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9. O nome dela e o abismo dele

O nome "Sabrina Rossi", pronunciado pela voz anônima do locutor na gravação da audiência pública, ecoou no quarto alugado de Leonardo como uma sentença. Rossi. A filha de Lorenzo Rossi. A herdeira do império bancário que ele fora incumbido de violar. A jovem do jardim, a aparição assustada na Confeitaria Imperial, aquela cujos olhos carregavam uma tristeza que ele reconhecera como um espelho da sua própria – era ela.

Um turbilhão de emoções contraditórias o assaltou. A ironia cruel do destino era quase cômica em sua perversidade. Ele, Leonardo Bellini, neto de um homem cuja vida e legado foram destruídos pela ganância de um Rossi e um Costello, agora estava encarregado de roubar essa mesma família Rossi, a mando do filho do outro traidor. E, no centro de tudo, Sabrina. Corajosa, idealista, enfrentando seus próprios Golias com uma teimosia que ele, relutantemente, admirava. E perigosamente ingênua sobre a verdadeira natureza das feras que ela cutucava.

Ele rebobinou a gravação, observando-a na tribuna da Câmara Municipal. A forma como ela defendia o Centro Comunitário Novo Amanhã, a paixão em sua voz ao denunciar as irregularidades da Progresso Empreendimentos, a maneira como enfrentava o olhar venenoso de Arnaldo Bastos e do vereador Afonso Guedes. Havia uma força nela, uma integridade que o desarmava. E agora, saber quem ela era, tornava sua missão não apenas perigosa, mas moralmente torturante. Como poderia ele, que buscava justiça para sua própria família, ser o instrumento da potencial ruína da dela, mesmo que o avô dela tivesse sido um dos algozes de seu avô? A vingança, antes um fogo frio e puro em seu peito, agora se sentia contaminada, confusa.

E o perigo. Ele vira o tipo de gente que ela estava enfrentando. Bastos, o vereador Guedes… eles não eram do nível dos Costello, mas eram ratos famintos, capazes de crueldade para proteger seus esquemas lucrativos. O aviso que ele lhe dera na confeitaria – "Tome mais cuidado" – agora parecia uma premonição sombria.

Enquanto Leonardo lutava com essa revelação devastadora, Sabrina enfrentava as consequências diretas de sua bravura. Lorenzo Rossi estava apoplético. A audiência pública, que deveria ser uma demonstração de civilidade e debate democrático, transformara-se, aos olhos dele, num palco para a "insubordinação irresponsável" de sua filha. "Você tem ideia do que fez, Sabrina?" ele gritou, assim que ela e Eleonora retornaram à mansão, a tensão da noite anterior ainda pairando como uma nuvem de tempestade. "Você não apenas desobedeceu minhas ordens expressas, mas manchou o nome da nossa família, nos associando a uma… uma briga de rua com especuladores imobiliários e políticos corruptos!" "E o que o senhor queria que eu fizesse, papai?" Sabrina retrucou, a voz cansada, mas firme. "Que eu ficasse em silêncio enquanto eles destroem uma comunidade? Enquanto roubam o futuro daquelas crianças?" "Seu futuro é o que me preocupa!" Lorenzo rebateu, o rosto vermelho. "Essas pessoas são perigosas! Você já foi seguida, ameaçada! O que mais precisa acontecer para você entender?" "Eu entendo o perigo, papai," ela disse, mais suavemente. "Mas não posso recuar. Não agora."

A discussão se arrastou, amarga e infrutífera. No final, Lorenzo impôs um novo regime de terror doméstico: Sabrina estava proibida de sair da mansão sem sua permissão expressa e sem a companhia de dois seguranças. Seu acesso à internet e ao telefone seria ainda mais restrito. E qualquer menção ao Centro Comunitário Novo Amanhã ou à Progresso Empreendimentos estava terminantemente proibida. Eleonora, o coração partido pela briga e pelo sofrimento da filha, tentou argumentar com o marido, mas Lorenzo estava irredutível, o medo pela segurança da filha e pela reputação da família transformando-o num tirano.

Isolada, mas não quebrada, Sabrina contatou Beatriz através de seu laptop seguro. A amiga hacker estava exultante com a repercussão da fala de Sabrina. "Você foi incrível, S.! Está em todos os blogs independentes, alguns jornais até mencionaram de passagem! Bastos e o vereador Guedes estão furiosos, tentando controlar os danos." "Mas e agora, Bia?" Sabrina perguntou, a voz baixa. "Estou presa. Meu pai me colocou numa gaiola." "Gaiolas foram feitas para serem abertas, S.," Beatriz respondeu, com um sorriso confiante. "A Progresso Empreendimentos deu uma coletiva de imprensa patética hoje cedo, te chamando de 'jovem desinformada e manipulada por interesses escusos'. E ameaçaram processar qualquer um que 'difame a reputação ilibada da empresa'." Ela fez uma pausa. "Mas eu encontrei algo. Um novo fio. Parece que a Progresso está usando táticas de intimidação bem mais diretas contra os moradores do Novo Amanhã. Cortes de água e luz 'acidentais', pichações ameaçadoras no centro comunitário durante a noite… Coisas que a polícia local convenientemente ignora."

Uma nova onda de fúria percorreu Sabrina. Eles estavam atacando diretamente a comunidade. "Precisamos ajudar, Bia. Precisamos de provas dessas intimidações."

No dia seguinte, Don Costello convocou Leonardo. O velho mafioso estava de bom humor, um acontecimento raro. "Parece que a cidade está agitada, Leonardo," ele disse, um sorriso felino nos lábios. "Políticos e empresários se engalfinhando em público. Ótimo para os negócios. Desvia a atenção do que realmente importa." Ele olhou para Leonardo. "E falando no que realmente importa… meu cofre. Algum progresso com as plantas do Banco Rossi?" Rocco, presente como sempre, soltou uma risadinha. "Ainda estamos esperando o 'arquiteto' nos apresentar sua obra-prima, Don." Leonardo sentiu o peso do olhar do Don. A imagem de Sabrina, sua coragem, sua luta, ainda estava viva em sua mente. E agora, ele sabia que o alvo de sua missão era o legado da família dela. O conflito interno era uma tortura. "Estou finalizando a análise das vulnerabilidades da rede, Don Costello," Leonardo mentiu, com a calma habitual. "Mas para obter as plantas físicas detalhadas e os esquemas do cofre principal, precisarei de uma abordagem mais… direta. Identifiquei um possível elo fraco na equipe de arquitetura do banco. Um jovem chamado Ricardo Alves. Talentoso, mas sobrecarregado, mal pago e, segundo minhas fontes, com um gosto por apostas que excede seus rendimentos." "Excelente," o Don sorriu. "Use-o. Faça o que for preciso. Mas seja rápido, Leonardo. O tempo é nosso inimigo."

Leonardo saiu da reunião com o estômago revirado. Usar Ricardo Alves, um jovem arquiteto provavelmente cheio de sonhos, como um peão em seu jogo sujo… era mais uma mancha em sua alma. Mas ele não tinha escolha. Ou tinha? A imagem de Sabrina, enfrentando seus próprios tubarões, voltava a assombrá-lo.

Ele iniciou a fase de aproximação de Ricardo Alves. Descobriu o bar que o rapaz frequentava, um lugar moderno e barulhento perto do distrito financeiro. Naquela noite, Leonardo estava lá, observando de longe, planejando seu "encontro acidental". Viu Ricardo entrar, o ar cansado, mas tentando manter uma fachada de normalidade.

Enquanto Leonardo se preparava para sua jogada, Sabrina, com a ajuda de Beatriz e de uma Eleonora cada vez mais preocupada e secretamente cúmplice, conseguia uma breve "liberação" de sua prisão. Com a desculpa de precisar de material para um "trabalho de arte beneficente", ela convenceu a mãe a levá-la a uma loja de artesanato próxima ao bairro de Vila Esperança. Era sua chance de ir ao Novo Amanhã, de ver com os próprios olhos as intimidações que Beatriz relatara, de tentar reunir alguma prova, mesmo que fosse apenas seu testemunho.

O Centro Comunitário estava um espectro de si mesmo. As pichações eram agressivas, as janelas quebradas, e Dona Lurdes, a líder comunitária, tinha os olhos fundos de preocupação e noites mal dormidas. "Eles estão tentando nos quebrar, menina Sabrina," ela disse, a voz embargada. "Cortaram nossa água ontem. Dizem que foi um 'vazamento'. Mas sabemos que é mentira." Sabrina sentiu o coração apertar. Aquilo era crueldade pura. Enquanto conversava com Dona Lurdes, tentando oferecer algum consolo e prometendo que não desistiria, viu um grupo de homens suspeitos rondando o centro, os mesmos tipos que a haviam atacado. Eles a encararam, um aviso silencioso e brutal.

O medo voltou, mas desta vez, veio acompanhado de uma fúria ainda maior. Ela não podia permitir que aquilo continuasse. Tirou discretamente o celular e, fingindo admirar o trabalho de artesanato das crianças, conseguiu filmar os homens, seus rostos, o carro em que estavam. Era arriscado, mas ela precisava de algo.

Ao sair do Novo Amanhã, o carro dos homens a seguiu por alguns quarteirões, uma presença ameaçadora em seu retrovisor, antes de desaparecer. Ela sabia que a mensagem fora clara: eles estavam observando. E não hesitariam em agir novamente.

Naquela noite, Leonardo, após um primeiro contato "casual" e aparentemente inofensivo com Ricardo Alves no bar – onde plantara a semente de uma "oportunidade de negócio" que poderia resolver os problemas financeiros do jovem arquiteto –, voltou para seu quarto. Estava exausto, mas sua mente não parava. A imagem de Sabrina, seu rosto determinado na gravação da audiência, misturava-se com a lembrança de seus olhos assustados no jardim, na confeitaria. E agora, ele sabia seu nome. Sabrina Rossi. Uma Rossi lutando contra a injustiça, enquanto ele, um Bellini, preparava-se para cometer uma injustiça contra a família dela. A ironia era um nó em sua garganta.

Ele olhou para o esboço que fizera do Banco Rossi, para as anotações sobre o cofre Bellini que ele ainda precisava encontrar. E, pela primeira vez em muito tempo, questionou o caminho que escolhera. A vingança, a justiça para seu avô… valeriam o preço de destruir a vida de uma inocente que, por uma cruel reviravolta do destino, parecia carregar a mesma chama de idealismo que ele pensara ter perdido para sempre?

A resposta, ele temia, poderia destruí-lo.

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