Convento Santa Giustina- Nápoles
Acordei como sempre, ao belo som do sino. Cinco horas da manhã. A brisa meio fria atravessava a fresta da janela, e mesmo assim, eu me sentia grata. Agradecida por mais um dia, por mais uma chance de fazer algo útil por mim e pelos outros ao logo do dia. Levantei, dobrei o cobertor com cuidado como de costume e vesti o hábito leve que usávamos durante as primeiras tarefas do dia. Não éramos freiras, ainda não, mas o respeito e as regras eram as mesmas. Fui uma das últimas meninas a completar dezoito anos aqui dentro. Agora, com vinte, me tornei uma das mais velhas. Isso significa mais responsabilidades e também mais confiança da madre. Cuidar dos recém-nascidos era meu trabalho favorito. Havia algo de milagroso naquele ser indefeso e pequeno, naquela pele frágil e quente. Quando eu os segurava, era como se o mundo parasse. Como se, por alguns minutos, tudo oque eu não tive, deixasse de doer. Enquanto eu trocava as fraldas de um dos bebês, ouvi passos de aproximando. — Serena, a madre quer vê-la. Agora. — Sim senhora. Meu coração acelerou. Não era comum ser chamada no meio do dia. As visitas ao escritório da madre eram marcadas com antecedência… ou quando havia alguma emergência. Limpei as mãos, ajeitei a touca no cabelo, criei coragem e fui. A madre estava sentada, de mãos entrelaçadas sob a mesa, como sempre. Mas havia um brilho estranho em seus olhos — quase emoção e esperança . — Serena… sente-se. Obedeci, o estômago embrulhando de nervosismo e ansiedade. — Hoje você vai receber uma nova missão. Mas, dessa vez ela não será aqui. Franzi o cenho confusa e curiosa com a minha nova missão. — Como assim? Ela sorriu, serena e calma como o nome que me deram. — Você foi escolhida, minha filha. Entre todas as meninas… Eu escolhi você para ser esposa de um herdeiro. Uma família influente e tradicional quer uma jovem pura, educada, submissa e dedicada. E eu sei que você será tudo isso. E mais, sei que será uma excelente esposa. Eu pisquei, tentando absorver oque ela dizia, já que não parecia ser real. Esposa….? De um herdeiro…? Uma família? Uma casa? Uma nova vida? Meu peito se encheu de algo que eu nunca havia sentido antes: esperança e por incrível que pareça eu estava mais feliz que nunca por saber que eu teria uma nova vida, Pela primeira vez, alguém queria me levar dali. Não como criada, não como funcionária, mas como parte da família, como alguém que importava. — Isso é real? — sussurrei. A madre tocou minha mão. — E mais do que real. E sei novo destino. E ele começa amanhã. Sai dali flutuando. Minha cabeça girava, meus pés mal tocavam o chão. Eu teria uma casa, um noivo, uma rotina fora daqueles muros que me cercam por tantos e tantos anos. Talvez… talvez eu finalmente pertencesse a algum lugar. Mal sabia eu que, as vezes, os piores castelos… são feitos de ouro.