Camélia nunca quis fazer parte desse mundo. Ela nem se quer sabia que esse mundo existia. Nunca quis se prender a profecias, matilhas ou destinos traçados. Mas desde que pisou em Serra dos Riachos, tudo ao seu redor parece querer empurrá-la para um caminho que não escolheu. Kael Braga é o Alfa Supremo. Forte, implacável, destinado a liderar. E, até pouco tempo atrás, tinha certeza de que sua predestinada era outra. Mas então Camélia apareceu. E nada mais fez sentido. O vínculo que os une é inegável. Mas ela se recusa a aceitá-lo. Ele não pode ignorá-lo. Entre brigas, desafios e um fio vermelho que os conecta contra a vontade, Camélia e Kael precisarão descobrir se o destino pode ser desafiado... ou se estão apenas adiando o inevitável.
Ler maisA manhã amanheceu sem pressa.O quarto ainda carregava o calor da noite anterior — não apenas o calor dos corpos, mas o da conexão que parecia mais forte a cada batida dos corações entrelaçados. Camélia dormia profundamente, o rosto tranquilo afundado no travesseiro, os cabelos espalhados como se fossem raízes ancoradas no peito de Kael.Ele não conseguia dormir.Não depois de tudo.O vínculo pulsava, sim, mas havia mais. Uma inquietação crescente. Algo além do instinto — era o peso da responsabilidade somado ao que ele agora sentia por ela.Deslizou devagar da cama, beijando de leve a testa de Camélia antes de sair.Pouco depois, encontrou-se com Mavi em um ponto discreto da cidade. O rosto dela dizia tudo antes mesmo das palavras.— Não tem mais como negar, Kael — ela disse, estendendo um pequeno frasco com o que pareciam ser resíduos esverdeados. — Isso aqui estava em um ponto oculto do corpo do Pedro. É um tipo de magia de manipulação emocional. Forte. Precisa. E não vem de qualqu
A noite caía sobre Serra dos Riachos como um manto espesso, e a lua despontava em meio às nuvens com um brilho tímido, como se hesitasse em iluminar uma cidade prestes a explodir em verdades. Na casa dos Alencar, o ar parecia mais quieto do que de costume.Camélia estava pronta.Vestia uma blusa de mangas largas, o cabelo solto caindo sobre os ombros, o rosto levemente pálido. Sabia que Kael viria. Eles não conseguiam mais ficar longe um do outro por muito tempo — o vínculo exigia proximidade, e quando tentavam se afastar... era como se o corpo doesse. Como se o próprio ar perdesse o ritmo.Kael chegou sem precisar bater. Gustavo atendeu a porta e, com um olhar rápido e cúmplice, apenas acenou com a cabeça. “Ela tá lá em cima”, disse. Não havia mais cerimônia entre eles — apenas compreensão.Quando Kael subiu, encontrou Camélia sentada na beira da cama, as mãos cruzadas sobre o ventre, os olhos baixos. Ela ergueu o olhar quando sentiu a presença d
A tarde caía com uma brisa leve, carregando o cheiro da terra e da floresta que cercava a casa. Nos fundos, a varanda de madeira havia se transformado num improvisado campo de treino. Tânia observava com olhos atentos, enquanto Camélia caminhava pelo espaço como se já estivesse em meio à assembleia — os ombros retos, o olhar firme, a presença marcante.— Mais uma vez — Tânia orientou, a voz calma, mas firme. — Você entra na sala, os líderes te encaram. Kael acabou de se pronunciar e agora todos esperam você. O que faz?Camélia inspirou fundo, deu um passo à frente com a calma de quem conhecia o próprio valor. A postura dela era natural, e ainda assim poderosa.— A liderança se faz em aliança. Eu estou aqui para sustentar, não para silenciar. E se pretendem atacar o Alfa Supremo, terão que olhar para mim primeiro.Tânia mordeu o canto da boca, satisfeita, mas acrescentou:— Melhora a pausa antes da resposta. Às vezes, o silêncio é a voz mais alta da sala.Camélia assentiu com um sorris
A tarde em Serra dos Riachos caía lenta, com o céu tingido por um laranja opaco e nuvens que pareciam guardar mais do que apenas chuva. Nos bastidores da sede da liderança, a movimentação era contida, mas densa — como uma respiração presa no fundo do peito coletivo da cidade. Tânia caminhava pelos corredores de pedra com o ritmo calmo de quem parecia em paz — mas por dentro, estava alerta. Sentia a tensão no ar como uma corda prestes a estourar. E sentia algo mais… algo vindo de dentro. Um chamado abafado. Uma expectativa sem nome. Ela virou o corredor e viu Cauã, sozinho, encostado no parapeito que dava vista para o jardim interno do prédio. Os braços cruzados, a expressão cerrada. Ela não hesitou. — Tá tentando fugir ou meditando? — provocou, parando ao lado dele. — Tava quieto. Até agora. — respondeu, sem olhar, mas com um canto de riso na voz. — Você é tão mal-humorado sempre ou é só comigo?
A casa dos Alencar permanecia em silêncio, como se os dias intensos que se acumulavam tivessem deixado ali um cansaço suspenso no ar. Na varanda, Cauã se sentou nos degraus com uma caneca nas mãos. O chá já estava quase frio, mas ele não percebia. Os olhos fixos no horizonte não buscavam nada — estavam perdidos em pensamentos que ele ainda não sabia traduzir. Havia algo dentro dele, algo insistente, pulsando sem explicação. Uma sensação estranha, quente, desconcertante. Um sentimento que nascia quando Tânia se aproximava e que não ia embora mesmo depois que ela partia. Júlio apareceu com passos calmos, sentando-se ao lado do neto sem dizer nada. Por um tempo, dividiram apenas o silêncio, como homens que não precisavam preencher o tempo com palavras para partilhar o mundo. — Vô — Cauã quebrou o silêncio, a voz baixa, carregada de um desconforto que não sabia esconder —, você já sentiu... como se algo dentro de você estivesse tentando te pu
A manhã ainda se espreguiçava pelas janelas da casa dos Alencar quando Camélia desceu as escadas com passos leves, uma xícara nas mãos e o olhar distraído. O cheiro do chá de hortelã se misturava ao pão fresco vindo da cozinha, onde Madalena cantarolava baixinho. Na sala, Flor organizava alguns tecidos que Camélia usaria nos preparativos da cerimônia — peças vermelhas e brancas, delicadamente dobradas, como se carregassem mais do que simbolismo. Carregavam sentimento. Camélia se sentou no sofá, puxando uma manta pelas pernas, sentindo o frescor da manhã invadir seu corpo. A marca no pulso parecia mais viva, quente, como se respondesse à simples lembrança de Kael. — Dormiu bem? — Flor perguntou sem olhar, mas o tom da voz tinha aquele carinho de mãe que já sabe a resposta. — Dormi — ela respondeu, sorrindo de lado. — E você sabe que não dormi sozinha. Flor apenas sorriu e desviou o olhar, mas seus olhos brilhavam com uma ternura discreta. Camélia estava diferente. Os movimentos,
Último capítulo