A madrugada chegou envolta num silêncio denso, quase cúmplice. Clara e Daniel já tinham ido dormir, e eu estava na varanda com outra taça de vinho, fingindo que estava tranquila. Fingindo que meu corpo não pulsava desde o jantar. Fingindo que aquele olhar... aquele maldito olhar de Gabriel não tinha me invadido até os ossos.
A brisa noturna bagunçava meus cabelos soltos, e eu fechava os olhos tentando encontrar paz. Mas tudo o que encontrava era ele. O cheiro, o tom da voz, os músculos sob a camisa branca, os olhos escuros que me despiam com mais precisão que qualquer mão. — Você não dorme? — a voz dele me atingiu por trás, como um sussurro direto na espinha. Virei o rosto lentamente. Ele estava ali, parado na porta, com o corpo meio na sombra, meio iluminado pela luz fraca da varanda. O cabelo bagunçado, os pés descalços, a calça de moletom baixa demais na cintura, revelando um pedaço indecente de pele. Quase perdi o ar. — Eu poderia te perguntar o mesmo — respondi, forçando uma naturalidade que não existia mais. — Tô com a mente cheia — ele disse, caminhando até mim. — E você? — Eu também — sussurrei. — Cheia demais. Ele se aproximou devagar, como quem respeita o espaço, mas desafia os limites. Parou diante de mim. Tão perto que eu podia sentir o calor do corpo dele irradiar. — Isso tá errado, não tá? — murmurei, sem me mover. — Tá — ele respondeu, com a voz baixa e rouca. — Mas não parece. E então, ele me tocou. Primeiro foi só um dedo, deslizando pelo meu rosto, como se testasse minha reação. Depois, a mão inteira, firme na minha nuca. Me puxou pra ele com delicadeza e violência ao mesmo tempo. E nossos lábios finalmente se encontraram — não num beijo calmo, mas numa colisão urgente de duas vontades reprimidas demais por tempo demais. Foi quente, intenso, molhado. Ele me beijava como quem tinha fome, e eu... eu não sabia que tinha tanta sede. Minhas mãos agarraram sua camiseta, puxando com força, querendo mais, querendo tudo. Ele gemeu contra minha boca, e aquele som quase me desmontou por completo. — Camila... — ele arfou contra meu pescoço. — Me diz pra parar. Mas eu não disse. Porque eu não queria. Porque, naquele momento, eu precisava dele mais do que precisava respirar. Ele me ergueu pela cintura, como se eu não pesasse nada, e me colocou sentada sobre a bancada de madeira da varanda. Seu corpo se encaixou entre minhas pernas com uma precisão absurda. Mãos grandes e quentes subiram pelas minhas coxas, e eu me arqueei ao sentir os dedos roçarem minha pele por baixo do vestido leve. — Você tem ideia do que tá fazendo comigo? — ele sussurrou no meu ouvido, e a voz dele vibrava direto no meu ventre. — Se for o mesmo que você tá fazendo comigo... então sim — respondi, ofegante. A noite se dissolveu em beijos, toques e promessas não ditas. Cada gemido contido, cada mordida no lábio, cada olhar carregado de desejo era mais revelador do que qualquer palavra. Não fizemos amor. Fizemos combustão. E, quando ele me levou no colo até o quarto vazio ao lado do meu, quando deitamos juntos sem dizer nada, apenas respirando no mesmo ritmo... Foi ali que eu entendi: O perigo não era me envolver com Gabriel. O perigo era querer mais.