho do salão onde se preparava para o que deveria ser o dia mais feliz de sua vida. O vestido branco, cuidadosamente escolhido meses antes, parecia agora um lembrete cruel de tudo que estava prestes a perder. As mãos tremiam, mas seus olhos permaneciam fixos — determinados, quase vazios.

— Você viu isso? — A voz de Clara, sua prima e madrinha, ecoou atrás dela, carregada de incredulidade.

Isabela não respondeu. O celular ainda brilhava com a imagem que havia recebido minutos antes: Thiago, seu noivo, em um quarto de hotel. Não sozinho. Ao lado de Marina. Sua melhor amiga. Os dois rindo, despreocupados, envoltos em uma intimidade que destruía qualquer ilusão.

Traição.

Na véspera do casamento. Sem aviso, sem hesitação, sem culpa.

Isabela engoliu em seco. Sentia o peito apertado, como se algo estivesse tentando escapar — talvez o orgulho, talvez a raiva. Talvez os dois. E no fundo, uma voz insistente repetia: Você foi enganada. Ridicularizada. Diminuta.

— O que vai fazer? — Clara sussurrou, em choque.

Isabela se levantou com lentidão, alisando o vestido como se ainda houvesse algo a salvar naquele dia. Não chorou. Não gritou. A dor era tão profunda que parecia paralisante. Mas seus olhos, antes cheios de sonho, agora transbordavam de algo novo: fúria. E dignidade.

— Eu vou entrar naquela cerimônia — disse com a voz firme. — Mas não com Thiago.

— O quê?

— Se ele pode me humilhar, eu posso surpreendê-lo. Ninguém mais vai me fazer de idiota.

Ela saiu do salão como um furacão silencioso. Cada passo era movido por um impulso que ela ainda não entendia, mas sabia que não podia ignorar. O som dos convidados chegando, os olhares curiosos, as flores impecáveis decorando o salão luxuoso… tudo aquilo parecia parte de um teatro ridículo.

Foi então que ela o viu.

No bar do hotel, de terno escuro e olhar atento, Leonardo Vasconcellos parecia deslocado da cena. Alto, imponente, com um ar de indiferença que mais parecia uma armadura. Um homem que, claramente, não estava ali para festas. Mas seus olhos encontraram os dela como se soubessem exatamente o que estavam procurando.

Sem pensar, Isabela se aproximou. Ainda não sabia seu nome, sua história, suas intenções. Só sabia de uma coisa: ele era um desconhecido. E isso era tudo o que ela precisava.

— Preciso de um marido — disse ela, encarando-o nos olhos. — Agora.

Leonardo arqueou uma sobrancelha, surpreso… e curioso.

Leonardo a observou por um longo instante. Seu olhar não era de alguém surpreso com o absurdo da proposta — era de alguém que estava analisando friamente as possibilidades. Como se, de fato, considerasse aquilo uma oportunidade.

— Está falando sério? — ele perguntou, recostando-se no balcão, com a taça de uísque ainda pela metade.

— Mais do que estive em toda a minha vida — respondeu Isabela, mantendo o queixo erguido. — Meu noivo me traiu. Com a minha melhor amiga. E agora tem uma cerimônia armada, trezentos convidados esperando, um buffet que me custou o valor de um carro e uma imprensa local pronta para registrar tudo. Eu só preciso de um marido. Alguém que entre comigo naquela igreja e me salve do ridículo.

Leonardo girou o copo nas mãos, silencioso. Estava estranhamente calmo, como se aquela proposta absurda tivesse um lugar na rotina dele. Quando finalmente respondeu, sua voz saiu baixa e controlada:

— Eu sou Leonardo Vasconcellos. E não sou exatamente um homem desconhecido. Se disser meu nome em voz alta, metade das pessoas aqui vai reconhecer. Isso te incomoda?

— Desde que entre comigo no altar, pode ser o diabo em pessoa.

Ele soltou um leve sorriso com o canto da boca. Um sorriso perigoso. Calculado.

— Bom, então talvez você tenha sorte. Eu não sou o diabo… mas também não sou um santo.

Isabela cruzou os braços, impaciente.

— Vai aceitar ou não?

Ele largou o copo no balcão e ajeitou a gravata.

— Com uma condição — disse, com os olhos fixos nela. — Se eu fizer isso por você hoje, você fará algo por mim depois. Um acordo. Um contrato. Formal.

Ela franziu a testa.

— Que tipo de acordo?

— Eu preciso de uma esposa. De fachada. Por tempo determinado. Razões familiares. Se disser sim agora, vamos subir naquele altar, você salva seu orgulho e eu resolvo meu problema. Depois… discutimos os detalhes.

Havia algo nele que provocava medo e fascínio ao mesmo tempo. Aquela frieza calculada, aquele olhar de quem está acostumado a negociar o mundo inteiro como um tabuleiro de xadrez.

— Tudo bem — disse Isabela. — Mas saiba de uma coisa: eu não sou uma mulher fácil de manipular.

— Ótimo — respondeu Leonardo, com um leve levantar de sobrancelha. — Eu odeio pessoas fáceis.


Dez minutos depois, Clara quase desmaiou quando viu Isabela surgir no altar com um homem completamente diferente ao seu lado.

O burburinho entre os convidados foi imediato. A música continuava tocando, os fotógrafos clicando, mas os olhares se desviavam de Thiago, ainda parado no altar, confuso, para o novo casal que avançava com passos firmes.

Isabela andava com a cabeça erguida, como se aquela cena tivesse sido planejada desde sempre. E mesmo que por dentro ainda sentisse o estômago revirado, sua alma gritava com um prazer silencioso ao ver a expressão de choque no rosto de Thiago.

Leonardo, ao seu lado, caminhava com elegância. Como se tivesse feito aquilo mil vezes. Como se não fosse, também, um intruso naquela história.

Quando os dois pararam diante do altar, o silêncio foi cortado pela voz embargada do celebrante:

— P-podemos... começar?

Isabela olhou nos olhos de Leonardo. Ele inclinou o rosto discretamente e sussurrou:

— Se quiser fugir agora, ainda há tempo.

Ela segurou a mão dele com firmeza.

— Não. Isso aqui é só o começo.

— E eu preciso de uma esposa — respondeu calmamente. — Talvez hoje seja nosso dia de sorte.

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