O ar saiu de mim como se alguém tivesse apertado um botão. A voz dele — a voz do desgraçado — ainda ecoava no meu ouvido quando o telefone caiu da minha mão. Tudo ao redor virou ruído: passos, rádios chiando, vozes do meu time virando uma babel distante. Só havia uma coisa clara: ela estava em perigo real, e Rafael tinha as mãos naquele troço doentio.
Me recompus num tempo que me pareceu eterno e agarrei o celular de novo.
— Guga — disse no primeiro toque — liga já pra delegacia. Diz que é sequestrador, me dá o contato do delegado que cuida de casos desse tipo. Agora.
Enquanto Gustavo pegava o celular, eu recuei até a mesa e joguei tudo que eu tinha aberto no tablet em cima: feeds de câmeras, roteiros de saída, logs da portaria. Ordenei em voz alta, como se a ordem fosse um grito que materializasse ação:
— Puxem o último registro do número que me ligou. Tracem a origem da chamada. Forcem a operadora se preciso. Mandem cada carro pra quinta via, parque, todas as rotas possíveis saindo