O som do tiro ainda ecoava dentro da minha cabeça.
Depois, veio o vazio. Um silêncio pesado, como se o mundo tivesse parado por um segundo.
Luzes. Gritos. Alguém me chamava pelo nome.
“Helena! Fica comigo, por favor!”
A voz era dele. Arthur.
Mas tudo parecia distante, abafado.
O chão frio sob meu corpo, o gosto de ferro na boca, e a dor — uma dor quente e profunda — me puxando pra longe.
Tentei tocar a barriga, mas minhas mãos estavam pesadas demais.
— O bebê... — murmurei, sem saber se alguém me ouvia.
Depois disso, nada.
(...)
Quando abri os olhos, tudo era branco. O teto, o lençol, o barulho das máquinas.
Demorei pra entender onde estava.
A garganta seca, a cabeça latejando.
— Calma, querida... — disse uma voz suave, uma enfermeira. — Você está no hospital. Já passou o pior, tá bem?
— Minha filha... — a voz saiu rouca, quebrada. — A Aurora...
A mulher hesitou, o olhar fugindo por um instante antes de sorrir de leve.
— Ela nasceu antes do tempo. Mas tá lutando, tá na UTI neo