Camila é uma jovem escritora em busca de inspiração para seu próximo romance. Quando aceita o convite de passar um mês na luxuosa casa de campo de sua melhor amiga, ela não imagina que encontrará muito mais do que tranquilidade. Gabriel, um misterioso arquiteto que cuida da propriedade, é enigmático e irresistível. Entre diálogos intensos, momentos de entrega e a revelação de segredos do passado, Camila descobre que o prazer pode ser tão profundo quanto perigoso. Mas será que ela está pronta para enfrentar as consequências de se apaixonar por um homem que esconde tanto quanto oferece?
Ler mais(Narrado por Camila)
O cheiro de eucalipto invadiu minhas narinas assim que o carro passou pelos portões de ferro da casa de campo da família da Clara. A estrada de terra ainda me causava certo desconforto, mas havia uma beleza bucólica em tudo aquilo. Os pinheiros altos balançavam lentamente, como se dançassem para me dar boas-vindas. Só não sabiam que eu não tinha vindo a passeio. Meu bloqueio criativo já durava quase três meses, e com o prazo final do meu livro se aproximando, o desespero me consumia em silêncio. Eu não aguentava mais abrir o notebook e encarar uma página em branco como se ela estivesse rindo da minha incapacidade. Me sentia exausta, frustrada e... vazia. Foi então que Clara, minha melhor amiga desde os tempos do colégio, praticamente me arrastou até aqui. — Você precisa de ar puro, Cami! De natureza, de inspiração! — ela disse, me convencendo com aquele sorriso impossível de resistir. — Quem sabe um pouco de silêncio e vinho resolvam o que terapia e café não deram conta. A porta do carro ainda nem tinha fechado e ela já estava pulando em cima de mim como se não nos víssemos há anos. — Meu Deus, você tá mais magra, sua maluca! — disse ela, me apertando com força. — Mas continua linda... mesmo com essa cara de zumbi! Soltei uma risada. Clara sempre foi minha dose diária de loucura equilibrada. Onde eu sou introspectiva e metódica, ela é impulsiva e intensa. O tipo de mulher que vive tudo com cem por cento da alma — e não se importa com as consequências depois. — Você sabe que minha cara de zumbi é charme, né? — retruquei, rolando os olhos. — E sim, eu tô péssima, obrigada por perceber. Ela me puxou pelo braço, ignorando totalmente minha reclamação, e fomos em direção à enorme casa de pedra, com janelas rústicas e cercada por uma varanda com redes penduradas. Uma casa que parecia saído de um conto antigo, o cenário perfeito para um livro... Se ao menos minha mente colaborasse. Foi então que eu o vi. Um homem, de costas, curvado sobre o que parecia ser uma planta arquitetônica sobre a mesa. A camisa branca dobrada nos cotovelos revelava braços fortes, tatuados discretamente. O jeans escuro, os cabelos levemente bagunçados... havia algo nele que fez meu estômago revirar. Como se meu corpo soubesse antes de mim que aquele homem traria problemas. Ele ergueu os olhos por um breve instante e nossos olhares se encontraram. Não durou mais que dois segundos. Mas foi o suficiente. O calor subiu pelo meu pescoço, queimando minhas bochechas. Desviei o olhar, envergonhada, como se tivesse sido pega invadindo um espaço que não era meu. — Ah, esse é o Gabriel — disse Clara, casual. — Ele tá cuidando da reforma da casa pra meus pais. Arquiteto. Discreto. Misterioso. E solteiro. Só dizendo... — Nem vem, Clara — resmunguei. — Tô com a cabeça cheia demais pra qualquer coisa. — Mas seus olhos não estavam, viu? — ela riu. Antes que eu pudesse responder, outro vulto surgiu no final do corredor. Alto, com postura arrogante, e aquele maldito sorriso de canto de boca que eu odiava com todas as forças. — Camila — disse Daniel, com voz arrastada e olhar indecente. — Finalmente nos reencontramos. — Infelizmente — murmurei, quase imperceptível, mas com vontade de gritar. — Oi, Daniel. Clara, claro, nem percebeu o veneno na minha voz. Seus olhos brilhavam só de vê-lo, como sempre. Aquilo me dava náuseas. Ele não merecia o coração dela. Mas como dizer isso sem destruí-la? Fiquei em silêncio. O tipo de silêncio que carrega mais palavras do que qualquer grito. E tudo isso... era só o começo.(Narrado por Clara)Há um momento exato em que tudo deixa de ser coincidência.Os olhares.As ausências.Os toques não dados… e os que tentam ser escondidos.Por muito tempo, escolhi não ver.Por lealdade. Por medo. Por comodidade.Mas hoje… hoje ficou impossível continuar fingindo.Vi Gabriel sair da varanda com a mandíbula travada, os olhos perdidos no chão.Minutos depois, Camila apareceu na cozinha em silêncio, as bochechas coradas demais, a respiração ligeiramente alterada.E eu conheço a Camila.Conheço cada variação do humor dela, cada tom de voz, cada disfarce.E aquilo… aquilo não era nada disfarçado.Aquilo era fogo. Desejo recém-apagado com vergonha e confusão.Fiquei calada.Peguei uma faca e comecei a cortar morangos, como se a lâmina me ajudasse a processar a avalanche dentro da minha cabeça.Porque agora tudo fazia sentido.As escapadas.O jeito como ela evitava falar do Gabriel, como desviava sempre que eu puxava assunto.As ausências durante o dia, os cochichos abafad
(Narrado por Camila)Desde a conversa com Daniel, algo dentro de mim não para de latejar.Ele plantou uma semente — uma semente amarga, torta, que não deveria ter lugar aqui dentro.Mas cresceu. Em silêncio.Tentei ignorar. Tentei rir da ideia de Gabriel esconder alguma coisa. Ele foi a única coisa real que senti em muito tempo. O toque dele, o calor, o jeito como me olhou depois… Não foi só desejo. Foi mais. Eu senti.Mas agora… agora eu o observo diferente.Gabriel está mais fechado. Não que antes fosse um livro aberto, longe disso. Mas havia ali uma entrega silenciosa. Uma troca. Hoje, ele parece distante. Como se quisesse voltar para a casca onde se escondeu por anos. E isso me destrói. Porque eu sei o que aconteceu entre nós. Eu estive lá. Eu senti.Essa manhã eu o vi na varanda, com os cabelos bagunçados pelo vento, o olhar fixo em nada. Estava lindo, claro. Sempre está. Mas havia algo em seu semblante… algo pesado. Culpado.Desci com passos leves, fingindo que não estava indo a
(Narrado por Daniel)Eu avisei.Não com palavras, claro. Mas com olhares.Com silêncios.Gabriel não entendeu. Camila fingiu não perceber. Clara… bom, Clara vive no mundo dela, onde tudo ainda é cor-de-rosa e flores desabrocham só porque ela sorri. Ingênua. Mas útil.Hoje, resolvi agir. Porque todo jogo exige o primeiro movimento — e o meu foi dado com calma. Sutil. Do jeito que ninguém nota até ser tarde demais.Esperei Camila sair para caminhar sozinha. Observei da varanda o modo como ela apertava os braços contra o próprio corpo, como se lutasse contra algo por dentro. Talvez fosse arrependimento. Talvez desejo mal resolvido. Talvez... medo.Segui até o jardim dos fundos, com um copo de água na mão e um sorriso treinado no rosto.— Cami — chamei, suave, como quem se importa.Ela se virou, os olhos apertados pelo sol. Estava linda. Sempre está. Mesmo quando está tensa, desconfiada... ou especialmente assim.— Veio me seguir agora? — ela disparou. A língua dela é afiada, e isso me ex
Capítulo 12 – Um Inferno Silencioso(Narrado por Gabriel)Não dormi.Nem por um minuto.Depois que Camila adormeceu em meus braços, com o corpo colado ao meu e o cheiro dela grudado em mim como maldição, eu fiquei ali. Olhando o teto. Lutando com o peso da realidade que insiste em me lembrar que eu não posso me dar ao luxo de querer.Mas eu quis.E, pior, eu quero de novo.Aquela mulher mexe comigo de um jeito que ninguém nunca conseguiu. O problema não é o sexo — por mais insano que tenha sido. Não é o corpo dela, nem o gosto da sua pele, nem o modo como geme meu nome como se fosse a única coisa que existisse no mundo.O problema é como ela me olha depois. Como se quisesse mais do que eu posso oferecer. Como se visse em mim algo que eu enterrei há muito tempo.Eu não posso amar de novo.Porque quando se ama, se perde.E eu já perdi tudo uma vez.Desço da cama com cuidado, tentando não acordá-la, ela se mexe, mas continua dormindo. Me visto em silêncio, o coração batendo no peito como
Evitei Gabriel por dois dias. Ou pelo menos tentei. Fiquei ocupada demais com Clara, enfurnada no meu quarto ou ajudando na cozinha, fingindo que não sentia meu corpo implorar cada vez que ele passava por perto. Mas havia uma tensão no ar, uma eletricidade constante. Como se nossas peles gritassem em silêncio por contato.Naquela noite, fui até a sala buscar um livro que deixei jogado no sofá. Estava de camisola curta, nada proposital, mas talvez parte de mim quisesse ser vista. E ele estava lá.Sozinho. Sentado. Esperando.Nossos olhos se encontraram, e não houve palavras. Nenhuma.Apenas um olhar.Um toque invisível que acendeu o pavio.— A gente precisa conversar — ele disse, a voz baixa, tensa.— A gente precisa se foder — respondi sem pensar, sem medir, sem filtrar.Foi como se uma barreira tivesse sido explodida com dinamite. Ele se levantou num impulso e veio até mim. Me agarrou com força, mas com cuidado. E me beijou como se minha boca fosse a única coisa que o mantinha vivo.
Não é só o calor do verão que faz meu corpo suar naqueles dias. É o olhar dele. O olhar do Daniel que pesa sobre mim como uma sombra que não consigo evitar. Ele está mais presente, mas não de um jeito bom. É um olhar que diz muito sem precisar de palavras — uma mistura de posse, desdém e uma vontade disfarçada de me provocar. E, por mais que eu tente ignorar, aquela sensação rasteja na pele e me deixa inquieta. No começo, eu achei que era paranoia minha. Que estava exagerando, vendo o que não existia. Afinal, Clara está tão apaixonada... E eu me recuso a ser aquela que estraga as coisas. Mas as pequenas coisas começaram a me atingir. Um comentário mais ácido disfarçado de brincadeira, um sorriso forçado quando passo perto, uma palavra com duplo sentido deixada no ar. Tudo isso constrói uma parede invisível entre eu e a tranquilidade que eu queria encontrar aqui. E pior: eu sinto que ele não vai parar por vontade própria. É como se estivesse tentando me cercar, me dominar, me esma
Último capítulo