O momento em que tudo quebrou

Uma noite como nenhuma outra... Foi o que Ayla pensou ao estar nos braços do homem mais másculo, forte e imponente que já havia visto. O toque dele ainda ardia em sua pele como fogo recém-apagado.

Ayla acordou devagar, o corpo deliciosamente dolorido, aninhada no peito quente de Felipe. A luz suave do amanhecer entrava pelas janelas enormes, pintando o quarto de tons dourados. Ela ouvia o coração dele bater firme sob seu ouvido, o braço dele ainda envolvendo sua cintura de forma possessiva mesmo no sono. Um sorriso bobo surgiu em seus lábios. Foi real. Tudo aquilo foi real.

O momento durou poucos segundos.

O celular dela vibrou insistentemente na mesinha de cabeceira. Ayla esticou o braço com cuidado para não acordá-lo, pegando o aparelho. Era uma ligação do hospital onde começaria a trabalhar em breve, um colega paramédico que conhecia sua mãe.

— Alô? — sussurrou ela, sentando-se na cama e puxando o lençol para cobrir o corpo nu.

— Ayla, desculpa ligar tão cedo, mas... sua mãe teve um infarto. Ela está estável agora, na UTI do Hospital Estadual. Você precisa vir.

O mundo parou.

Ayla sentiu o sangue sumir do rosto. As mãos tremiam tanto que quase deixou o celular cair.

— Eu... eu estou indo. Agora.

Ela desligou, o coração disparado de pavor. Olhou para Felipe, ainda dormindo profundamente, o rosto relaxado de um jeito que o fazia parecer mais jovem, menos perigoso. Queria acordá-lo. Queria explicar. Dizer que precisava ir, que voltaria, que aquela noite foi tudo para ela. Mas sua mãe... era tudo o que tinha. A única família. Não havia tempo para explicações.

Com lágrimas nos olhos, Ayla se vestiu o mais rápido e silenciosamente que pôde. O vestido preto da noite anterior parecia deslocado à luz do dia. Ela deu uma última olhada para ele, o homem que mudou tudo em poucas horas e saiu do apartamento na ponta dos pés, fechando a porta com um clique suave.

No táxi rumo ao hospital, chorou baixinho, o desespero misturado com culpa. Desculpa, Felipe. Desculpa. Queria que ele pudesse ouvir seus lamentos.

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Os dias seguintes foram um borrão de dor e exaustão. Ayla praticamente morou no hospital. O infarto da mãe foi grave, mas ela se recuperava lentamente. Ayla.

Naquele dia era mais um fim de plantão. Ayla estava pela décima vez no banheiro sentindo-se mal. Luna saia no mesmo momento e mais uma vez estava ali para ampará-la. Fazia dias que enjoos e tonturas a acometiam e isso estava se tornando cada vez mais corriqueiro, principalmente pela manhã.

— Amiga, hoje você parece pior do que nos outros dias, já foi ver isso?

— É o cansaço. Essa rotina está acabando comigo — falou quando acabara de colocar o que não comeu para fora. Depois saiu da cabine, indo direto para pia.

Luna coçou a cabeça observando a expressão pálida de Ayla. Aquilo ia além do cansaço.

— Ayla, não por nada não, mas... — hesitou em perguntar. — Será que você não está grávida? Ninguém fica enjoada de cansaço. — Arqueou uma sobrancelha.

Ayla que estava lavando o rosto na pia riu. Parou tudo para gargalhar com a amiga.

— Luna, não diga besteira. Grávida de quem? Minha vida tem sido esse hospital, esses pacientes.

— Tá. Eu sei, mas e a menstruação, está em dia certo?

A pergunta dançou por tempo demais na cabeça de Ayla, fizera uma conta mental rápida. Depois negou com a cabeça.

— Não, não pode ser. O estresse altera os hormônios, vimos isso nas aulas.

Luna esqueceu por hora o assunta, mas a semente da dúvida havia ficado em Ayla. Marcaria uma consulta apenas para não pensar mais e ao mesmo tempo silenciar a insistência da amiga.

No dia seguinte uma única frase de felicitação mudou toda sua vida.

O médico virara mais uma folha do exame que acabara de sair do laboratório direto para suas mãos.

Ayla na cadeira à sua frente estava apreensiva.

— Você não está doente... — O médico fez uma pausa longa demais para o gosto dela. — Parabéns, você está grávida de quatro semanas!

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