Serena foi entregue como moeda em um jogo de poder. Dante, herdeiro da máfia, recebeu uma esposa que não escolheu mas que vai desestruturar tudo oque ele jurou manter sob controle. Em uma casa onde segredos valem mais que a verdade, o silêncio pode ser mortal. E o desejo…. A ruína.
Ler maisNunca fui de negar um copo de whisky, muito menos uma mulher bonita. E naquela noite, ela tinha os dois: um vestido justo demais e um olhar faminto que me dizia tudo que eu precisava saber.
Só esqueci de perguntar uma coisa: De quem ela era. O marido apareceu com a sutileza de um furacão. Baixinho, esquentado, sangue napolitano fervendo. Veio pra cima de mim como se tivesse chance. Dei dois passos, falei pra ele pensar melhor. Ele não pensou. O primeiro soco foi dele. Os cinco seguintes, meus. Quando os seguranças nos separaram, eu já estava com sangue na camisa e a porra de um sorriso no rosto. Essa era minha vida: bebida cara, brigas estupidas e mulheres que não lembravam como tinha voltado pra casa — o que, em casos como o meu, era um sinal de que a noite tinha sido boa demais ou pessima demais. As duas provavelmente. — DANTE! A voz do velho explodiu no andar de baixo. Suspirei fundo. Hora da sessão de gritos. Desci com a ressaca colada nas costas. Meu pai estava de pé no meio do salão, terno escuro, olhos injetados de raiva e o jornal tremendo nas mãos. Na capa: “O filho do Don envolvido em novo escândalo sexual e agressão em bar nobre em Nápoles.” — Você é um verme. — Ele cuspiu as palavras.— Um lixo mimado. Um desgracado que acha que carrega esse nome para brincar de cafajeste. — Bom dia para você também, pai.— resmunguei, jogando o corpo no sofá. — Você acha isso uma piada? — Eu acho que se ela fosse casada de verdade, não teria sussurrado meu nome daquele jeito. Ele jogou o jornal na mesa com tanta força que a xícara da minha mãe tremeu na bandeja. — Acabou. Você vai se casar. O riso escapou antes que eu pudesse impedir. — Tá brincando. — Eu nunca brinco, Dante. Ainda mais quando a honra da nossa família está em jogo. A mídia quer ver a gente sangrar. E você vai calar cada boca com uma aliança no dedo. — Com quem? — perguntei entediado. — Com uma garota do convento. Por um segundo, achei que tinha ouvido errado. Mas o olhar do velho dizia tudo: ele estava falando sério. Travei o maxilar. — Você enlouqueceu? — Não, Dante. Eu finalmente estou colocando um freio na sua loucura. E dessa vez, não tem discussão. Fechei as mãos em punhos. Eu sabia o que acontecia naquele convento. Sabia de onde vinham aquelas meninas, sabia dos acordos, dos contratos, das histórias todas borradas de tragédia. Eu sempre soube. Mas casar com uma delas? Era isso que eu valia agora? — Eu não vou fazer isso. — Vai sim. Porque ou você sobe ao altar… ou eu destruo oque sobrou da sua liberdade. A sala ficou em silêncio. Só o som da minha respiração pesada e o gosto de ferro subindo pela garganta. E foi assim que, sem escolha e sem o mínimo de interesse eu fui condenado a um casamento. Com uma desconhecida. De um lugar que eu sempre preferi manter enterrado.Atravessamos mais alguns corredores ate que Luca parou diante de uma porta branca, ornamentada, como tudo naquela casa.— E aqui. — -disse, batendo de leve antes de empurrar a maçaneta. -- Mamma?A mulher que apareceu diante de nos tinha uma presença serena e elegante. Diferente do resto da casa, que parecia sufocar, ela exalava calma.Cabelos escuros presos num coque baixo, olhar doce... E uma postura que não deixava a duvidar: era a matriarca dos Bellanti.— Luca... — ela suspirou, cruzando os braços.— Eu ia atrás dela. Estávamos esperando a Serena. — virou-se para mim com um sorriso gentil. -- Me desculpe por não ter ido procura-la antes, querida. Com tanta movimentação na festa, me perdi no tempo.— Não se desculpar, senhora Bellanti... — comecei um pouco sem jeito.— Nada de ´senhora Bellanti´. Me chame de Donatella. Ou, se preferir... Só Mamma, como os outros.Sorri, emocionada. Aquela mulher era o oposto de tudo que eu esperava encontrar ali.— Vem, vamos pro meu quarto. Você d
Assim que ouvi a porta do closet se fechar atrás dele, senti o nó na garganta apertar de novo. Meus olhos correram pelo quarto imenso, vazio, e só então percebi… minhas coisas não estavam ali.Nenhuma mala. Nenhuma bolsa.Tudo que eu tinha era o vestido de noiva sufocando minha pele, colado no corpo com o peso do dia do casamento forçado, dos olhares julgadores, da distancia dele, de tudo.Suspirei. Não dava pra dormir com aquilo, nem fisicamente, nem emocionalmente.Pensei em bater na porta do closet. Em pedir uma camiseta, qualquer coisa. Mas aí a lembrança do olhar dele me invadiu: gelado, indiferente, cheio de uma raiva que eu nem sabia de onde vinha. Ele não me conhecia. Não sabia uma linha da minha história, mas já tinha decidido que não queria sequer encostar em mim.E talvez isso fosse pior. Não era desprezo. Era a sentença.Ele impôs um limite sem ao menos tentar.Respirei fundo. “ Pelo menos a irmã dele foi gentil”, pensei, tentando agarrar o mínimo de conforto naquela casa
A noite parecia mais longa do que deveria.Saímos da festa sem alarde, como se aquilo tudo não tivesse passado de uma formalidade entre duas famílias. Dante mal me olhou desde a troca das alianças. Dirigiu em silêncio, com as mãos firmes no volante e o maxilar travado como se cada segundo ao meu lado fosse um incômodo.— Vamos dormir na casa principal. Amanhã cedo vamos para a casa de campo. — ele avisou, sem desviar os olhos da estrada. A voz firme e seca.Assenti apenas, encolhendo os ombros. Ele não esperava respostas, nem se importava com elas.Talvez estivesse nervoso. Talvez… arrependido.A viagem foi curta. Curta e silenciosa. Eu observava as luzes da cidade ficando para trás e, por dentro, tentava entender onde me encaixava naquela história toda.Quando chegamos, a casa parecia ser tirada de um sonho antigo. Um casarão a beira mar, de janelas enormes e luzes quentes iluminando cada detalhe. Fiquei sem ar por um instante. Era tudo… grandioso demais.Assim que descemos do carro,
A música clássica ainda ecoava pelas paredes de pedra, suave como uma despedida. As luzes do salão já estavam mas baixas, dançando em tons de dourados sobre as taças esquecidas e arranjos impecáveis. Os poucos convidados restantes se dispersaram em sussurros como se o próprio constrangimento pairasse no ar.Eu só queria um maldito copo de whisky.Algo que queimasse forte o suficiente para me fazer esquecer que havia um anel no meu dedo esquerdo e uma garota de olhos puros esperando por mim na ala leste da mansão.Me afastei até o bar. Peguei o primeiro copo que vi, virei a dose como se fosse água.Nem precisei olhar.— Belo casamento, irmão. — Giuliana anunciou, com a língua mergulhada em sarcasmo. — Um espetáculo silencioso de constrangimento. Quase poético.Virei devagar. Minha irmã estava impecável, como sempre. — vestido preto colado ao corpo esguio, decote elegante, cabelos castanhos brilhando sob a luz. Tão sofisticado quanto venenosa.Não era ela que me fazia perder o fôlego.A
Nápoles- Igreja de Santa ConcezioneEles diziam que o casamento era o dia mais importante da vida de um homem.Talvez para um homem comum.Para mim, era só mais uma humilhação, um teatro bem ensaiado, onde o figurino me apertava, o altar me sufocava, e todos os rostos ao meu redor fingiam respeito, quando na verdade, mal conseguiam disfarçar o escárnio.O salão da igreja era escuro, frio como mármore antigo, com vitrais altos e um altar adornado com velas. Os poucos convidados estavam em silêncio, tradição, sigilo, honra. Os três pilares do que chamam de união na máfia.Homens engravatados, mulheres em vestidos discretos, guardas armados disfarçados de seguranças do evento. E meu pai, sentado na primeira fileira, com aquele olhar de missão cumprida, como se finalmente tivesse conseguido me dobrar.Eu estava de pé no altar, os dedos trincando sob as mangas do terno. A cabeça ainda latejava da ressaca. Podia sentir o gosto do álcool misturado com desprezo na garganta. Meus irmãos estava
Convento — NápolesO cheiro de incenso ainda impregnava nos meus cabelos quando eu me ajoelhei diante do altar. As velas acesas lançavam sombras dançantes pelos vitrais da capela, e o silêncio era cortado apenas pelo eco das minhas preces sussurradas.— Senhor... Guia-me. Me da coragem.Minhas mãos tremiam entrelaçadas, os olhos ardiam. Eu já sabia que aquele era meu último amanhecer ali. E, mesmo que eu desejasse uma nova vida, meu coração doía de uma forma que eu não esperava.Logo depois das orações, fui direto para o berçário.A freira responsável pelas crianças me lançou um olhar compressivo e saiu sem dizer nada. Talvez fosse a forma dela de me dar um último momento a sós.Aproximei-me dos berços devagar, o som suave dos choros dos recém-nascidos preenchia o quarto abafado pelo calor.— Ei, shhhhh -- murmurei, pegando Pietro no colo, um dos meus preferidos. Tinha apenas três meses e sempre sorria quando eu o pegava. — - A tia Serena vai embora hoje, meu amor.Eu sabia que ele
Último capítulo