Cinco meses.
Engraçado pensar que parece uma vida inteira e, ao mesmo tempo, só o começo.
Acordo com o cheiro do café vindo da cozinha — o cheiro dela.
Clara canta baixinho alguma música antiga, desafinada do jeito mais lindo que existe.
Tico mia, exigindo atenção, e eu fico ali, deitado, só observando a cena pela fresta da porta.
Nunca imaginei que paz tivesse som, mas tem.
É o barulho da colher batendo na caneca, o riso dela quando derrama café, o som dos passos apressados no chão de madeira.
— Vai ficar me olhando o dia inteiro, Vasconcelos? — ela pergunta, sem nem precisar virar.
— Se deixar, fico — respondo, levantando pra abraçá-la por trás. — Mas posso alternar entre olhar e roubar um pedaço do seu bolo.
Ela ri, me empurra de leve.
— O bolo é pra levar pro bar, e não, você não toca antes da hora.
Clara ainda ria quando me virei de repente e a puxei pra perto, num movimento rápido.
Antes que ela entendesse o que estava acontecendo, já estava no meu colo, as pernas ao redor da mi