Escravizada por sua própria matilha desde a infância, ela cresceu sob o peso da maldição que levou seus pais à morte. Humilhada, ferida e esquecida, ela jamais conheceu o significado de liberdade até o dia em que sua alcateia é dizimada. Em meio à destruição, um ser imponente e sedento de poder decide poupá-la. Cyrus Valack, o temido Rei dos Vampiros, não a vê como uma simples sobrevivente, mas como sua consorte. Levando-a para seu reino sombrio no coração de Nova Orleans, ele lhe dá um nome, Ravena, … e uma sentença. Dizem que seu destino ao lado do rei será pior do que a escravidão, que seu sangue de loba nunca encontrará paz nessas terras de sombras. Mas então, por que os sonhos com Cyrus são tão intensos? Por que seu toque desperta algo dentro dela que sempre esteve adormecido? Entre segredos manipulados pelas trevas, verdades ocultas e uma paixão avassaladora, Ravena precisa descobrir se o Rei dos vampiros será seu salvador ou seu pior pesadelo. E, acima de tudo, se será forte o bastante para cumprir o legado que a própria deusa lhe concedeu. No embate entre o poder e a emoção, amor e ódio, destino e livre-arbítrio… Ravena poderá escolher seu próprio caminho, ou será apenas um peão no jogo das trevas?
Leer másCelesteMarcel jazia nas garras da Fúria como uma oferenda falida. O corpo quase sem vida dele pendia, lânguido, coberto de cortes profundos e rasgos fumegantes. Sua carne exalava magia corrompida, queimada como carvão vil. Partes de seus membros estavam faltando. E mesmo assim, ao vê-lo naquele estado deplorável, algo em mim quebrou. Gritei.Um uivo de fúria, dor e desespero rasgou meu peito enquanto eu corria pela entrada da caverna. Os olhos da Fúria brilhavam em vermelho opaco. Ela havia feito o que eu ordenei, trazer meu lobo de volta. Mas não assim. Não despedaçado. Não a sombra de um cadáver.— Não! — caí de joelhos ao lado dele, o sangue quente manchando meus dedos. — Não era para terminar assim! Ele é meu! MEU!Minha voz ecoou nas profundezas da caverna onde os pergaminhos dançavam ao vento maldito, as velas tremulavam com chamas verdes e o caldeirão de ossos fervia com murmúrios do além. Foi ali que Cadmus surgiu das sombras, arrastando sua longa túnica como se a própria mo
A primeira coisa que senti foi o perfume do incenso de âmbar queimando devagar, misturado ao cheiro amadeirado das paredes de pedra do castelo. A segunda foi o calor. Não o calor ardente da batalha, mas um calor reconfortante, acolhedor. Estava coberta com lençóis espessos de linho negro, e o som distante de uma lareira crepitando preenchia o silêncio ao redor.Meus músculos doíam. Como se eu tivesse lutado contra um exército. E, na verdade, eu lutei. Porque Marcel era um dos meus piores inimigos.Abri os olhos lentamente. Estava deitada no quarto real, reconheci a cama de Cyrus sob meu corpo. O teto abobadado, os candelabros suspensos com cristais escarlates, os cortinados grossos que impediam qualquer luz externa. Um dos painéis de vidro estava entreaberto, e a brisa da noite trazia o cheiro da floresta, e de fogo com sangue.Virei o rosto e encontrei Cyrus sentado ao meu lado, elegantemente, observando-me com um olhar que misturava alívio, fascínio e preocupação.— Você acordou — d
O som dos gritos rasgava a floresta como facas afiadas. Cyrus lutava.Eu sentia seu poder explodindo na linha da cachoeira, sua fúria uma estrela negra queimando no horizonte da minha mente. Mas aqui dentro, na caverna sombria atrás da queda d’água, o horror tinha um nome: Marcel.Seus olhos, eram agora duas crateras negras, repletas de ódio e desejo de destruição. Ele me arrastou pelo chão úmido da caverna, sua respiração arfando feito um animal enlouquecido.— Você é minha! Minha vadia! A puta escrava que eu moldei para o meu prazer! — rosnava, enquanto suas mãos sujas de sangue tentavam me subjugar, tocando meu corpo. — Minha companheira! Você me traiu! Você trepou com aquele vampiro desgraçado! Sinto o fedor dele impregnado em você!O tap@ violento cortou meu rosto, mas nem tive tempo de registrar, porque logo em seguida ele abriu as minhas pernas com brutalidade.- Eu vou te ensinar a respeitar o seu macho, sua puta!Tentei me soltar, mas meu corpo estava fraco. A drenagem dos me
A floresta se calou de repente.Um silêncio espesso, antinatural, caiu sobre nós como uma mortalha. Cyrus parou, as garras enormes envenenadas surgiram, emanando faíscas, o cabo de Palius surgiu nas sombras, os olhos varrendo a névoa adensada. Eu senti, no fundo do meu ser, que aquilo não era um simples ataque.Era algo muito pior.Uma presença faminta. Maléfica, perversa. E tristemente familiar.De dentro da bruma, surgiu Marcel.Ou o que restava dele.Seu corpo era uma caricatura do que já foi. Pele rasgada, veias pulsando com energia escura, os olhos negros como breu e as garras tão longas que arranhavam a terra a cada passo. Uma fumaça pútrida se desprendia de sua carne corrompida. A magia profana fervia ao redor dele como um halo maligno.Um rugido explodiu de sua garganta.Eu não hesitei nem por um segundo. Toda a dor e a revolta voltaram com força total. Meu coração ardia nas chamas da vingança.Laha tomou meu corpo em um fluxo devastador, meus ossos estalando, minha carne se r
RavenaO cheiro de fumaça e sangue pairava pesado sobre Northshore, mesmo aqui, no templo antigo onde Cyrus me trouxera para me recuperar, antes de voltarmos ao castelo. A cada respiração, sentia o ar impregnado de morte e magia profana. Meus sentidos, antes embotados pela exaustão, estavam despertando de novo, como garras rompendo a carne frágil da minha antiga vida.Eu não era mais a mesma.Sentada na plataforma de pedra coberta de runas esquecidas, envolta na capa de veludo negro que Cyrus deixara sobre meus ombros, senti a vibração da floresta como uma batida de tambor distante. Algo se aproximava. Algo faminto.Fechei os olhos, tentando me concentrar. Dentro de mim, a força que havia despertado nas ruínas ainda palpitava, selvagem e descontrolada. Era como tentar conter o mar com as mãos.As portas do templo rangeram, e eu soube que era ele antes mesmo de abrir os olhos.Cyrus.Seu cheiro, sangue, madeira queimada e gelo, preencheu o ambiente antes que sua voz soasse.— Ravena.
FrançoisOs relatórios dos Sombras não paravam de chegar, reforçando a força e a quantidade do inimigo que adentrou a barreira; o castelo estava em alerta máximo. Os Sombras Negras haviam relatado movimentações hostis nas bordas da barreira também. Através do espelho místico criado por Amon, da sala de guerra, Cyrus se comunicava com François— Vamos voltar. Precisamos de novas estratégias. As fúrias são infernais. E os lobos conseguem matar vampiros. — Os sombras afirmaram a mesma coisa. — François respondeu. Sua expressão estava dura, o cabelo preso na nuca, o uniforme negro preparado para qualquer batalha. — São aberrações. A magia profana está instável. Ao mesmo tempo que lutam contra nós, eles estão sendo consumidos pela escuridão. Foram alimentados com rituais antigos. As bruxas da Ordem estão por trás disso. E aquela Luna da Lua Negra. Eu disse a você que ela tinha um cheiro estranho. Ela é híbrida, bruxa e loba.— Ela não deve estar longe desse ataque. Acho que ela quer se vi
CyrusAtrás de nós a sombra translucida de Aero, rosnou em sinal de alerta. Algo se aproximava. Puxei Ravena para mim, ignorando sua pouca resistência, ela também estava em alerta de repente. Um cheiro pútrido cortou a névoa.— Não estamos sozinhos — Aero sussurrou, em sua forma espectral.A floresta começou a pulsar. Ao longe, urros de criaturas que não pertenciam à natureza ecoaram como prenúncio. O grito aterrador de criaturas sombrias. As Fúrias.Ravena se amparou em mim, ainda abalada, mas o instinto lupino falando mais alto. Nesse momento senti o vínculo entre nós selar mais uma camada invisível. Ela estava comigo, apesar de tudo. E isso nos fortalecia.— O que vamos fazer? — Perguntou ela.— Vamos destruí-los. – Respondi, sentindo minha aura se expandir, a medida que Aero e eu nos uníamos, nos preparando para a batalha. – Ravena, você precisa se abrigar no manto de Aero agora. Ela apenas acenou com a cabeça, enquanto Aero e eu a envolvíamos no manto poderoso de meu espectro. E
RavenaMeus olhos mal conseguiam se manter abertos. Cada músculo do meu corpo doía, como se eu tivesse sido sugada para fora de mim mesma e moldada outra vez com fogo e gelo. Era como se algo antigo tivesse me rasgado por dentro… e deixado parte de si no meu lugar.Os braços de Cyrus me envolviam com firmeza, carregando-me para fora das ruínas. O corpo dele, totalmente vestido contrastava com o frio sobrenatural que impregnava minha pele nua. A floresta ao redor parecia sussurrar, os galhos das árvores vergando-se como se me reverenciassem… ou me temessem.— Ravena — a voz de Cyrus soou baixa, grave, quase cautelosa. — Você sabe o que aconteceu lá dentro?Virei o rosto lentamente em direção ao dele. Cada palavra que saía da minha boca parecia arrancada do fundo do abismo onde minha alma havia mergulhado.— Não… não exatamente. Mas eu ouvi uma voz… compassada e profunda. Ela veio de dentro de mim. Não era minha… mas era. — Pisquei devagar. A dor atrás dos olhos latejava. — Ela mandou q
Continuamos seguindo o rastro de Ravena, ela havia parado em um antigo altar druida, onde a lua vazava por entre as copas das árvores como uma lâmina de prata. Ela arfava, parcialmente transformada, transmutando entre um ser e outro, os olhos completamente carmesins, os dedos com garras parcialmente expostas, o peito arfando em ondas de ódio e mágoa.— Fique longe de mim! — ela rugiu ao vê-lo se aproximar.— Ravena, ouça-me!— Por que agora?! Por que me contar isso agora, Cyrus? — O meu nome saiu como um açoite de sua boca, um insulto. — Você não me devia explicações? Ou pensou que eu seria tao idiota que não me importaria com isso? Que eu ficaria feliz em saber que o meu companheiro gosta de orgias depravadas tanto quanto aqueles alfas!Eu parei, a alguns metros de distância, cauteloso como se ela estivesse prestes a saltar, e de fato era. Mas mais que isso, era minha companheira, e o vínculo entre eles agora vibrava em dor, ressonante, quase insuportável.— Eu devia, sim — ele disse